“Cada um [dos temas] tem um motivo especifico para estar no disco [‘Visita’], mas de uma forma geral queria ter um conjunto representativo destes anos todos [de carreira profissional na música]”, disse Luca Argel em entrevista à Lusa.
O álbum, a ser editado na sexta-feira, foi gravado apenas com piano e teclado, tocados pela brasileira Pri Azevedo. Ao todo são dez as canções de “Visita”, entre as quais o inédito “Não se faz a um gato”.
“Algumas são semi-inéditas, foram gravadas pelos parceiros com quem escrevi as músicas. Há uma música minha com o César Lacerda, que ele gravou no último disco dele mas eu nunca tinha gravado, e um fado que escrevi para a Patrícia Costa, uma fadista do Porto, que ela tinha gravado há muitos anos, mas eu nunca tinha gravado. Há também alguns temas que já tinha gravado noutros discos, mas com versões diferentes”, contou.
Os temas mais antigos de visita, “Diz” e “2:55”, têm mais de dez anos e fazem parte do projeto “Livro de reclamações”, “um livro que tem uma contraparte em áudio” e é anterior ao álbum de estreia de Luca Argel, “Tipos que tendem para o silêncio”, de 2016.
Os motivos para a escolha dos temas foram variados. “Algumas escolhi por serem músicas que noto que o público agarrou mais, como ‘Anos doze’ [do álbum ‘Conversa de Fila’, de 2019], de longe a que recebeu mais comentários e ‘feedback’”, partilhou.
“Lampedusa” é “a escolha mais improvável”, por fazer parte de “Sabina”, o álbum mais recente de Luca Argel, editado no ano passado.
“É a única música do álbum [‘Sabina’] que não tem teclas, e achava injusto ser a única que não tinha. [Estar em ‘Visita’] foi uma espécie de compensação, trazê-la para um disco em que ela só vai ter teclado”, disse.
“Rua da Consolação”, que faz parte de “Bandeira”, álbum de 2017, foi muito tocada ao vivo, mas com a edição de “Samba de Guerrilha”, em 2021, acabou por sair do alinhamento dos espetáculos. “Mas fui notando que no 'ranking' que o Spotify faz das músicas mais ouvidas, essa não saía lá de cima. Resolvi escolhê-la quase como se fosse uma experiência. Vou gravá-la de novo de outra forma para ver como as pessoas reagem”, contou.
Entre os temas de “Visita” está também “Peito Banguela”, um poema do letrista e compositor brasileiro Aldir Blanc (1946-2020), uma grande influência de Luca Argel, gravado em parceria com o ‘rapper’ e produtor Keso.
“Foi uma música muito bem recebida, sei que muitas pessoas conheceram o meu trabalho através dessa música, e foi o início da colaboração com o Keso”, disse.
Além disso, esta música “tem uma história ‘super especial’”. “Conseguimos a autorização de Aldir Blanc [para usar o poema] menos de um ano antes de ele morrer”, recordou.
Em “Visita”, Luca Argel conta com a colaboração da pianista Pri Azevedo, de quem o músico é “completamente fã como instrumentista”. “Ela tem uma imaginação musical fabulosa”, disse.
Pri Azevedo, que desde 2021 faz parte da banda que acompanha Luca Argel, não participou da composição, “mas reinventou todas as músicas que estão no ‘Visita’, transformou géneros”.
A pianista transformou, por exemplo, “Rua da Consolação” num tango. “Trouxe a bagagem dela da música clássica, do jazz, de choro e de samba e fez arranjos e interpretações incríveis das músicas”, considerou Luca Argel.
As histórias por trás das canções de “Visita” estão contadas num documentário, cujos dois primeiros episódios, de cinco, já estão disponíveis no Youtube.
“No documentário tive espaço para contar histórias e mostrar como no ‘Visita’ elas se materializam. O objetivo é contar as histórias por trás de cada música e eu não queria que isso se perdesse. É muita informação para colocar dentro de um álbum, e colocando na edição física, só quem comprasse teria acesso”, explicou.
O álbum, uma edição de autor, estará disponível nas plataformas digitais e em vinil.
O vinil tem na capa uma foto que Luca Argel encontrou “por acaso num livro de um fotógrafo portuense, do início do século XX, Bernardino Pires, que tem um espólio gigantesco de fotografias do Porto”.
A escolha da imagem – um gato, fotografia “que ele deve ter feito com recurso a dupla exposição, porque ficou com quatro olhos” – “criou mais uma camada de visita ao projeto do álbum”.
“Porque é um fotógrafo do Porto, que fotografava o Porto, a cidade que me viu crescer musicalmente. Vivi dez anos no Porto. Até 2022 tudo o que fiz musicalmente foi baseado no Porto, uma cidade muito importante para mim. E é também uma espécie de homenagem que faço usando a foto de um artista portuense. É como se estivesse revisitando o Porto nesta capa”, referiu.
O Porto foi também a cidade onde reencontrou Pri Azevedo, irmã mais velha de uma colega de escola de Luca Argel.
Luca Argel e Pri Azevedo apresentam “Visita” ao vivo a 3 de novembro no Novo Ático, no Porto, e a 7 de novembro no Auditório Nova Cultura, do campus de Campolide da Universidade Nova de Lisboa.
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