O realizador japonês Hirokazu Kore-eda, vencedor da Palma de Ouro em 2018, concorre este ano no Festival de Cannes com "Monster", uma história sobre bullying na escola contada a partir de diferentes pontos de vista.
Com o seu novo filme, que inclui temas como bullying escolar e violência doméstica, o cineasta volta a abordar questões que marcaram o seu cinema, como famílias nada convencionais e problemáticas. Em 2018, ele conquistou a Palma de Ouro com "Shoplifters – Uma Família de Pequenos Ladrões".
"Monster" começa com as acusações feitas contra um professor por bullying, mas, pouco a pouco, conforme os pontos de vista se multiplicam, vai-se revelando a história.
"Queria que o espectador fosse capaz de investigar, da mesma forma que as personagens o fazem no filme", e se perguntasse quem é o monstro, disse o realizador, de 60 anos, em entrevista à France-Presse.
"Prioridades"
No final, os personagens de Kore-eda acabam por ganhar em humanidade, mas o sistema educativo do Japão não tem uma boa imagem no filme.
“Quando uma instituição coloca a própria proteção acima de todas as suas prioridades (...) então 'o que aconteceu realmente não é importante'”, disse, retomando uma das frases da diretora da escola no filme.
"Não diz respeito apenas ao sistema educativo japonês. Acho que é válido para a maioria das instituições coletivas, que tendem a se proteger, à custa de muitas outras coisas", acrescentou.
"Monster" foi exibido um ano depois de "Broker - Intermediários", filmado na Coreia do Sul e que também concorreu ao prémio máximo em Cannes. Por este filme, o sul-coreano Song Kang-ho ganhou o prémio de melhor interpretação masculina no festival francês.
Rompendo com o seu hábito, Kore-eda trabalha desta vez com um argumento de Yuji Sakamoto, que apresenta a história de várias perspetivas, para "trazer à tona a humanidade das personagens".
O argumento, "extremamente brilhante", segundo o cineasta, permite conhecer "um pouco mais de cada vez, mas sem, no fim das contas, ter uma visão totalmente clara do que está a acontecer".
A banda sonora do filme é um dos últimos trabalhos do compositor japonês Ryuichi Sakamoto, vencedor do Óscar por "O Último Imperador".
O artista faleceu no fim de março, aos 71 anos, vítima de cancro.
Desde a sua primeira longa-metragem em 1995, Kore-eda dirigiu vários filmes aclamados pela crítica. A primeira vez que disputou a Palma de Ouro foi com “Distane” (2001), sobre um massacre cometido por uma seita apocalíptica e as consequências para os parentes das vítimas.
Três anos depois, ficou famoso internacionalmente com "Ninguém Sabe", sobre a história de quatro irmãos abandonados pela sua mãe num apartamento.
Yuya Yagira, que interpretava o mais velho da família, tornou-se, aos 14 anos, o ator mais jovem a conquistar o prémio de interpretação masculina em Cannes.
Depois chegaram "Andando" (2008), "O Meu Maior Desejo" (2011) sobre dois irmãos, "Tal Pai, Tal Filho" (2013), Prémio do Júri em Cannes, que aborda a questão dos laços de sangue, e considerado a sua obra-prima até à chegada de "Shoplifters" em 2018.
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