Em 2001, alguns anos antes da 'explosão' das redes sociais, "O Fabuloso Destino de Amélie" foi um raro e incrível fenómeno de popularidade a nível global para o cinema francês.
O filme de fantasia que tornou Audrey Tautou uma estrela internacional chegou a ser nomeado para cinco Óscares, mas não ganhou nenhum na cerimónia de 2002: segundo o realizador, porque a Academia decidiu boicotar o produtor Harvey Weinstein por causa das suas táticas e campanhas agressivas para conseguir nomeações e estatuetas.
"Naquele ano, a Academia decidiu boicotar a Miramax porque o senhor Weinstein... fez algo que não foi bom. Enviou alguns presentes, vocês sabem do que estou a falar", recordou Jean-Pierre Jeunet numa entrevista ao IndieWire por causa da reposição do seu filme nos cinemas dos EUA a 14 de fevereiro.
"A Academia disse que não ia votar em 'Amélie' por causa dele. Saiu no The Hollywood Reporter. Sabíamos disso desde os Globos de Ouro", esclareceu.
Foi "Na Terra de Ninguém" que acabou por ganhar o Óscar na categoria então conhecida como "Melhor Filme em Língua Estrangeira".
"Era um bom filme, mas não tinha o sucesso de 'Amélie'. Foi uma má surpresa, mas foi no fim do percurso, aconteceu tanta coisa boa após a estreia. Não nos importámos. Agora, arrependo-me porque a estatueta é tão bonita. Gostaria de a ter na minha estante. É um pequeno arrependimento", notou, recordando que a anfitriã da cerimónia era Whoopi Goldberg e fez muitas piadas à custa de Harvey Weinstein, que só conseguiu uma estatueta para a Miramax, a de Ator Secundário para Jim Broadbent em “Iris”.
Sobre o produtor, que diz que nunca deixou mexer nos seus filmes, recorda: "De facto, para o Harvey Weinstein era uma questão de poder. Era uma questão de mostrar o seu poder. Não apenas com as mulheres, mas todos, os colaboradores, os autores".
Audrey Tautou reagiu mal à fama que conquistou e "não ficou muito contente com o sucesso do filme".
Jean-Pierre Jeunet conta: "Ela disse-me 'Vou mudar de emprego. Detesto ser conhecida. Detesto quando as pessoas me tiram uma fotografia sem autorização'. Ela ficou muito deprimida depois de 'Amélie'. E eu disse-lhe, 'Ok, tenho conhecimentos no supermercado. Estão à procura de operadores de caixa. Vou meter uma cunha por ti'".
"E ela disse, 'Ok, eu sei, tenho muita sorte'. E eu disse, 'Sim, tens muita sorte. A vida é difícil para todos. Não te podes queixar", resumiu.
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