Os festivais de cinema Queer Lisboa e Queer Porto regressam no outono com um programa dedicado à “resistência queer” em zonas de conflito e uma retrospetiva do cinema do artista e escritor William E. Jones, anunciou hoje a organização.
O Queer Lisboa, que está na sua 28.ª edição, terá lugar no Cinema São Jorge e na Cinemateca Portuguesa, entre os dias 20 e 28 de setembro, ao passo que o Queer Porto, cuja 10.ª edição decorrerá de 8 a 12 de outubro, regressa ao Batalha e chega pela primeira vez ao Passos Manuel, prosseguindo também a sua programação na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto.
Este ano, o Queer Focus atravessa os dois festivais, com um programa alargado sobre a “Resistência Queer” em fronteiras, zonas de conflito, países sob ataque, territórios divididos ou ocupados, ou estados governados pela extrema-direita, do leste europeu e Médio Oriente, focado na realidade vivida pelas populações e comunidades LGBTQI+ em países como o Kosovo, Palestina, Chipre, Ucrânia ou Hungria.
“‘Resistência Queer’ é um alerta e uma homenagem; um cinema de urgência, com um apelo particularmente ativista, nos dias de hoje, face à ascensão das extremas-direitas, aos distúrbios sociais e culturais e às invasões militares que sofrem, especificamente, as sociedades destes países, onde vidas e direitos são postos em causa”, lê-se na nota de imprensa.
O destaque vai para “Foggy: Palestine Solidarity, Cinema & The Archive” - a ser exibido nas duas cidades -, uma iniciativa das plataformas Cinema Politica e Queer Cinema for Palestine, que contempla um conjunto de curtas-metragens que exploram o tema da solidariedade com a Palestina, através do olhar de Mike Hoolboom, Annie Sakkab, Hadi Moussally e Amy Gottlieb.
Para além da colaboração com a plataforma Cinema Politica, em Lisboa haverá espaço para um programa especial de curtas-metragens dedicado às realidades queer na Ucrânia de hoje, e para a exibição de longas-metragens vindas do Chipre e da Hungria.
No Porto, apresenta-se “As I Was Looking Above, I Could See Myself Underneath” ("Enquanto olhava para cima, via-me a mim próprio por baixo", em tradução literal), longa-metragem do Kosovo, que no ano passado conquistou audiências no Queer Lisboa.
A complementar este programa, estão previstos debates, em ambas as cidades, com a participação de ativistas, realizadores e agentes culturais e sociais dos países em foco.
O Queer Lisboa contará ainda com uma retrospetiva, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa, dedicada a William E. Jones, artista que tem trabalhado em cinema, vídeo, fotografia e pintura, destacando-se também como ensaísta e romancista.
“Transversal a toda a sua obra está um impulso arquivista, um fenómeno que ganha enorme expressão neste novo século, particularmente dentro da cultura queer”, destacam os organizadores.
O seu trabalho tem-se centrado em alguns dos temas que mais o fascinam, como a decadente arquitetura e urbanismo industrial do Midwest americano, os arquivos militares e a máquina de propaganda estatal do tempo da Guerra Fria ou da Guerra do Vietname, a vigilância e a repressão policial, o comunismo e o Bloco de Leste, e a produção de pornografia na Europa após a queda do Muro de Berlim, e nos EUA no período pré-epidemia da sida.
A obra de William E. Jones tem sido objeto de diversas exposições individuais e retrospetivas em instituições de renome internacional, como Tate Modern, em Londres, em 2005, Anthology Film Archives, em Nova Iorque, em 2010, e Kurzfilmtage Oberhausen, na Alemanha, em 2011.
Chega agora a Lisboa com uma seleção dos seus trabalhos em cinema mais emblemáticos, de que são exemplo “Tearoom”, feito a partir de registos policiais de homens numa casa de banho pública; “Finished”, um ‘thriller noir’ experimental; “Is It Really so Strange?”, um documentário sobre a comunidade latina de Los Angeles de fãs de Morrissey e dos The Smiths; ou “The Fall of Communism as Seen in Gay Pornography”, a partir de imagens de vídeos gay para adultos produzidos na Europa de Leste.
Este ano, haverá ainda lugar na Cinemateca para uma “Carte Blanche” ao realizador, para a qual William E. Jones selecionou filmes experimentais de realizadores marginais como Dietmar Brehm, Kurt Kren e Fred Halsted.
Este último programa é composto por quatro curtas-metragens, cujos tempos de exibição se sucedem segundo uma progressão geométrica, com cada filme tendo o dobro da duração do anterior.
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