“Obrigado, génio!” De Tóquio a Nova Iorque, a imprensa internacional prestou segunda-feira a homenagem ao ator francês Alain Delon, sem esconder o caráter por vezes controverso das opiniões daquele que foi “o homem mais bonito da história do cinema”.
“Grande ator e grande reacionário”, resume o diário italiano La Repubblica sobre uma personagem ambivalente, aclamada tanto pelo seu talento no ecrã como pelo seu físico, mas também criticado pelas suas posições sobre as mulheres ou a homossexualidade.
A imprensa italiana – onde Alain Delon filmou extensivamente no início da sua carreira –, tal como o Il Corriere della Sera, no entanto, não deixa de elogiar o ator “belo e amaldiçoado”, uma estrela elevada à categoria de “lenda”.
“O seu sorriso como Tancrède em 'O Leopardo', ninguém o esqueceu”, diz o Il Corriere.
“Bonito e hipnótico, Alain Delon foi uma das estrelas mais misteriosas do cinema”, escreve Peter Bradshaw, o crítico do britânico The Guardian.
A imprensa alemã, por sua vez, está repleta de homenagens em francês no texto: “Obrigado, génio!” é a manchete do Merkur, diário regional de Munique; “Homem fatal”, sugere novamente o Frankfurter Allgemeine Zeitung.
“A aura do anjo belo da morte fez dele uma lenda do cinema. Ele e Romy Schneider formaram um casal de sonho, e não apenas no ecrã”, lembra o Süddeutsche Zeitung.
“Se tivéssemos que resumir a história do cinema em alguns momentos, o que sobraria? O Vagabundo de Chaplin, a atitude 'cool' de James Dean, o vestido alto de Marilyn Monroe, a cena do chuveiro de Hitchcock e, claro, Alain Delon em 'O Samourai'”, estima o Deutsche Bem.
No Japão, onde Alain Delon também era extremamente popular, o canal NHK News lembra que o ator era “idolatrado pelo charme e gestos nos seus filmes”.
“A sua imagem de ídolo e a personalidade à James Dean fizeram dele um dos atores mais aclamados do seu país”, segundo o Japan Times.
Do outro lado do Atlântico, o New York Times descreve um homem “intenso e intensamente bonito”, uma “estrela internacional” cortejada pelos maiores cineastas do seu tempo.
“O homem mais bonito da história do cinema”, resume a New Yorker.
Singularmente, mesmo no Irão, que geralmente critica a cultura ocidental, o seu retrato apareceu nas primeiras páginas de muitos jornais.
“O mundo perdeu o seu samurai”, destaca o diário reformista Hammihan sob uma grande fotografia do ator.
O jornal Shargh fala de um “ator que alcançou popularidade global muito antes de Leonardo DiCaprio e George Clooney” e que era “o símbolo do cavalheiro belo no Irão”.
Há meio século que Alain Delon é um dos atores estrangeiros mais populares do país, tanto que o seu nome é usado na linguagem quotidiana para designar um jovem bem vestido.
Lamentando a morte de uma “lenda do cinema francês”, a televisão estatal anunciou que irá exibir na segunda e terça-feira o filme “O Clã dos Sicilianos”, de 1969, onde contracenou com os seus ídolos Jean Gabin e Lino Ventura.
Último ato trágico
Na Suíça, o Le Temps lamenta a morte do “último grande mito do cinema francês”.
“Um indivíduo realmente duro com rosto de anjo, o ator irradiou a década de 1960 com o seu magnetismo antes de cultivar a sua glória através de uma série de 'thrillers' péssimos”, acrescenta.
O diário espanhol El Pais fala de um ator com “uma aura incomparável”, “um ícone do cinema europeu conhecido pelo seu talento e pelo seu poder de sedução”. Ao mesmo tempo, destaca, como outros meios de comunicação, as polémicas que o rodeavam: os seus comentários machistas, mas também a sua amizade declarada com a figura da extrema-direita francesa Jean-Marie Le Pen.
Por sua vez, a BBC, ao prestar homenagem a um ator que "fez bater o coração dos fãs em qualquer papel, desde o de assassino ao do bandido carismático", debruça-se sobre o desgosto da família Delon, "o último ato trágico" na vida do franco-suíço.
Alain Delon chegou às manchetes no verão de 2023, quando os seus filhos apresentaram uma queixa contra a sua assistente pessoal, Hiromi Rollin, por vezes descrita como a sua companheira, suspeitando de abuso de confiança e assédio moral. A seguir, entraram em contenda pelos cuidados médicos do ator, que estava muito debilitado desde um AVC em 2019.
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