
Há uma nova família do crime no pequeno ecrã e é liderada por um casal de peso: Pierce Brosnan e Helen Mirren. A ajudá-la, como um sempre disponível "arranja-tudo", está Tom Hardy, na pele de um homem cuja lealdade ao clã Harrigan vai ser posta à prova na primeira temporada de "Terra de Bandidos" ("MobLand", no título original em inglês).
Criada pelo irlandês Ronan Bennett ("Top Boy", "The Day of the Jackal") e com créditos na realização e na produção executiva do britânico Guy Ritchie ("Snatch - Porcos e Diamantes", "The Gentlemen - Senhores do Crime"), a série estreada fora de portas no final de março, na plataforma Paramount+, acabou de chegar a Portugal esta segunda-feira, através da SkyShowtime. Os dois primeiros episódios já podem ser vistos, os seguintes estreiam-se nas próximas semanas, às segundas-feiras.

Mergulho no submundo londrino, "Terra de Bandidos" não perde tempo a mostrar ao quem vem, com um tiroteio logo nos minutos iniciais e ritmo acelerado com música dos Fontaines D.C. (no genérico) ou dos Prodigy (numa cena tensa numa discoteca) no primeiro episódio - Matt Bellamy, vocalista dos Muse, encarrega-se da banda sonora original ao lado de Ilan Eshkeri.
Em jogo está a disputa entre duas famílias pelo império do crime, acentuada por ações do mais jovem dos Harrigan, o impulsivo e privilegiado Eddie. Quem o encarna é Anson Boon, ator que já passou por séries como "The Defeated" ou "Pistol" (de Danny Boyle, sobre os Sex Pistols), com quem o SAPO Mag falou em Londres, em exclusivo nacional, após a cerimónia da estreia. À conversa juntou-se ainda Mandeep Dhillon, que interpreta Seraphina Harrigan, filha da personagem de Brosnan e enteada da de Mirren. O elenco inclui também nomes como Toby Jones, Paddy Considine, Joanne Froggatt, Lara Pulver, Jordi Mollà, Geoff Bell ou Jasmine Jobson.

SAPO Mag - Anson, interpretou há pouco tempo Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols e PiL, e agora está a interpretar Eddie, que também parece assumir-se como uma espécie de punk. Como foi fazer essa transição? E acha que ele é realmente um punk ou apenas um miúdo mimado?
Anson Boon - Pessoalmente, não vejo o Eddie como um punk, mas entendo o que quer dizer. Existem algumas semelhanças entre as personagens, no sentido de que ambas seriam muito divertidas numa saída à noite. Essa é a maior semelhança que vejo entre os dois. Diria que a grande diferença para mim, como ator, é o realizador com quem estou a trabalhar. E, obviamente, o meu Johnny Rotten foi dirigido por Danny Boyle, que era muito ligado ao tema, um grande fã dos Sex Pistols. E depois vir e interpretar este tipo de personagem, um gangster londrino com um realizador como Guy Ritchie, que é tão bom neste tipo de histórias, também me deixou muito motivado.
SAPO Mag - Mandeep, ainda não vimos muito de Seraphina no primeiro episódio. Mas ela tem uma dinâmica especial com a personagem de Helen Mirren. Pode-se dizer que também é uma espécie de rebelde na família?
Mandeep Dhillon - Pelo que vimos, ela definitivamente teve de se defender, isso é certo. Obviamente, ela não é bem-vinda pela personagem da Helen Mirren, pela Maeve, mas eu diria que ela é uma mulher durona. É uma chefe durona e uma lutadora.

SAPO Mag - Como é fazer parte de uma família que tem Pierce Rosane e Helen Mirren como patriarca e matriarca, respetivamente?
Anson Boon - É incrível. Adoro trabalhar com elencos grandes. Como ator, é muito divertido estar em cenas com muitos outros atores, porque me perco nisso. É muito mais fácil interagir com as pessoas, coisas assim. Esta é uma família bastante grande, a família Harrigan. E há muitas personagens diferentes e, como você disse, todas interpretados por atores incríveis. Ter Pierce e Helen a liderar esta família como os grandes chefes do negócio da família... eles estabeleceram um padrão, não é? Todos nós estávamos a tentar dar o nosso melhor a toda a hora, o que é muito bom.
Mandeep Dhillon - Sim, estabeleceram mesmo. São muito bons nisso, não são? É como se fosse real. E também sinto que nunca vi os dois nestes papéis antes. Sinto que toda a gente vai adorar. Adoro vê-los na rodagem. Mas também adorei vê-los na noite da estreia. A química entre eles é incrível.
SAPO Mag - Este enredo mistura crime e drama com a história familiar, a dinâmica familiar. O que diriam que traz de novo em comparação com outras histórias familiares televisivas que também envolvem crime?
Mandeep Dhillon - Bom, é o que disse antes, sobre eles estarem no topo. Não é algo que se vê com frequência.

Anson Boon - Sim. E são muito próximos. São uma família muito unida. Muitas vezes, noutras séries, vemos famílias muito bem-sucedidas ou envolvidas em negócios criminosos e coisas do género, em que ninguém se dá bem ou todos se odeiam o tempo todo, o que definitivamente não é o caso da família Harrigan. Eles são muito unidos. Obviamente, Seraphina tem uma rivalidade individual com a personagem da Helen Mirren, mas, fora isso, na maior parte do tempo, todos se dão muito bem como família e isso é algo que os une. É a sua maior força, não é? Eles usam isso a seu favor. A lealdade entre os membros da família, que considero algo bastante singular. Não creio que tenhamos visto muito disso no género policial, por isso, sim, acho interessante.
SAPO Mag - A tensão entre Seraphine e Maeve nota-se logo no primeiro episódio. É uma dinâmica que veremos ao longo de toda a série?
Mandeep Dhillon - Sim, nós enfrentamo-nos. E, na verdade, é interessante. A Seraphina consegue manter-se firme com qualquer pessoa. Ela não se incomoda com ninguém. E qualquer pessoa pode dizer que ela não se incomoda. Isso simplesmente não a afeta. Helen Mirren, na personagem da Maeve, é a única pessoa que consegue irritá-la, e ela nunca quer mostrar isso. E há uma jornada pela qual as duas passam, na verdade, em que normalmente a Seraphina nunca mostraria qualquer vulnerabilidade, mas acaba por ser obrigada a fazê-lo, de certa forma.
Anson Boon - Posso garantir, pois sei o que vai acontecer. A história da Seraphina e da Maeve é muito interessante, sim.
SAPO Mag - Guy Ritchie realizou os dois primeiros episódios e também é um dos produtores executivos. O que é que uma aposta como esta acrescenta ao seu universo de filmes e séries?
Anson Boon - Acho que é mais ou menos o que a Mandeep mencionou, é a perspetiva de estar no topo da hierarquia. Acho que se pensarmos em filmes dele, pensamos naqueles que tanto adoro, "Snatch - Porcos e Diamantes" ou "Um Mal Nunca Vem Só", são sobre os homens na rua, os homens que fazem o trabalho para os chefes. E esta série é sobre os chefes, as pessoas que conduzem Rolls-Royces, que talvez nem sempre sujem as mãos, mas que controlam toda a indústria do crime. Acho que é uma perspetiva interessante vermos as pessoas no topo do império.
Mandeep Dhillon - Sim. E as mulheres também. As mulheres são muito fortes e na verdade controlam tudo, o que é bastante divertido.

SAPO Mag - E esta série tem muitas personagens femininas: algumas vistas logo no primeiro episódio, outras que ainda vão aparecer, o que não é muito comum no universo de Guy Ritchie, normalmente dominado pelos homens.
Mandeep Dhillon - Vi a série "The Gentlemen: Senhores do Crime" e pensei: "Acho a Kaya Scodelario ótima neste papel". Ela estava incrível. Mas sim, tem razão.
Anson Boon - Isso é emocionante. Há muitas coisas excelentes. Há muitas personagens femininas excelentes.
Mandeep Dhillon - As mulheres da série são incríveis. Estou muito entusiasmada para que as mulheres vejam.
Anson Boon - Vi com a minha mãe, as minhas duas tias e a minha prima, e todas adoraram a personagem da Mandeep.
Mandeep Dhillon - A sério?
Anson Boon - Também adorei a personagem da Helen e as atrizes Lara Pulver e Joanne Froggatt. Tantas atrizes excelentes na nossa série. É uma saga do Guy Ritchie aprovada pelas mulheres, podemos dizer isso pela sua experiência na minha família.

SAPO Mag - E o que mais vos surpreendeu nas vossas personagens e no seu percurso ao longo da temporada?
Mandeep Dhillon - Gostaria de poder responder, mas não posso. Estaria a revelar coisas que não posso revelar. Desculpe.
Anson Boon - Não é necessariamente uma surpresa para mim, mas espero que as pessoas fiquem surpreendidas com os lugares por onde a minha personagem passa emocionalmente. Se só viram os episódios um e dois, vêem-no a fazer muitas coisas más, mas era importante para mim mostrar a razão por trás das ações dele. Como atores, queremos sempre encontrar luz e sombra na nossa personagem, para que não seja unidimensional. Por isso, sim, estou entusiasmado para que as pessoas vejam a jornada que o Eddie percorre.
SAPO Mag - Qual foi o aspeto mais desafiante de fazer parte de uma série como esta?
Mandeep Dhillon - Tive de passar por momentos muito difíceis. Sim, acho que foram muitos. E é louco porque o corpo não consegue distinguir entre a realidade e a ficção. Por isso, quando estamos a fazer algumas dessas cenas malucas que temos feito, fico exausta. Acho que é importante garantir que estou a cuidar de mim mesmo fora da série para poder fazer um bom trabalho.
Anson Boon - Eu também. Para mim, é igualmente difícil. O corpo precisa de muita preparação para isso. Provavelmente, fiz mais acrobacias nesta série do que em toda a minha carreira. Como eu disse, o Eddie faz muitas asneiras. E só no primeiro episódio, há uma grande sequência numa discoteca e você vemo-lo a subir a telhados, a saltar desses telhados, a correr... enfim, todo o tipo de coisas. E isso tem sido muito divertido. Esforcei-me de formas que nunca pensei que fosse capaz. Mas gostei de fazer as acrobacias.

SAPO Mag - Diriam que esta é uma história pode continuar noutras temporadas?
Anson Boon - Adoraríamos. Divertimo-nos imenso a fazer isto.
Mandeep Dhillon - Sim. Ainda não terminei.
SAPO Mag - Portanto, há aspetos que podemos esperar que sejam desenvolvidos noutras temporadas. Não é um enredo fechado.
Mandeep Dhillon - Definitivamente, não. Não acho que seja algo isolado. Acho que é apenas o início.
Anson Boon - Os Harrigans são uma família forte. Não é fácil mantê-los subjugados por muito tempo. Quando pensamos que outra família os derrotou, eles voltam.
Mandeep Dhillon - Eles vão voltar.
TRAILER DE "TERRA DE BANDIDOS":
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