Além da história, a técnica visual de “Mr. Robot” tem sido um dos assuntos discutidos pelos fãs da série.

A convite do SAPO Mag, Martin Dale, correspondente da revista Variety e professor de audiovisual e multimédia da Universidade do Minho, analisou as linhas visuais de “Mr. Robot”. Veja também na galeria alguns dos planos.

Martin Dale
Martin Dale

A forma deve ser escolhida em função do conteúdo e serve para o reforçar. Este é um dos princípios básicos utilizado para analisar e também criar filmes. No caso da série “Mr. Robot”, o conteúdo está relacionado com pessoas que são marginalizadas pela sociedade, a que se junta um ambiente de intriga e suspeita. A série utiliza títulos com um gráfico marcante para realçar a ameaça sentida pelas personagens. Já o leque de cores e níveis de contraste correspondem à tradição “neo-noir”.

O objetivo da série é questionar a maneira como vemos o mundo, e usa o universo dos hackers para explorar a ideia. “Mr. Robot” tem elementos de “Matrix” em termos do questionamento sobre a nossa noção da realidade, mas ao contrário de “Matrix” localiza-se no mundo atual de Nova Iorque, onde reinam paranóias. Para reforçar a sensação de paranóia, o enquadramento de vários planos “brinca” com um princípio de “framing”, conhecido como a regra dos terços. Neste princípio, o conteúdo mais importante em cada plano deve aparecer no centro ou num dos quatro interstícios, se dividimos o ecrã em 9 quadrados iguais. Também, por regra, se uma personagem está a olhar do lado esquerdo vai ser colocado nos interstícios do lado direito, e vice-versa.

Em “Mr. Robot” este princípio é deliberadamente violado em certos planos, colocando as personagens nas extremidades da imagem, fora dos referidos interstícios e muitas vezes a olhar no sentido contrário ao normal. Isto dá a sensação de marginalização destas personagens, atira atenção para o que está fora do enquadramento e gera uma sensação de desequilíbrio.

Obviamente não é a primeira vez que cineastas “brincam” deliberadamente com os princípios geralmente aplicados na indústria – aliás, isto foi um das características mais marcantes da Nouvelle Vague, em França.

No contexto atual, as séries de televisão estão a ganhar cada vez mais força e credibilidade artística para atores e realizadores. Enquanto o cinema tem virado para uma audiência principalmente de crianças, através de filmes de animação, ou adolescentes e jovens adultos, através de filmes de super-heróis, as séries de televisão (que estreiam nos canais VOD e pay TV) têm uma audiência com uma idade média mais elevada que estão à procura dos conteúdos mais originais. Assim sendo, existe a possibilidade e necessidade comercial de explorar temáticas mais complexas e usar técnicas de filmagem que tinha sido só aplicadas no cinema. Por exemplo os novos canais VOD, como Netflix, procuram precisamente conteúdos desta natureza. “Mr. Robot” estreou nos canais VOD nos Estados Unidos em Maio 2015.

Veja na galeria alguns dos planos de "Mr. Robot":