Sally Rooney, famosa pelo seu best-seller "Pessoas Normais" (2018), anunciou que doará parte dos seus direitos de autor, incluindo os das adaptações televisivas dos seus romances, para a organização britânica "Palestina Action", que foi proibida no Reino Unido.

"Pretendo usar essa receita do meu trabalho e da minha notoriedade de forma mais ampla para apoiar a Palestina Action", declarou a escritora irlandesa de 34 anos, conhecida pelo seu ativismo com os direitos dos palestinianos, num artigo publicado este fim de semana no The Irish Times.

Como explica no jornal, a autora irlandesa recebe benefícios financeiros da BBC, que coproduziu e transmitiu as adaptações televisivas de "Pessoas Normais" (2020), um sucesso global, e "Conversas entre Amigos" (2022).

No início de julho, a organização "Palestina Action" foi proibida e adicionada à lista de organizações terroristas no Reino Unido, após atos de vandalismo numa base da Força Aérea.

Desde então, mais de 700 pessoas foram presas e cerca de 60 serão processadas por expressarem o seu apoio, principalmente por carregarem faixas durante os protestos.

"Neste contexto, sinto-me obrigada a declarar mais uma vez (...) que apoio a Palestina Action. Se isso transforma-me em acusada de apoiar o terrorismo sob a lei britânica, que assim seja", escreve Rooney, que mora na Irlanda.

"Publicaria com prazer este artigo num jornal britânico, mas agora isso seria ilegal", acrescenta a romancista.

Antes dos ataques do movimento Hamas a 7 de outubro de 2023, Sally Rooney já anunciara em outubro de 2021 que não iria ceder os direitos de tradução do seu mais recente romance, "Onde Estás, Mundo Maravilhoso?", a uma editora israelita, em protesto pela política de conflito com a Palestina.

A decisão foi criticada pelos responsáveis do Jewish People Policy Institute, na plataforma noticiosa judaica Forward, por considerarem que contraria "a própria essência da literatura" e "o seu poder de trazer um sentido de coerência e ordem ao mundo".

Em maio do mesmo ano, a escritora também assinou uma "Carta Contra o Apartheid", que apelava a "uma cessação imediata e incondicional da violência israelita contra os palestinianos", e pedia aos governos que "cortassem as relações comerciais, económicas e culturais", com Israel, a par de outros autores como Nan Goldin e Naomi Klein.

Editado em Portugal pela Relógio d'Água, "Pessoas Normais", romance sobre uma complicada relação de amizade, venceu o Prémio Costa para Melhor Romance e foi eleito Livro do Ano pela Waterstones e foi finalista do Prémio Man Booker, em 2018, tendo sido ainda nomeado, no ano seguinte, para o Women’s Prize for Fiction e o Dylan Thomas Prize.

"Pessoas Normais" é uma obra recomendada pelo Plano Nacional de Leitura.