A Suíça foi o grande vencedor da edição deste ano do Festival da Eurovisão com a canção "The Code", numa edição marcada pela controvérsia em torno da participação de Israel e de outros casos polémicos. Esta é a terceira vitória da Suíça no concurso.
O tema "The Code", de Nemo, reuniu consenso entre júri e público, com o país a receber o maior número de votos nas duas votações, algo que não acontecia desde a edição de 2017, em que Salvador Sobral venceu por Portugal.
A Suíça terminou o concurso com 591 pontos (365 pontos dos júris internacionais e 226 do público). "Espero que esta competição possa continuar a incentivar a paz e a dignidade de cada um", disse o cantor Nemo, de 24 anos, após a final do concurso realizado na cidade sueca de Malmö.
O top 3 da 68.ª edição do Festival Eurovisão da Canção fica completo com a Croácia, representada por Baby Lasagna, com o tema “Rim Tim Tagi Dim”, que conseguiu 547 pontos (210 do júri e 337 do público), e a Ucrânia, representada por Alyona Alyona e Jerri Heil, com 453 pontos (146 dos júris e 307 do público).
A atuação de iolanda por Portugal com "Grito" valeu-lhe o 10º lugar na classificação do festival, com um total de 152 pontos (139 dos júris internacionais e 13 do voto do público).
A Ucrânia foi o segundo país mais votado pelo público, sendo superado apenas por Israel, que obteve 323 pontos do público, aos quais se juntaram 52 pontos dos júris internacionais.
Um dos momentos que mais surpresa geraram durante a votação foi quando, na atribuição dos pontos do público, o Reino Unido e a atuação de Olly Alexander receberam zero pontos no voto popular. É o segundo ano consecutivo em que o Reino Unido tem uma prestação menos bem sucedida na Eurovisão.
As classificações finais:
A edição deste ano foi marcada por uma série de polémicas, entre elas a participação de Israel, que acabou por ficar em 5º lugar no concurso. O júri português não deu qualquer ponto ao país, mas o primeiro lugar do voto do público em Portugal foi atribuído a Israel.
A atuação da concorrente israelita na final do festival foi recebida entre um misto de algumas palmas e vaias muito sonoras, que não se ouviram na emissão televisiva mas que espectadores no local partilharam nas redes sociais. Além disso, de acordo com jornalistas presentes na arena, Eden Golan também foi vaiada durante o desfile das bandeiras, no início da cerimónia, algo que não foi percetível na emissão televisiva.
Também quando a porta-voz israelita entregou os pontos do júri do país se ouviram apupos no recinto.
Veja o momento em que a atuação de Israel é vaiada:
iolanda e uma mensagem de paz
A concorrente portuguesa iolanda, que terminou o concurso em 10º lugar, usou este sábado na sua atuação na final do Festival da Eurovisão unhas com o padrão do ‘keffiyeh’, um lenço que é símbolo da resistência palestiniana, e deixou uma mensagem de apelo à paz no final da atuação, na noite deste sábado.
Depois da interpretação do seu tema "Grito" durante o concurso, iolanda despediu-se do público dizendo "a paz prevalecerá", numa alusão à controvérsia que se tem vivido com a participação de Israel no festival e que originou vários protestos.
Nas redes sociais, rapidamente começou a gerar-se burburinho em torno da sua atuação pelo facto de a EBU, organizadora do festival, não ter publicado o vídeo com a atuação da portuguesa no seu canal de Youtube. Nas redes sociais da Eurovisão, a atuação de "Grito" foi partilhada, mas os internautas rapidamente detetaram que se tratava do vídeo da sua atuação na primeira semifinal e não da atuação da noite deste sábado. Apesar disso, mais tarde, o vídeo da atuação da final acabou por ser publicado.
Veja o momento em que iolanda deixa a mensagem:
Mas, Iolanda não foi a única que terminou a atuação na final com apelos à paz.
Bambie Thung, a representante da Irlanda, gritou que “o amor irá sempre triunfar sobre o ódio”, antes de abandonar o palco.
“Unidos pela música pelo amor e a paz”, foi a frase com que o cantor francês Slimane terminou a sua atuação.
A porta-voz de Portugal nas votações, a cantora Mimicat, foi das poucas que aproveitou o tempo que esteve no ar para deixar uma mensagem de paz.
Portugal qualificou-se pela quarta vez consecutiva para a final do Festival. iolanda segue as passadas de Mimicat, em 2023, Maro, em 2022 e The Black Mamba, em 2021.
Salvador Sobral com “Amar Pelos Dois” venceu a Eurovisão 2017 e é até ao dia de hoje, o vencedor com o maior número de pontos de sempre.
A polémica com Israel
A participação de Israel gerou polémica, com vários apelos de representantes políticos e artistas europeus à União Europeia de Radiodifusão (UER), para que vetasse a participação daquele país devido à guerra na Faixa de Gaza.
No final de março, representantes de nove países, incluindo Portugal, assinaram uma carta na qual pediam um “cessar-fogo imediato e duradouro” na guerra de Israel na Palestina e o regresso de todos os reféns israelitas.
Na carta, os artistas começavam por afirmar que reconhecem “o privilégio de participar na Eurovisão”, mas que não se sentem “confortáveis em ficar em silêncio” perante a “situação atual nos Territórios Palestinianos Ocupados, em particular em Gaza e em Israel”.
Além da representante de Portugal, assinaram esta carta os intérpretes da Irlanda, Noruega, São Marino, Suíça, Reino Unido, Dinamarca, Lituânia e Finlândia.
Na altura, a EBU recordou que o festival é um evento “apolítico”. No entanto, em 2022 foi decidida a expulsão da Rússia do concurso na sequência da invasão da Ucrânia.
A jovem cantora israelita Eden Golan, de 20 anos, ganhou o seu bilhete para a final com a canção “Hurricane”, cuja versão inicial teve de ser modificada por se considerar que fazia alusão ao ataque do Hamas em Israel, em 07 de outubro.
Israel foi o primeiro país não europeu a poder participar no concurso de música, em 1973, e ganhou quatro vezes, incluindo com a cantora transgénero Dana International, em 1998.
Enquanto a final do Festival Eurovisão da Canção decorria, milhares de pessoas protestavam do lado de fora da Malmö Arena contra a participação de Israel no concurso.
Em Malmö, onde vive a maior comunidade de origem palestina da Suécia, mais de 5.000 pessoas, segundo a polícia, reuniram-se pacificamente para protestar contra a participação israelita.
"Não somos contra a Eurovisão, mas contra a participação de Israel. Não queremos a sua representante (...) por causa do que está a acontecer em Gaza", declarou o reformado sueco Ingemar Gustavsson.
Várias pessoas foram detidas no protesto no exterior da Malmö Arena, entre elas a ativista Greta Thunberg.
No ensaio geral deste sábado, os cantores de Irlanda, Israel, Suíça e Grécia não participaram no conhecido desfile de apresentação dos países em competição, enquando a representante Portuguesa iolanda se apresentou vestida por um designer de origem palestiniana. Slimane, o representante francês, interrompeu o seu ensaio a meio e deixou uma mensagem de amor e paz. Bambie Thug – performer não-binária da Irlanda – não atuou.
A cidade de Malmö foi palco de vários protestos contra a participação israelita e houve relatos de trocas verbais intimidatórias de membros da delegação israelita com jornalistas de outros países.
Bambie Thug, concorrente da Irlanda, partilhou um comunicado nas redes sociais antes de falhar a atuação no ensaio: “houve uma situação enquanto esperávamos para entrar em palco para o ensaio que achamos necessitar de atenção urgente por parte da organização. Estamos em discussões com a UER/EBU (União Europeia de Radiofusão) sobre quais medidas que serão necessárias tomar.”, disse aos seus seguidores.
“Isto significa que vou falhar o meu ensaio final. Peço desculpa a todos os fãs que me vieram ver e espero ver-vos em palco esta noite.”, frisa.
O caso não foi único esta tarde. Também o francês Slimane interrompeu a sua atuação a meio e deixou uma mensagem de amor e paz.
Tudo parecia decorrer dentro dos parâmetros normais durante o último ensaio de “Mon Amour” antes da grande final até que o concorrente francês interrompeu a sua atuação e começou a falar diretamente com o público dentro da arena.
“Quando era uma criança tinha um sonho. Tinha o sonho de ser cantor, de procurar a paz. (...) Cantar sobre paz. (...) Temos de estar unidos pela música, sim, mas temos de estar unidos por amor e paz.”.
Também a participante portuguesa, iolanda, marcou a sua posição pessoal no ensaio final da Eurovisão 2024. Na apresentação inicial de todos os países a concurso, a portuguesa desfilou no palco da Eurovisão com uma criação de Trashy Clothing, uma marca de um designer de origem Palestiniana.
Nos 50 anos de "Waterloo", Eurovisão homenageia ABBA
50 anos depois de os ABBA terem vencido a Eurovisão com "Waterloo", o festival voltou ao país da banda sueca. E claro que teve de haver uma homenagem na final.
Os ABBA venceram o Festival da Eurovisão da Canção em 1974, há 50 anos, com a canção "Waterloo". Este ano, o concurso voltou a realizar-se no país natal da banda, em Malmö, na Suécia, e houve uma homenagem à banda.
A emissão passou para Londres, onde decorre o espetáculo com os avatares virtuais dos ABBA, e a banda entrou em direto com as suas versões digitais. Depois, as cantoras vencedoras da Eurovisão Conchita Wurst, Charlotte Perrelli e Carola interpretaram "Waterloo" no palco da Malmö Arena.
A desclassificação dos Países Baixos
O representante dos Países Baixos, Joost Klein, foi desclassificado do festival pela EBU por um “incidente” com uma pessoa da produção do concurso que está a ser investigada pela polícia sueca.
“Temos uma política de tolerância zero relativamente a comportamentos inadequados no nosso evento […]. À luz disto, o comportamento de Joost Klein para com um membro da equipa é considerado uma violação das regras”, explicou a EBU no seu comunicado.
Os candidatos da Grécia, Suíça e Países Baixos participaram na conferência de imprensa após a segunda semifinal juntamente com a representante de Israel, cuja presença durante todo o festival foi altamente contestada pela ofensiva militar do seu país em Gaza.
Durante a conferência de imprensa, ocorreram alguns episódios retratados pelos meios de comunicação, como quando Marina Satti fingiu estar a dormir durante uma intervenção da israelita.
Na mesma ocasião, um jornalista polaco perguntou à cantora israelita sobre a sua responsabilidade no mais alto nível de alerta terrorista que Malmö estava a viver: “Ao estar aqui, é um risco para a segurança e um perigo para todos! Não se importa?”, questionou o polaco.
Perante esta questão, o moderador da conferência de imprensa disse a Golan que, se não quisesse, não teria de responder. “Por que não?” Joost Klein interveio então em voz alta, um episódio que rapidamente se tornou viral nas redes sociais.
A emissora de rádio e televisão neerlandesa Avrotros classificou a exclusão de Joost Klein da final da Eurovisão de "desproporcional", após um incidente sem relação com a controversa participação de Israel.
Em comunicado enviado à AFP, a Avrotros disse estar “chocada com a decisão” da União Europeia de Radiodifusão (EBU). “Lamentamos profundamente esta situação e voltaremos à questão mais tarde”.
A EBU, que supervisiona a competição, explicou que a polícia sueca está a investigar “uma denúncia feita por uma mulher da equipa de produção na sequência de um incidente ocorrido durante a noite da semifinal de quinta-feira”.
“Enquanto o processo judicial prossegue, não seria apropriado que continuasse a participar na competição”, afirmou a organização, em comunicado.
A secretária de Estado da Cultura neerlandesa, Fleur Gräper, considerou, em mensagem publicada nas redes sociais, que a decisão da EBU é “extremamente difícil, antes de mais, para Joost, mas é uma deceção para todos” os neerlandeses.
Na quinta-feira, durante a conferência de imprensa que se seguiu à semifinal da competição, Joost Klein, de 26 anos, chamou a atenção ao manifestar o seu desacordo com o facto de ter sido colocado ao lado da representante israelita, Eden Golan, tendo tapado o rosto com a bandeira dos Países Baixos em vários momentos da conferência.
No entanto, segundo a EBU, a sua exclusão não está relacionada com a sua atitude para com outras delegações.
Na sexta-feira, Joost Klein já tinha falhado ensaios gerais para a final.
Questionada pela AFP, a polícia sueca confirmou ter aberto uma investigação por “intimidação” e que o processo foi enviado ao Ministério Público.
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