“Quando fizemos pela primeira vez estes concertos no mar, o David [Noiserv] estava cá na ilha, foi ao concerto, falou connosco e disse: 'Eu quero atuar neste palco. Algum dia vocês têm de me convidar, porque eu quero mesmo atuar aqui'”, revelou, em declarações à Lusa, o diretor artístico do festival, Tomás Melo.
Depois de uma primeira parte, entre 6 e de 10 de junho, o festival encerra nos dias 12 e 13 de julho, com concertos virados para o mar.
Esta sexta-feira, na praia de Porto Pim, atua a Honky Tonk Sailing Band, que combina o jazz tradicional de New Orleans com projeções de vídeo nas velas de um veleiro.
No sábado, Noiserv estará em terra, no porto da Horta, mas o público assiste a partir do mar, em barcos, veleiros, caiaques, jangadas, pranchas de 'stand up paddle', boias ou flamingos insufláveis.
Segundo Tomás Melo, para além do “laço importante” que criou com a associação Fazendo, que organiza o Maravilha, Noiserv enquadra-se no conceito do festival.
“Faz todo o sentido, porque tentamos sempre fazer ali uns concertos mais intimistas, menos dançáveis, vá, porque as pessoas estão em embarcações e não dá para dançar. Procuramos que seja mais uma viagem para o público. Adequa-se perfeitamente”, explicou.
Criado em 2005, Noiserv é o projeto musical do cantor e compositor português David Santos, que também faz parte da banda You Can’t win Charlie Brown.
Apelidado de “homem-orquestra”, por tocar vários instrumentos em palco, Noiserv lançou quatro discos e dois EPs, num estilo alternativo/indie rock.
Com mais de 500 concertos em Portugal e no estrangeiro, o músico conta ainda com várias colaborações em teatro e cinema.
O festival Maravilha, de entrada gratuita, é destinado, sobretudo à comunidade local, e muitos dos artistas, alguns velejadores, não são conhecidos das grandes massas.
“Tentamos que seja uma aproximação mais local, não criar turismo exacerbado na ilha à conta de um festival”, adiantou Tomás Melo.
Para além dos concertos, o festival terá outras atividades. A artista franco-belga Soizic Seon vai pintar um mural na freguesia do Capelo e a artista portuguesa Joana Bértholo vai instalar um conto flutuante na Jangada Maravilha, na baía de Porto Pim.
Nas ruas do Faial, será possível ainda ver duas obras 'site-specific' do artista português Superlinox, cuja arte urbana é marcada pela crítica social.
Criado em 2016, o festival Maravilha ganhou um novo formato em 2021, devido à pandemia de COVID-19.
“Em 2020, foi cancelado por causa da COVID. No ano seguinte, continuava a pandemia a atacar em força e procurámos uma forma de fazer um festival sem que o público sentisse que estava em pandemia”, lembrou o diretor artístico.
A solução passou por fazer concertos com o artista em terra, virado para o mar, e o público a assistir em barcos ou caiaques, assegurando o distanciamento necessário.
“Conseguimos fazer acontecer o festival e correu tão bem que continuamos a fazer com esta fórmula”, salientou Tomás Melo.
Com este novo formato, cada pessoa têm uma experiência diferente de participação no festival.
“É muito diferente. Cada pessoa o pode ver à sua forma. Há pessoas que vão na sua prancha de 'stand up paddle' e veem o espetáculo de forma diferente de quem vê na sua embarcação, com os amigos, com jantar a bordo. Há muitas abordagens diferentes. Há pessoas a mergulhar e a ver o festival dentro de água”, contou.
Quem não tem barco ou prancha, recorre aos barcos de observação de cetáceos da ilha, que ao fim do dia disponibilizam viagens para o festival.
A quinta edição do Maravilha arrancou em junho, numa altura em que a marina da Horta está habitualmente cheia de iates.
“Tentamos que esta ligação entre a comunidade estrangeira e local, entre quem chega à vela e quem cá habita, seja muito forte e estamos a cumprir cada vez mais, porque há cada vez mais pessoas a aderir ao festival”, salientou Tomás Melo.
Organizado por 20 voluntários da associação cultural Fazendo, o festival Maravilha conta com o apoio financeiro da Direção-Geral das Artes, da Câmara Municipal da Horta, do Governo Regional dos Açores e de entidades privadas.
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