Na sua oitava vez no festival de Cannes, os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne procuram a terceira Palma de Ouro com "Le Jeune Ahmed" ["O Jovem Ahmed"], longa-metragem sobre um adolescente radicalizado, retratado como um "enigma".
Os Dardenne, de 68 e 65 anos, grandes nomes do cinema social arraigado na Bélgica, fazem parte do selecto clube de cineastas com duas Palmas de Ouro - por "Rosetta", de 1999, e "A Criança", de 2005. O britânico Ken Loach, que também integra este grupo, concorre com eles este ano.
Em "Le Jeune Ahmed", eles afastam-se do seu campo mais rotineiro para ingressar no da religião e da política.
"Diríamos que saímos do armário do filme social para o armário que poderíamos chamar de político, talvez", explicam em entrevista à AFP.
Na longa-metragem em competição em Cannes, os realizadores contam a história de um jovem de 13 anos na Bélgica, Ahmed (Idir Ben Addi), muçulmano numa família aberta e tolerante, mas que, fascinado pelo exemplo de um primo morto na jihad e influenciado por seu imã, cai no radicalismo islâmico.
A ideia surgiu "após o somatório de atos horríveis cometidos por islamistas na Europa, na França, na Bélgica" com os atentados de 2015 e 2016, afirma Jean-Pierre Dardenne.
"Num dado momento, nos dissemos que talvez tivéssemos algo para contar em torno disto, para lutar contra isto", explica.
Primeiro, os cineastas procuraram a personagem. Optaram por um jovem adolescente, pensando que, detalha Luc Dardenne, "talvez com ele, ao contrário de com outros personagens que tínhamos pensado, ainda existisse a possibilidade de libertá-lo dessa ideologia".
Convincente no seu papel, Idir Ben Addi foi escolhido entre mais de 100 jovens.
"O que quer dizer ser radical na prática? O que isto quer dizer para o corpo?", indaga-se Luc. "O nosso filme é um olhar. Mas tentamos realmente que seja sobre a própria religião", que "pode nos capturar completamente".
Isso, contudo, sem querer fazer um filme "moralista", insiste. "Não acusamos. Estamos diante de um enigma, e filmamos isso".
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