O Festival Internacional de Cinema Queer Lisboa vai apresentar uma retrospetiva da artista taiwanesa Shu Lea Cheang, que irá mostrar uma instalação no Museu do Chiado e dar uma ‘masterclass’, anunciou hoje a organização.
“O grande destaque é a secção dedicada à Shu Lea Cheang, um dos nomes mais relevantes no cinema queer atualmente, porque ela não apenas cruza uma série de disciplinas artísticas - trabalha desde instalação, performance, vídeo, cinema -, mas também, em termos teóricos, está muito atenta àquilo que se tem vindo a desenvolver em teoria queer, de género. Conseguimos reunir as condições para tê-la cá e também, a propósito da nova longa que estreou em Berlim, resolvemos fazer uma grande retrospetiva em torno do trabalho dela”, disse à agência Lusa o diretor do festival, João Ferreira.
A 21.ª edição do Queer Lisboa vai decorrer de 15 a 23 de setembro no Cinema São Jorge, com atividades paralelas no Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado, contando com a estreia de “God’s Own Country”, de Francis Lee, na abertura, e com “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert, no encerramento.
Fora de competição, o artista e ator pornográfico Colby Keller vai apresentar o projeto “Colby Does America” e dar uma ‘masterclass’ de entrada gratuita, estando também prevista a participação no festival de Yan England, a apresentar o filme “1:54”, protagonizado por Antoine-Olivier Pilon, e a antestreia nacional de “Quand On A 17 Ans”, de André Téchiné.
Na competição de longas-metragens vão estar “As You Are”, de Miles Joris-Peyrafitte, “Beach Rats”, de Eliza Hittman, “The Beach House”, de Roy Dib, “Los Objetos Amorosos”, de Adrián Silvestre, “Pieles”, de Eduardo Casanova, “Looping”, de Leonie Krippendorf, “Close-Knit”, de Naoko Ogigami, e “Corpo Elétrico”, de Marcelo Caetano.
Na competição de documentários vão estar ”Abu”, Arshad Khan, “Entre os Homens de Bem”, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros sobre o político brasileiro Jean Wyllys, “Homogeneous, Empty Time”, de Thunska Pansittivorakul e Harit Srikhao, “Au-delà de l’Ombre”, de Mezni Hafaiedh, “Small Talk”, de Hui-Chen Huang, “My Mother is Pink”, de Cecilie Debell, “The Strangest Stranger”, de Magnus Bärtås, e “Vivir y Otras Ficciones”, de Jo Sol.
Já nas curtas-metragens, a organização realça a presença portuguesa com “Où En Êtes-Vous, João Pedro Rodrigues?”, de João Pedro Rodrigues, “Coelho Mau”, de Carlos Conceição, “Os Humores Artificiais”, de Gabriel Abrantes, e Gonçalo Almeida, com “Phantom”, para além dos estrangeiros “My Gay Sister”, de Lia Hietala, e “Les Îles”, a última curta de Yann Gonzalez.
“Temos alguns títulos particularmente fortes. Foi um ano em que muitos destes filmes queer passaram por grandes festivais, por Cannes, Sundance, Locarno, o CPH:DOX”, explicou João Ferreira.
Questionado sobre o futuro do festival e do próprio cinema queer, João Ferreira recuperou a retrospetiva de Shu Lea Cheang para exemplificar o percurso e uma perspetiva de futuro: “É uma retrospetiva, mas são filmes que olham já para a frente. Filmes que nos fazem pensar no cinema queer no futuro. Isto a par de filmes novos que estão a quebrar as barreiras e a entrar nos festivais generalistas, europeus e americanos”.
“O futuro é difícil prever, mas acho que vai passar muito por este cruzamento disciplinar. A experiência vai ser cada vez menos a do cânone cinematográfico, da experiência de estar sentado na sala a ver um filme durante uma hora e meia. O próprio filme vai cruzar outras linguagens e a experiencia do espetador vai ser outra”, afirmou o diretor artístico do festival.
De acordo com João Ferreira, “o cinema queer é um cinema inevitavelmente político” e, numa altura em que as perspetivas políticas “não são muito boas”, “vai existir inevitavelmente uma reação e se calhar [vai haver] um cinema muito político de reação, mais interventivo, mais ativista”.
Além do Queer Lisboa, volta este ano a ser organizado o Queer Porto, de 4 a 8 de outubro.
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