"Ibrahim morreu hoje, deixando um legado literário e humanitário imortal", afirmou o ministro da Cultura, Ahmed Fuad Hanno, que chamou o escritor de "pilar da literatura árabe moderna".

Nascido no Cairo em 1937, Ibrahim foi reconhecido em todo o mundo árabe como um cronista da injustiça social, com a sua prosa concisa, de estilo documental, e uma forte independência.

Os seus textos — que não registavam uma fronteira entre o pessoal e o político — capturaram as lutas do mundo árabe na era pós-colonial, em particular no seu Egito natal.

"Zaat" (1992), provavelmente seu romance mais famoso, narra a história recente do Egito — da queda da monarquia em 1952 até o neoliberalismo dos anos 1990 sob o presidente Hosni Mubarak — através dos olhos de uma mulher de classe média.

A obra foi adaptada para uma série de televisão em horário nobre em 2013, levando a mordaz crítica de Ibrahim sobre o poder a uma nova geração de egípcios após a Primavera Árabe, que derrubou Mubarak.

Dissidente ferrenho, Ibrahim foi preso pela primeira vez em 1959 pelas suas ideias de esquerda, durante o governo do presidente Gamal Abdel Nasser.

Os cinco anos na prisão inspiraram o seu primeiro romance, "That Smell" (na versão em inglês), inicialmente proibido.

A fama de Ibrahim motivou a tradução de várias das suas obras para o inglês e o francês.

Em 2003, o escritor não aceitou um prémio literário do governo de Mubarak, alegando que "oprime o nosso povo, protege a corrupção e permite que o embaixador israelita permaneça enquanto Israel mata".

Esta última parte era uma referência aos alegados abusos cometidos por Israel nos territórios ocupados durante a segunda intifada palestiniana.

Entre as obras de maior destaque de Ibrahim estão "The Comittee" (1981), alegoria kafkiana sobre a burocracia e a vigilância, e "Stealth" (2007), um relato semi-autobiográfico da sua infância durante a Segunda Guerra Mundial.

Gerações de escritores árabes encontraram inspiração no seu estilo minimalista, repleto de ironia e enraizado no quotidiano.