A caminho dos
Óscares 2024
Esta sexta-feira, o cinema francês celebra a sua gala anual dos Prémios César, novamente atormentados por denúncias de violência sexual, desta vez de atrizes que eram menores quando foram alegadamente vítimas de realizadores abusadores.
A tempestade do movimento #MeToo não para de crescer na França e a nova onda de acusações é liderada pela atriz Judith Godrèche (51 anos), acompanhada por Isild Le Besco (41).
Ambas acusam os cineastas Benoît Jacquot e Jacques Doillon de terem exercido sobre elas um autêntico "domínio" psicológico há décadas, quando começavam no mundo do cinema.
Jacquot é um realizador com mais de 50 filmes e filmes para TV em seu nome, como "L'école de la chair" (1998), "Sade" (2000), "Adeus, Minha Rainha" (2012), "3 Corações" (2014), "Diário de Uma Criada de Quarto" (2015) e "Eva" (2018), disse que precisa estar “apaixonado” pelas suas atrizes para filmá-las.
Ele trabalhou com pesos pesados consagrados como Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, mas também com Virginie Ledoyen - conhecida internacionalmente pelo 'thriller' de 2000 "A Praia" - e Isild Le Besco quando era adolescente.
Godrèche tornou-se a sua parceira depois de filmar "Les Mendiants" ("Os Mendigos", em tradução literal) sob a sua direção em 1986. A jovem foi morar com ele aos 15 anos, sem que os seus pais alegadamente se opusessem. Ele tinha 39 anos (atualmente tem 77).
Esta relação foi vivida perante os olhos da opinião pública, durante seis anos, e em particular do cinema e da televisão franceses.
Godrèche agora denuncia o seu ex-companheiro por "violação" e por ser um "predador". Ele garante que tudo é falso e que foi ele quem caiu sob o seu "poder".
Godrèche também filmou sob as ordens de Jacques Doillon quando ainda era menor, como aconteceu anos depois no caso de Isild Le Besco.
Esta atriz também teve um breve relacionamento com Benoît Jacquot quando tinha 16 anos.
Jacquot, afirma Isild Le Besco, chamava-a de "gorda" e submeteu-a a um relacionamento abusivo e dominador.
Isild filmou "Sade" com Jacquot em 2000. Então, quando tinha 17 anos, alegadamente rejeitou as "investidas" do realizador Jacques Doillon, atualmente com 79 anos, aos quais ele alegadamente respondeu negando-lhe um papel.
Doillon, com 30 filmes no seu currículo, com destaque para o premiado "Ponette" (1996) e "La drôlesse" (1979), "A Pirata" (1984), "O Pequeno Criminoso" (1990), "Le jeune Werther" (1993) e, mais recentemente, "O Casamento a Três" (2010) e "Rodin" (2017), nega as acusações e afirma que ela mentiu e por isso não conseguiu o papel.
Agora Isild Le Besco está a "ponderar" processar os dois realizadores, como já fez Judith Godrèche.
As declarações das duas atrizes foram apoiadas por outras colegas, e agora a incógnita é saber se Judith Godrèche comparecerá à gala dos "Óscares franceses", que decorrerá no salão Olympia.
"Se vou ou não aos César, pouco importa", disse esta semana.
"Também gosto de ser mimada. Mas o nosso setor sofre em silêncio. As nossas jovens sofrem em silêncio. E mais uma vez, o governo está em silêncio, os atores, os realizadores estão em silêncio", denunciou a atriz, que prestará depoimento no Senado francês na semana que vem.
O grande favorito aos César (11 nomeações), "Anatomia de uma Queda", da realizadora Justine Triet, também está nomeado para cinco Óscares no dia 10 de março.
Há um ano, a Academia Francesa de Cinema proibiu a participação de qualquer profissional acusado ou condenado por atos violentos.
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