O presidente francês Emmanuel Macron foi acusado esta quinta-feira (1) de se aliar a agressores sexuais.
Em causa estão declarações em que defendeu que o ícone do cinema Gérard Depardieu, que enfrenta várias acusações de violação e agressão sexual, está a ser alvo de “uma caçada humana”.
Depardieu, que fez mais de 200 filmes e séries de TV, foi acusado de violção em 2020 e de assédio sexual e agressão por mais de uma dúzia de mulheres.
Atualmente, enfrenta um novo escrutínio sobre comentários sexistas captados pelas câmaras durante uma viagem à Coreia do Norte em 2018, transmitidos pela primeira vez num documentário no principal canal público de televisão no início deste mês.
Questionado numa entrevista televisiva na quarta-feira se deveria ser retirada a Depardieu a Legião de Honra, o mais alto prémio da França, que recebeu há quase três décadas, Macron disse: "Nunca me verão a participar numa caça humana. Odeio esse tipo de coisa".
“A presunção de inocência faz parte dos nossos valores”, notou.
Macron disse ter “enorme admiração” por Depardieu, a quem chamou “um enorme ator”.
Mas o Generation.s Feministe, uma organização feminista, disse que os comentários de Macron eram “um insulto” a todas as mulheres que sofreram violência sexual, “em primeiro lugar àquelas que acusaram Depardieu”.
"Vergonhoso e desprezível"
Sandrine Rousseau, deputada do Partido Verde, classificou os comentários como "um insulto ao movimento que dá voz às vítimas de violência sexual".
“Emmanuel Macron escolheu o seu lado – o dos agressores”, disse ela na rede sociail X, antigo Twitter.
A porta-voz do Partido Verde, Sophie Bussiere, acusou Macron de ser “o principal promotor da cultura da violação”.
O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, também no X, disse que o combate à violência contra as mulheres deveria ter sido “uma das grandes causas” do segundo mandato do presidente.
Mas, diz Faure, “o presidente não acredita em nenhuma das coisas que declara, seja qual for o assunto”.
Anne-Cecile Mailfert, que dirige uma associação chamada Fundação das Mulheres, disse: “Um único 'tweet' não é suficiente para dizer o quão vergonhoso e desprezível isto é para as vítimas, e como isto está desfasado no tempo”.
Manuel Bompard, coordenador do partido de extrema-esquerda França Insubmissa, acusou Macron de “tentar transformar Gérard Depardieu numa vítima”, dizendo ao canal BFMTV que estava “muito chocado”.
O canal de televisão France 2 mostrou o ator na sua viagem à Coreia do Norte em 2018, fazendo repetidamente comentários sexuais explícitos na presença de uma intérprete e sexualizando uma menina a andar a cavalo.
"Não me orgulho"
O ex-presidente François Hollande disse ao canal France Inter na quinta-feira que “não estava orgulhoso de Gérard Depardieu” depois de ver as imagens.
Em outubro, a lenda do cinema rejeitou todas as acusações feitas contra ele.
E desde que o documentário foi transmitido, os seus familiares denunciaram o que dizem ser uma “conspiração sem precedentes” contra ele.
Na semana passada, a ministro da Cultura, Rima Abdul Malak, disse que o comportamento do ator envergonhou a França, notando que poderia ser destituído da Legião de Honra, que recebeu em 1996.
Mas na entrevista de quarta-feira, Macron disse que a ministra pode ter partilhado uma convicção pessoal.
“Às vezes, as pessoas deixam-se levar”, disse.
“Não tiramos a Legião de Honra de um artista com base numa reportagem de TV ou qualquer outra coisa, porque se começássemos a fazer isso, teríamos que tirar a Legião de Honra de muitos artistas", defendeu.
A Legião de Honra “não existe para impor padrões morais” ao destinatário, disse Macron.
Mas o jornal de tendência esquerdista Liberation disse que foi Macron quem "não só se expôs, mas também caiu na indecência" com as suas observações, em vez de simplesmente "procurar proteger-se atrás de uma presunção de inocência" em relação a Depardieu.
No fim de semana, um município belga retirou a Depardieu o título de cidadão honorário, vários dias após a província canadiana do Quebeque ter revogado a sua principal honra devido aos seus comentários "escandalosos" sobre as mulheres.
Em 2017, Macron retirou a Legião de Honra ao grande produtor de Hollywood Harvey Weinstein após uma série de acusações de assédio sexual e violação que o levariam mais tarde à prisão.
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