O cineasta francês Michel Gondry dirigiu sete longas-metragens numa década após o sucesso do seu 'indie' "O Despertar da Mente" em 2004. E depois tudo ficou quieto.
"Micróbio e Gasolina" foi o seu último filme em 2015 antes de sair do radar, com os brilhantes videoclipes e anúncios de publicidade pelos quais ele é famoso também no geral a desaparecerem.
Mas o cineasta de 60 anos, residente nos EUA, está de volta este ano ao Festival de Cinema de Cannes com "Le Livre des Solutions" ["O Livro das Soluções", em tradução literal], oferecendo uma visão íntima das lutas de saúde mental por detrás da sua longa ausência.
Tempos sombrios
E Gondry é duro consigo mesmo, pintando um retrato semi-autobiográfico de um artista instável e muitas vezes completamente incontrolável que era tirânico com a sua família.
"Foi um período difícil na minha cabeça, no meu comportamento, mas ao mesmo tempo muito produtivo. Estava a ir para todos os lados", disse Gondry à AFP após a estreia.
Naqueles tempos sombrios, surgiram "pequenas pepitas" de génio, diz Gondry, mas "para as pessoas que estão por perto, é cansativo" e muitas "finalmente foram embora".
Gondry disse que tentou tornar esta história difícil e muito pessoal mais leve no ecrã do que a realidade muito sombria.
A estrela francesa Pierre Niney interpreta o alter ego de Gondry, lutando para editar um filme no filme, que vai ser apresentado na secção da Quinzena dos Realizadores em Cannes.
"Tentei tornar [a história] engraçada, mas não apagar a dificuldade causada às pessoas à volta", esclarece.
Depois de "grande sofrimento" e "megalomania", Gondry disse que caiu "num grande buraco" durante um ano antes de voltar para escrever e filmar "The Book of Solutions".
"Você realmente precisa pensar sobre o que acontecerá se tiver raiva, manter um pouco de humor e não ser malicioso. Desde então, aprendi isso", conta agora.
Videoclipes e jogos de memória
Gondry chegou à realização através da música. O seu pai tinha uma loja de instrumentos musicais em Versalhes, perto de Paris, onde o jovem Gondry até construiu a sua própria bateria com as partes que colecionada.
Ele começou a fazer videoclipes para estrelas francesas antes de se mudar para os EUA na década de 1990, onde colaborou com algumas das estrelas mais na berra da época.
Fez oito com Björk, enquanto um dos seus mais famosos, para "Around the World" (1997), dos Daft Punk, apresentou os robôs vestidos com capacete que ajudaram a definir a imagem da dupla francesa.
Gondry trouxe o seu humor excêntrico e estilo maluco para o seu primeiro filme, "Natureza Humana" (2001), com Patricia Arquette e Tim Robbins, a saga de um triângulo amoroso a explorar as ligações entre primatas e humanos.
A sua verdadeira estreia foi "O Despertar da Mente" (2004), protagonizado por Jim Carrey e Kate Winslet, que continua a ser um dos filmes mais amados do século XXI.
Mas os filmes subsequentes não conseguiram igualar sua popularidade: a lista inclui "A Ciência dos Sonhos" (2006), "Por Favor Rebobine" (2008), "Green Hornet" (2011), "A Malta e Eu" (2012), "A Espuma dos Dias" (2013) e ""Micróbio e Gasolina" (2015).
As primeiras críticas foram otimistas, com a The Hollywood Reporter a descrever "The Book of Solutions" como "sábio e deliciosamente engraçado", mesmo que descaia na segunda metade.
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