Sem as mulheres e as atrizes, seja em questões de amor, amizade ou família, Alain Delon, falecido este domingo aos 88 anos, teria sido, segundo as suas próprias palavras, apenas "a sombra do ator e do homem" que foi.
"Nunca me passou pela cabeça ser ator. Entrei na profissão e continuei a representar por causa das mulheres e para as mulheres", afirmou aos 87 anos no prefácio de "Alain Delon: Amours et mémoires" ["Alain Delon, Amores e Memórias"].
A lista de nomes femininos nesse livro é longa: as atrizes Brigitte Auber, Romy Schneider, Nathalie Delon, mãe do seu filho mais velho, e Mireille Darc, assim como a mãe dos seus dois filhos mais jovens, a modelo Rosalie van Breemen.
Delon também partilhou sets de rodagem com Jane Fonda, Annie Girardot, Claudia Cardinale, Marie Laforêt, Jeanne Moreau, Simone Signoret e Catherine Deneuve.
No entanto, as feministas consideravam-no "racista, homofóbico e misógino", segundo o panfleto que circulou quando o ator recebeu a Palma de Ouro honorária no Festival de Cannes de 2019.
Bofetadas e paixão pela Virgem Maria
"Alguma vez eu disse que tinha esbofeteado uma mulher? Sim. E deveria ter acrescentado que recebi mais bofetadas do que dei. Na minha vida, nunca assediei uma mulher", defendeu-se Delon.
A primeira a quem rendeu homenagem foi a sua mãe, Edith, apelidada de Mounette, que o trouxe ao mundo em 1935.
Numa entrevista no final de 2018, ele também mencionou "uma paixão louca" pela Virgem Maria.
Na década de 1950, duas jovens foram fundamentais no seu caminho para o estrelato: a sua companheira Brigitte Auber apresentou-o à esposa do realizador Yves Allégret.
Michèle Cordoue foi sua amante. "Ela impôs-me ao seu marido, e ele deu-me o meu primeiro papel em 'Quand la femme s'en mêle' (1957)", recordava Delon.
Romance com Romy Schneider
Alain Delon viveu depois um romance apaixonado com uma jovem atriz nascida em Viena e que chegou à França para se livrar da etiqueta da trilogia de filmes "Sissi": Romy Schneider, que conheceu durante a rodagem de "Cristina" (1958).
No ano seguinte, ficaram noivos. Ele tinha 23 anos, ela 20. Durante cinco anos, foram amantes "terríveis" e "magníficos".
Em 1964, o ator deixou Romy para ficar com Francine Canovas (conhecida profissionalmente como Nathalie Delon), com quem se casou (o seu único casamento) e teve um filho, Anthony, nascido nesse mesmo ano.
Mas um vínculo indestrutível continuaria a unir Alain Delon a Romy Schneider: a atriz procurou-o, devastada, no dia em que teve que enterrar o seu filho de 14 anos, David, em 1981.
Quando ela morreu, um ano depois, Alain Delon escreveu-lhe: "Je t'aime, ma Puppelé" ["Amo-te, minha bonequinha"].
O ator, que preferia o termo "encantador" a "sedutor" porque "a sedução é feita de cálculos, ao contrário do charme", teve outras conquistas.
São conhecidas as suas relações com a cantora Dalida, com Maddly Bamy (futura companheira de Jacques Brel) e Nico, que tocava na banda Velvet Underground.
O filho de Nico, Ari Boulogne (nascido em 1962 e falecido em 2023), afirmou durante toda a sua vida ser filho de Delon. Uma paternidade que nunca foi reconhecida pelo ator.
Depois, Alain Delon partilhou sua vida com Mireille Darc, de 1968 a 1983.
"Ambos sofremos um verdadeiro fracasso, não pude ter filhos", confessou ela.
"Ela foi a mulher da minha vida" e, "sem ela, também poderia partir", disse Delon após a morte da sua ex-companheira em 2017.
Após um romance com a atriz Anne Parillaud, Delon viveu, desde o final da década de 1980 até 2001, com a holandesa Rosalie Van Breemen.
O casal teve dois filhos em 1990 e 1994, Anouchka (a sua favorita, muitas vezes descrita como a "mulher de sua vida") e Alain-Fabien.
Depois dos 80 anos, Alain Delon retirou-se para sua propriedade em Douchy (Loiret) juntamente com Hiromi Rollin, apresentada como a sua dama de companhia, mas que se descrevia como a sua companheira. Até que os filhos do ator a expulsaram no verão de 2023, acusando-a de maus-tratos.
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