"A família tem a grande tristeza de informar sobre a morte do cineasta Jacques Perrin, falecido na quinta-feira, 21 de abril, em Paris. Ele faleceu pacificamente", anunciou o seu filho Mathieu Simonet em comunicado enviado à AFP.

Nascido em Paris em 13 de julho de 1941, Perrin apareceu em mais de 70 filmes numa longa carreira que foi desde a década de 1950 até à atualidade.

Famoso tanto em casa no cinema francês e como no italiano, Perrin começou a sua carreira no cinema em 1958 com uma aparição não creditada em “Os Trapaceiros”, de Marcel Carné, antes do seu primeiro papel como protagonista ao lado de Claudia Cardinale em "A Rapariga da Mala", de Valerio Zurlini, em 1961.

Familiar para os cinéfilos pelos seus cabelos grisalhos e a voz suave, Perrin era frequentemente escolhido para ser militar, com destaque por "La 317ème section" em 1965, "Le Crabe-Tambour" em 1977 e "L'honneur d'un capitaine" em 1982 , todos realizados por Pierre Schoendoerffer.

Também entrou ao lado de Catherine Deneuve nos musicais de Jacques Demy "As Donzelas de Rochefort", de 1967, e "A Princesa com Pele de Burro", de 1970.

Jacques Perrin em "As Donzelas de Rochefort"

Entre os seus papéis posteriores mais conhecidos, destaca-se indiscutivelmente o do cineasta adulto Salvatore Di Vita, a refletir sobre a sua infância como "Totò" em Giancaldo, na Sicília, no vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro "Cinema Paraíso" (1988).

Para a história, fica a célebre cena final do filme, a do reencontro com os beijos censurados dos filmes (veja aqui na íntegra).

Philippe Noiret, Salvatore Cascio e Jacques Perrin na rodagem de "Cinema Paraíso".

Perrin também foi co-produtor de cerca de 15 filmes, incluindo os célebres "Z - A Orgia do Poder", de Costa-Gavras (1969), que ganhou os Óscares de Melhor Filme Estrangeiro e Montagem, e "Os Coristas" (2004), dirigido pelo seu sobrinho Christophe Barratier.

Este último foi um grande sucesso na França, com 8,6 milhões de espectadores.

Ecologista

"La 317ème section"

O último papel de Jacques Perrin, no 'thriller' ecologista "Goliath", lançado nos cinemas franceses em março, refletiu o seu profundo interesse pelo mundo natural.

Um ecologista empenhado, co-produziu vários documentários, incluindo "Le peuple singe" (1989), "Microcosmos: O Povo da Erva" (1996) e "Himalaya" (1999).

Mais tarde, também co-realizou "Aves Migratórias" (2001), um grande sucesso de bilheteira na Europa e nos EUA e nomeado ao Óscar, e "Oceanos" (2000), que ganhou o César de Melhor Documentário.

Nas reações à sua morte, o antigo presidente do Festival de Cannes Gilles Jacob recordou que "Jacques era charme puro. Teve sucesso em tudo o que tocou".

"Ele foi um dos mais subtis e interessantes produtores franceses", recordou o cineasta Costa-Gravas ao franceinfo, saudando a memória "de um homem de grande curiosidade e também de estrema bondade".

"Admirava o Jacques Perrin e depois tive a oportunidade de o filmar, o seu talento, a sua disponibilidade, a sua bondade fizeram com que depois da rodagem o admirasse ainda mais", partilhou nas redes sociais Xavier Beauvois, que o dirigiu no célebre "A Outra Face da Lei" (2005).

Os seus papéis como militar nos filmes de Schoendoerffer também lhe valeram homenagens das Forças Armadas francesas.

"A divisão 317 [uma referência a 'La 317ème section'] perdeu o seu líder. Os exércitos saúdam a memória de Jacques Perrin, uma figura emblemática do cinema francês a quem estávamos intimamente ligados", partilhou o chefe do Estado Maior do Exército francês, o general Thierry Burkhard.

A Legião Francesa também o saudou como "um grande nome do cinema, uma personalidade de grande humildade".