A caminho dos
Óscares 2021
É já uma tradição anual do SAPO Mag: cinco perguntas, sempre iguais, para um painel de especialistas. Quem vai ser o grande vencedor e quem são os inevitáveis ausentes, sem esquecer o impacto da pandemia na cerimónia deste ano e os méritos de uma lista de nomeados que tem a maior diversidade de sempre foram alguns dos temas lançados este ano. Os nossos convidados, todos ligados ao cinema pela profissão, não tiveram papas na língua e pouco ficou por discutir.
Mário Augusto, Rui Pedro Tendinha, Vítor Moura e Maria João Rosa, alguns dos jornalistas de cinema mais conhecidos do pequeno ecrã, fazem aqui as suas apostas, tal como Vicente Alves do Ó, argumentista e realizador de filmes como “Florbela”, “Al Berto” e “Amadeo” (com estreia para breve), e o argumentista Tiago R. Santos, de filmes como “Os Gatos Não Têm Vertigens” ou, em parceria com João Tordo e Hugo Gonçalves, da série “Até que a Vida nos Separe”, que está a preparar a sua estreia na realização de longas-metragens com “Revolta”. Todos têm sido testemunhas atentas das mudanças operadas em Hollywood ano após ano e deixam aqui o seu testemunho sobre edição deste ano da grande festa dos Óscares. Rui Pedro Tendinha, "chairman" do site www.cinetendinha.pt, vai ser também o cicerone do acompanhamento da emissão em direto da cerimónia dos Óscares na página de Instagram do SAPO, ao lado de Silvia Rizzo e com um grande elenco de convidados.
Quem vai ser o grande vencedor dos Óscares?
Mário Augusto: Gostava de fosse o “Mank”, é o meu favorito, muito embora o “Nomadland – Sobreviver na América” (outro grande filme) possa baralhar as contas e, como tem acontecido inúmeras vezes, a Academia possa dividir o mal pelas aldeias e dar a um deles o troféu de Melhor Filme e ao outro o de Melhor Realização. Continuo a apostar no David Fincher [“Mank”], não só pelo trabalho feito no filme, mas também pela resiliência em concretizar o projeto como o tinha pensado há mais de dez anos, com um argumento escrito pelo pai. É um filme que celebra o cinema, enquanto o “Nomadland” é um filme que revela a América de hoje. Cada um, à sua maneira, cumpre a sua função artística.
Vítor Moura: Salvo uma enorme surpresa, o incrível “road movie” sobre os novos nómadas da América que é “Nomadland” deverá arrecadar o Óscar de Melhor Filme; assim indicam todos os outros prémios do ano há várias semanas. Se Chloé Zhao não ganhar o Óscar de Melhor Realização, tornando-se na segunda mulher [após Kathryn Bigelow por "Estado de Guerra" em 2009] e na primeira asiática a consegui-lo, também será surpreendente porque talento, mérito e “buzz” não lhe faltam. A Academia de Hollywood já fez história nesta edição ao nomear, pela primeira vez, duas realizadoras (a outra é a britânica Emerald Fennell com o provocador “Uma Miúda com Potencial”), criando uma oportunidade para contrariar o desprezo crónico que sempre demonstrou pelo talento feminino. Se porventura desperdiçar essa oportunidade, preferindo consagrar a realização de um dos três homens nomeados, poderá ser acusada de reforçar a tendência e logo no melhor ano de sempre para as realizadoras de Cinema (só para os prémios Bafta da Academia Britânica, quatro dos seis nomeados eram mulheres).
Vicente Alves do Ó: Penso que o grande vencedor dos Óscares será o filme “Nomadland”. É um grande filme, impregnado daquilo a que se chama "l´air du temps" e que nos devolve uma América que se questiona em grande escala, numa época de tão grandes clivagens. Mas se é verdade que uma temática não faz um grande filme, a visão da realizadora pode fazer essa diferença e aqui temos um trabalho superlativo.
Tiago R. Santos: Antes de mais, começar por admitir que não tenho estado tão atento à temporada dos prémios como em anos anteriores. O encerramento dos cinemas, ter deixado de escrever crítica de cinema para a Sábado e o facto de agora ter uma filha com pouco mais de um ano que percorre o soalho cá de casa com a velocidade e a convicção de uma pessoa que está muito muito atrasada para alguma coisa, levaram a um deprimente desleixo da minha parte no que diz respeito ao “zeitgeist” cinematográfico deste ano pandémico. Mas, no entanto, tenho visto algumas coisas. E parece-me bem provável que “Nomadland” seja o grande vencedor – imagino que o Óscar de realização (Chloé Zhao, mesmo se prefiro “The Rider”, o seu filme anterior) e o da melhor interpretação feminina para Frances McDormand sejam quase certos. De resto, tenho a sensação que vai ser aquela diplomática divisão de honras, com destaque para o Óscar póstumo a Chadwick Boseman [por "Ma Rainey: A Mãe dos Blues"] como homenagem a um belo ator que morreu tão cedo.
Rui Pedro Tendinha: Vai ser a Chloé Zhao e o seu “Nomadland”, filme que cruza sabiamente uma ideia de cinema do real com narrativa não clássica. Uma vitória que desde Veneza e Toronto se tornou evidente num ano em que a Fox fez bem o seu lóbi e onde os potenciais grandes rivais foram empurrados para a cerimónia de 2022.
Maria João Rosa: A Netflix. Ou melhor, o streaming em geral. Num ano ímpar para o mundo e também para o cinema, a tendência dos últimos anos tornou-se uma avalanche. Com salas fechadas, não houve recordes de bilheteira, "premières" ou passadeiras vermelhas. Com o público fechado em casa, o streaming deu o golpe de misericórdia a uma forma já moribunda de pensar a Sétima Arte. Mesmo filmes que não foram produzidos para plataformas acabaram por ter de recorrer a elas para chegar ao público. Foi o caso de “Nomadland”, a cobaia da Disney para experimentar a distribuição simultânea em salas de cinema e plataformas de streaming (Searchlight Pictures/Hulu). E tudo indica que será “Nomadland” a arrecadar os prémios principais este ano, em particular os Óscares de Melhor Filme e Melhor Realização. Nos últimos anos, a Netflix tem galopado pelas nomeações dos maiores festivais e prémios do cinema. Filmes como “Roma” e “O Irlandês” já tinham tornado impossível à Academia negar a presença e a qualidade das suas produções. Mas a regra, que obrigava à estreia em salas de cinema para que um filme pudesse ser nomeado aos Óscares, teve de ser posta em suspenso no último ano, devido à pandemia. Tempos excecionais obrigam a abrir exceções, que é como quem diz precedentes. E tal como o mundo não voltará a ser o mesmo depois da pandemia, o cinema também não. Chamem-lhe evolução ou decadência. Isso agora é uma questão de opinião. O que é um facto é que a Netflix tem este ano 37 nomeações. Nunca teve tantas e todos os anos tem sempre mais. Só há dois estúdios na história do cinema que a ultrapassam em nomeações por ano: a Miramax em 2003 (40) e a United Artists em 1940 (45). Se isso não é uma vitória, não sei o que será.
Com as limitações e medidas impostas pela pandemia, que expectativas tens quanto à cerimónia deste ano, co-produzida por Steven Soderbergh?
Mário Augusto: Estou muito curioso sobre o que o Steven Soderbergh possa trazer de novo a cerimónia, que anda há uns anos a experimentar fórmulas de produção para tentar recapturar audiências que, como se sabe, andam a cair sempre. Os Óscares são, acima de tudo, um espetáculo de TV que celebra a industria do cinema e entretenimento, que está passar pelas sua maior revolução desde os anos 50.
Vítor Moura: Tenho a melhor das expectativas sobre a produção que está a ganhar forma há várias semanas. Já sabemos que a ideia base é apresentar a maior festa do Cinema como se de um filme se tratasse (nunca ninguém pensou nisto antes?). Também sabemos que haverá vários apresentadores em vez de um anfitrião (outra vez e tudo bem) e que Los Angeles será apenas uma das cidades onde vamos ver os nomeados em direto (quem estiver em Londres, Paris, Dublin ou Praga, por causa da diferença horária, terá de contrariar o apelo do sono). Como é que tudo isto se organiza sem falhas técnicas, respeitando as distâncias de segurança em todos os cenários e considerando o uso recomendável de máscaras, é uma incógnita, mas das boas. Apesar de todos os pesares da pandemia ou graças a eles, esta pode ser a Festa dos Óscares mais original de sempre, o que pode estancar a queda das audiências nos últimos anos ou até invertê-la. Se há quem saiba de Cinema e Televisão em Hollywood, é Steven Soderbergh. Ele lá saberá…
Vicente Alves do Ó: Confesso que as cerimónias me têm passado um pouco ao lado. Não sei se esta coisa em zoom funciona, porque o cinema requer esse lado da sala, do espetáculo, do público e uma coisa que fica demonstrado este ano é que não é só o facto do cinema ter ficado preso à televisão, é essa falta da comunhão em sala que nos leva a dar menos atenção aos prémios.
Tiago R. Santos: Poucas. Quase nenhumas. A própria Academia deve estar a pensar como é que se vai safar desta. Se eu fosse a Academia ou o Soberbergh (aqui está uma frase que não se escreve todos os dias), apostava na mesma lógica de quem planeia assaltar um banco: entrar decidido e sair antes que alguém perceba que as armas são de plástico e tudo aquilo é faz-de-conta. Mas que sirva, acima de tudo, para recordar aos espectadores que o cinema é parte integrante do nosso enriquecimento pessoal. A ideia de perdermos essa experiência comunitária - de estarmos juntos numa sala escura, encantados com aquelas magníficas sombras na tela – é devastadora. Que esta celebração de Hollywood e do cinema Americano nos relembre disso, agora que as salas estão por fim a reabrir.
Rui Pedro Tendinha: Soderbergh gosta de jogar com dificuldades. Creio que vai surpreender e que poderá ser uma cerimónia com um grau de sofisticação intrigante. Mais do que nunca, o lema do “Show Must Go On” [o espetáculo tem de continuar] tem aqui um forte teste. Mas também era bom o tom do espetáculo não renegar alguma solenidade. Vivemos tempos em que a pompa da festa tem de ser refreada. Prevejo ainda momentos de televisão nos quais vai passar um outro tipo de celebração: a da diversidade...
Maria João Rosa: A cerimónia deste ano pretende ser um passo em frente, relativamente às poucas experiências do último ano. Cerimónias com nomeados via zoom, em que tudo nos lembra uma videoconferência, com todas as imperfeições que isso acarreta, já não entusiasmam ninguém. Se a premissa de Soderbergh é produzir a cerimónia dos Óscares deste ano como se fosse um filme, só por ser um formato original já captou a minha curiosidade!
Qual o Óscar que querias mesmo ver entregue este ano?
Mário Augusto: Entrego todas as minha fichas no “Mank”, mas pode ser um derrotado, desde logo no número de Óscares a ganhar, porque é o mais nomeado. Com tanta diversidade na lista, vamos assistir a uma divisão entre categorias. Mas é para mim um dos melhores filmes do ano, sem dúvida, apesar da lista estar bem diversificada em géneros e tipo de produções.
Vítor Moura: O Óscar de Melhor Ator para Anthony Hopkins. A acontecer, será o segundo da carreira, depois do que ganhou em 1991 com “O Silêncio dos Inocentes”. Entretanto, foi nomeado [a seguir] outras quatro vezes, mas incrivelmente nunca ganhou. O papel de um pai em acelerado processo de demência garantiu-lhe novamente um lugar na lista da Academia. Com a humildade que sempre o caracterizou, já o ouvimos dizer que não teve de representar muito porque já é velho, tal como o personagem que interpreta e, não por acaso, também se chama Anthony. Mas só um ator com a experiência, a entrega e a verdade de Hopkins conseguiria a excelência que, aos 83 anos de idade e com 61 de carreira, demonstra em “O Pai”. A adaptação de uma peça de teatro com o mesmo nome está nomeada para seis Óscares (incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz Secundária com a não menos impressionante Olivia Colman).
Vicente Alves do Ó: Não tenho nenhum Óscar que faço questão de ver na cerimónia, mas ficarei muito feliz se o "Nomadland" levar as estatuetas de Melhor Filme e Realização.
Tiago R. Santos: Melhor Argumento Adaptado para “Borat, o Filme Seguinte: Entrega de Suborno Prodigioso a Regime Americano para Fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação do Cazaquistão”, escrito por Sasha Baron Cohen, Anthony Hines, Dan Swimer, Peter Baynham, Erica Rivinoja, Dan Mazer, Jena Friedman, Lee Kern e Nina Pedrad. Por algumas razões: porque estou curioso se o parágrafo acima cabe todo num único postal; porque é absurdo que um filme largamente improvisado e episódico seja nomeado pelo argumento; porque o Sacha Baron Cohen daria sempre um interessante discurso de agradecimento e porque seria mais uma oportunidade para humilhar o Rudy Giuliani, essa espécie sebosa de homem.
Rui Pedro Tendinha: Já que não posso torcer pelos "meus" Bill Murray, Delroy Lindo ou por “Mais Uma Rodada” nos Óscares principais, as minhas preces vão todas para “Minari”, mais do que um filme-sensação, uma obra que nos abre e escancara a alma. E, a bem da comédia, era também bonito a Maria Bakalova ser premiada [por "Borat, o Filme Seguinte"]. Nas atrizes, sou "team" Vanessa Kirby ["Pieces of a Woman"], enquanto nos secundários também faço claque pelo menos favorito, o Paul Raci ["Som do Metal"]. Mas desde que o “Soul - Uma Aventura com Alma” vença dois Óscares estarei sempre bem [Melhor Longa-Metragem de Animação e Banda Sonora]. E isso vai acontecer...
Maria João Rosa: Gosto muito da Carey Mulligan e acho que ela já merece um Óscar há muito tempo. Esta é só a sua segunda nomeação, desde “Uma Outra Educação” em 2009, e penso que tem sido uma atriz subestimada pela Academia nos últimos anos. Já era altura desta “Uma Miúda com Potencial” ver o seu talento reconhecido com um Óscar de Melhor Atriz.
Que filme não está nomeado e gostavas que estivesse?
Mário Augusto: Com esta novidade do “streaming”, vemos tantas coisas disponíveis e a lista está tão variada que os filmes que me seduziram mais ao longo do ano estão todos distribuídos por varias categorias. Haverá certamente algum que escapa nos Óscares principais, mas agora não me ocorre.
Vítor Moura: Como sempre, há muitas ausências nas nomeações, mas aquela que mais me surpreendeu foi a do genial Aaron Sorkin na “final call” para Melhor Realização. Se “Os 7 de Chicago” está na calha para seis Óscares (incluindo Melhor Filme e Melhor Ator Secundário com Sacha Baron Cohen), é porque a Academia de Hollywood gostou mesmo do drama inspirado numa história verídica da América do final dos anos 60. Ignorar a realização de Sorkin (e, já agora a de Florian Zeller em “O Pai”) é lembrar “Argo” em 2012 (ganhou o Óscar de Melhor Filme sem que Ben Affleck tivesse sido nomeado como realizador). Mas nem tudo está perdido para Sorkin, porque ainda pode levar a melhor no Argumento Original, precisamente a mesma categoria que lhe valeu o primeiro (e único) Óscar da carreira, em 2010, com “A Rede Social”.
Vicente Alves do Ó: Quem gostaria de ver nomeado? Tenho pena que o filme da Ana Rocha - o “Listen” - tenha encontrado tantos entraves palermas num grupo de regras que precisa urgentemente de revisão.
Tiago R. Santos: O “Mais Uma Rodada”, de Thomas Vinterberg, é um dos grandes filmes do ano e fica a sensação de que a Academia teve receio de o nomear para Melhor Filme porque corria o risco de vencer – considerando que o mesmo aconteceu com “Parasitas” no ano anterior, seriam dois títulos estrangeiros a ganhar consecutivamente a estatueta, o que seria um acontecimento muito pouco americano que poderia criar sérios problemas de autoestima a Hollywood. Mas fico ainda mais chateado por terem também deixado o Mads Mikkelsen de fora dos nomeados para Melhor Ator: não apenas porque seria tremendamente merecido e ele é um ator do caraças; também porque nos roubaram a oportunidade de ele recriar a magnífica dança final do filme em palco. É imperdoável.
Rui Pedro Tendinha: Obviamente, o do Spike, “Da 5 Bloods - Irmãos de Armas”, porventura o melhor filme político do ano.
Maria João Rosa: Neste ano atípico de pandemia, não tenho nenhum filme em mente, que gostasse que estivesse nomeado e não esteja já. Mas tenho pena que o Aaron Sorkin não tenha sido também nomeado para Melhor Realização por “Os 7 de Chicago”. O filme não só é o habitual espetáculo pirotécnico de diálogos e argumento que se espera de Sorkin, mas a realização foi das que mais me agradou no lote de filmes deste ano. Seria mais que justo.
Com duas mulheres na corrida ao Óscar de Melhor Realização e mais diversidade do que nunca espalhada pelos nomeados, é desta que a Academia se livra da polémica #OscarsSoWhite?
Mário Augusto: A Academia é sempre assustadiça quando é acusada de parcialidade... Todos os anos faz ajustes e contas estatísticas para ser politicamente correta. Não me lembro de tanta diversidade na lista de candidatos, mas isso também se deve ao fenómeno do “streaming”: nunca se produziu tanto como agora para cinema e TV (sejam filmes ou séries). Isso traz diversidade ao sistema e por isso a Academia também reflete essa tendência de diversidade... Mas é verdade que são sempre cuidadosos para não criarem polémicas e não perderem audiências tão preciosas para o evento.
Vítor Moura: Se é um acaso ou uma intenção, só a Academia poderá dizer. Mas o facto é que, pelo menos nas nomeações, esta edição dos Óscares já é histórica antes de acontecer. Feitas as contas, há 70 mulheres com 76 nomeações – um recorde. Só Chloé Zhao, com “Nomadland”, tem quatro (Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Montagem); outro recorde para uma mulher. Entre os atores e atrizes nomeados, nove em 20 não são brancos (nunca tinha acontecido). Ao conseguir a 4.ª nomeação da carreira, com “Ma Rainey: A Mãe dos Blues”, Viola Davis tornou-se na atriz negra mais nomeada de sempre. Outra novidade: “Judas e o Messias Negro” é o primeiro só com produtores negros que entra na corrida ao Óscar de Melhor Filme. Parece que o esforço dos últimos anos para tornar a Academia de Hollywood mais diversa e inclusiva está finalmente a dar resultado. Mas só no fim da festa vamos ficar a saber se os Óscares de 2021 serão mesmo #NotSoWhite.
Vicente Alves do Ó: Não acho que isto chegue para que acabem a expressão e as polémicas. Não basta que num ano se faça tudo. É só na continuidade. E esta é difícil porque isso implica várias coisas, a pior delas passarmos a ter prémios cada vez mais politizados e menos artísticos. Mas, como em tudo, haverá um período de transformação e ele está ainda no início.
Tiago R. Santos: Se houver continuidade, talvez. Mas tendo noção que foi um ano atípico, com o adiamento ou a suspensão de tantas estreias dos filmes dos estúdios – o que obrigou a Academia a olhar para projetos que de outra forma não teriam merecido a sua atenção (não por falta de valor, mas porque o olhar dos Óscares é viciado) -, é cedo para dizer. Acho que há uma revolução cultural e que a necessidade de diversidade criativa é um caminho que continua a ser percorrido. Ainda não lá chegaram.
Rui Pedro Tendinha: Sim, é desta. Isso já são sinais de uma nova vaga de gente que vota com outra consciência. A Chloé Zhao vai fazer História, mas há mais mulheres que podem vencer. Aposto na Pippa Ehrlich, a co-realizadora desse "crowd-pleaser" chamado “A Sabedoria do Polvo” [Netflix]. Mas, sinceramente, daqui a uns anos não vou concordar se se criar uma categoria suplementar para isolar nomeados de género não binário ou "transgender"... os Óscares não precisam disso.
Maria João Rosa: A Academia é uma instituição antiga, com todos os vícios da antiguidade. Mas com o rejuvenescimento que anda a acontecer desde 2018, com a adição de quase mil novos membros, mais novos e mais diversos, as coisas parecem estar realmente a mudar. As nomeações deste ano mostram não só grande diversidade nas pessoas, mas também nos filmes. E isso é fruto do espírito do tempo em que vivemos, com os movimentos #MeToo e Black Lives Matter a marcarem a agenda cultural. Por isso, pelo menos este ano, a polémica não será por aí. Mas se há coisa que 92 cerimónias já nos ensinaram, sobretudo nesta era em que o politicamente incorreto pode ser a morte do artista, haverá certamente novas polémicas em torno dos Óscares no futuro.
Para o dia 25 de abril o SAPO preparou uma cobertura especial dos Óscares, que começará logo na manhã de domingo com uma série de conteúdos de antevisão e prosseguirá pela madrugada dentro (de domingo para segunda-feira) com acompanhamento ao minuto, atualização de todos os vencedores e análise dos principais acontecimentos, da passadeira vermelha até à cerimónia. Tudo isto, numa área especial dedicada ao tema no SAPO Mag e em www.sapo.pt.
Paralelamente a este acompanhamento, o SAPO promoverá na sua página de Instagram, a partir das 22h00, uma emissão em direto conduzida pelo crítico de cinema Rui Pedro Tendinha (Cinetendinha) e pela atriz Sílvia Rizzo, por onde passarão uma série de figuras do showbiz para comentários durante a noite dos Óscares. Serão conversas divertidas, ligeiramente caóticas, totalmente cinéfilas, mas sempre com um humor orgânico.
Fique acordado connosco pela madrugada dentro.
Créditos das imagens, da esquerda para a direita: em cima, Rui Pedro Tendinha, Mário Augusto [foto: RTP], Maria João Rosa [foto: Inês Gomes Lourenço]; em baixo, Vicente Alves do Ó, Tiago R. Santos [José Pinto Ribeiro] e Vítor Moura –[foto: TVI].
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