Com quatro prémios em oito nomeações, incluindo o de Melhor Filme de 2023, "Mal Viver" foi o grande vencedor da 13.ª cerimónia dos Prémios Sophia, no domingo à noite no Casino Estoril, apresentada por Margarida Vila-Nova e Pedro Miguel Ribeiro.
Numa edição em que se celebrou “Cinema e Liberdade”, a propósito dos 50 anos da revolução de Abril, deram-se ‘vivas’ à diversidade do cinema português, que “é quase um milagre quotidiano”, como afirmou o ex-diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa, a quem foi entregue de surpresa o Prémio de Mérito e Excelência, apenas o terceiro na história dos Sophia.
Sintomático dessa diversidade, o outro grande vencedor dos prémios da Academia Portuguesa de Cinema foi o cinema de animação: além do Sophia para Melhor Curta-Metragem de Animação a "Sopa Fria", de Marta Monteiro, a vitalidade do género confirmou-se com os prémios do Argumento Adaptado para "Nayola", de José Miguel Ribeiro, e Banda Sonora e Canção para "Os Demónios do Meu Avô", de Nuno Beato.
Além de Melhor Filme, "Mal Viver" recebeu os Sophia para Melhor Realização (João Canijo), Atriz Secundária (Madalena Almeida) e Montagem.
Este é um drama de uma família, de várias gerações de mulheres, que gere um hotel; uma obra que se conjuga num díptico com a longa-metragem “Viver Mal”, ambas produzidas por Pedro Borges, da Midas Filmes. Ambos estreados no festival de Berlim em 2023, com Canijo a receber o Urso de Prata do Prémio do Júri por “Mal Viver”.
Com o realizador ausente da cerimónia por doença, os prémios foram recebidos pelo produtor, Pedro Borges, e pelas atrizes que entraram no filme, nomeadamente Cleia de Almeida, Anabela Moreira e Beatriz Batarda.
No agradecimento, Pedro Borges disse que "o Instituto do Cinema e do Audiovisual não está bem, precisa de ser reformado".
Para “Não sou nada – The Nothingness Club”, o filme de Edgar Pêra em torno dos heterónimos do poeta Fernando Pessoa, que liderava com 15 nomeações, houve apenas os prémios para Melhor Caracterização/Efeitos Especiais e Melhor Ator para Miguel Borges, cujo habitual comportamento imprevisível levou a um momento confrangedor do evento com mais de três horas, transmitido em diferido na RTP2: após declarações pouco coerentes, começou a esfregar o troféu no seu sexo, levando a realização a cortar-lhe o som e a mudar para planos da audiência embaraçada durante o longo minuto necessário para que abandonasse o palco.
“Great Yarmouth – Provisional Figures”, de Marco Martins, retrato da emigração portuguesa no Reino Unido, viu as 13 nomeações traduzirem-se também quatro prémios, para Beatriz Batarda (Melhor Atriz Principal), Romeu Runa (Ator Secundário), Direção de Fotografia e Som.
“Viva a liberdade, mas sejamos estoicos e façamos da casa da nossa democracia um exemplo para todas as casas do nosso país. Xenofobia, misoginia, transfobia, discurso do ódio, não, não pode, seu ignorante”, disse Romeu Runa no discurso de agradecimento.
“Amadeo”, de Vicente Alves do Ó, drama histórico sobre o pintor português Amadeo de Souza-Cardoso, venceu três Sophia nas categorias de Guarda-Roupa, Direção de Arte e Maquilhagem e Cabelos.
Carlos Conceição conquistou o prémio de Melhor Argumento Original para o filme “Nação Valente”.
O Sophia de Melhor Série ou Telefilme foi para a “Rabo de Peixe”, realizada por Augusto Fraga e Patrícia Sequeira, e produzida para a plataforma de streaming Netflix.
Joana Botelho venceu o Sophia de Melhor Curta-Metragem Documental com “Coney Island – As Primeiras Vezes”, Basil da Cunha venceu na categoria de curta-metragem de ficção, com “2720”, e “Viagem ao Sol”, de Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias, obteve o Sophia de Melhor Documentário.
Durante a cerimónia, a Academia Portuguesa de Cinema atribuiu ainda os Sophia de Carreira ao músico e compositor Luís Cília e ao realizador Rui Simões.
“Nós somos o cinema português, que é maravilhoso e lindo, seja onde for. Temos uma cinematografia de que nos devemos orgulhar”, afirmou Rui Simões no agradecimento do prémio.
O prémio Sophia Estudante foi para “Défilement” de Francisca Miranda, da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e a Academia anunciou ainda que os prémios Nico, de revelação, vão ser atribuídos à atriz Ulé Baldé e aos atores Rúben Simões e Salvador Gil.
Lista dos premiados
Melhor Filme
"Mal Viver"
Melhor Realização
João Canijo ("Mal Viver")
Melhor Ator Principal
Miguel Borges ("Não Sou Nada – The Nothingness Club")
Melhor Atriz Principal
Beatriz Batarda ("Great Yarmouth – Provisional Figures")
Melhor Ator Secundário
Romeu Runa ("Great Yarmouth – Provisional Figures")
Melhor Atriz Secundária
Madalena Almeida ("Mal Viver")
Melhor Documentário em Longa-Metragem
"Viagem ao Sol", de Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias
Melhor Série/Telefilme
"Rabo de Peixe"
Melhor Filme Europeu
(escolhido "por um colégio de críticos e jornalistas de cinema")
"Fechar os Olhos", de Víctor Erice
Melhor Argumento Original
"Nação Valente"
Melhor Argumento Adaptado
"Nayola"
Melhor Direção de Fotografia
"Great Yarmouth – Provisional Figures"
Melhor Som
"Great Yarmouth – Provisional Figures"
Melhor Montagem
"Mal Viver"
Melhor Direção de Arte
"Amadeo"
Melhor Guarda-Roupa
"Amadeo"
Melhor Caracterização/Efeitos Especiais
"Não Sou Nada – The Nothingness Club"
Melhor Maquilhagem e Cabelos
"Amadeo"
Melhor Banda Sonora Original
"Os Demónios do Meu Avô" (Manuel Riveiro e Gaiteiros de Lisboa)
Melhor Canção Original
"Caretos", de "Os Demónios do Meu Avô" (Letra: Possidónio Cachapa; Música: Carlos Guerreiro)
Melhor Curta-Metragem de Ficção
"2720", de Basil da Cunha
Melhor Curta-Metragem de Documentário
"Coney Island – As Primeiras Vezes", de Joana Botelho
Melhor Curta-Metragem de Animação
"Sopa Fria", de Marta Monteiro
Prémio Sophia Estudante
"Défilement", de Francisca Miranda (Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto)
Prémio Sophia Carreira
Luís Cília (compositor) e Rui Simões (realizador)
Prémio Sophia Mérito e Excelência
José Manuel Costa, ex-diretor da Cinemateca Portuguesa
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