
Um refúgio para escapar a um percurso acidentado: "Jeunes Mères" ["Jovens Mães", em tradução literal], que pode valer uma terceira Palma de Ouro, um recorde, para os irmãos Dardenne, acompanha cinco adolescentes que vivem numa maternidade enquanto tentam construir uma vida melhor para si e para os seus filhos.
Emocionalmente intenso, o filme, que será exibido no último dia do Festival de Cinema de Cannes na sexta-feira, a mesmo dia em que estreia comercialmente nas salas francesas.
Rejeitada pela família ao saber da gravidez, Naïma (Samia Hilmi) deixa a maternidade, pronta para embarcar na vida de mãe solteira da qual um dia teve vergonha. Julie (Elsa Houben) é uma ex-viciada em drogas. Jessica (Babette Verbeek) é abandonada por uma mãe a quem lhe aconteceu o mesmo na adolescência. Perla (Lucie Laruelle) e Ariane (Janaina Halloy Fokan), filhas de mulheres alcoólicas ou com problemas de saúde mental, também estão neste caminho.
"O filme contará como cada uma delas se liberta de um fardo, de um destino que, como todos os destinos, lhes foi imposto, e o caminho que devem percorrer para se libertar deste destino que as assombra desde a infância", resume o belga Jean-Pierre Dardenne à France-Presse.
O elo entre estas cinco jovens mães é uma maternidade, que acolhe mulheres sem recursos, visitada como parte de outro projeto de argumento da dupla belga, premiada em Cannes por "Rosetta" (1999) e "A Criança" (2005).
Libertarem-se da sua prisão

"Foi este lugar que nos fez decidir fazer este filme", lembra Jean-Pierre Dardenne.
"Quando digo o lugar, refiro-me também às jovens, às educadoras, à psicóloga, à diretora, que captaram o que ali acontecia, o que sentíamos. (...) Como se o lugar, estas pessoas, nos tivessem dito: contem as nossas histórias."
Histórias no plural, porque a longa-metragem, marcada pelo realismo característico de ambos os cineastas, não documenta o funcionamento de uma maternidade nem as mães adolescentes.
"São destinos individuais, (...) existe sempre uma história muito específica", retratada com propriedade por um quinteto de atrizes inexperientes, enfatiza Luc Dardenne. "O que nos interessou foi encontrar cinco pessoas a viver cinco experiências diferentes, mesmo que, obviamente, cada uma esteja ligado à relação com uma criança."
Na linha do cinema social, do qual os dois belgas estão entre os representantes mais ilustres, "Jeunes mères" explora "como pesa sobre cada pessoa a história social, a pobreza, o facto de já ter uma mãe que nos abandonou... e como lutar contra isso", continua Luc Dardenne.
Muitas vezes é doloroso, mas também é luminoso porque o que "realmente interessou" à dupla, acrescenta, foi "encontrar as cenas que permitiram que estas jovens se libertassem da prisão em que estavam".
Entre esperanças, percalços, sucessos e sacrifícios, o espectador experimenta a resiliência ao lado de Naïma, Julie, Jessica, Perla e Ariane.
"É, acima de tudo, uma história sensível", conclui o cineasta. "Foi isso que tentamos transmitir no ecrã."
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