O ator sueco Max von Sydow faleceu este domingo aos 90 anos, confirmou a sua esposa à revista Paris Match.
“É com o coração partido e uma infinita tristeza que sentimos a extrema dor de vos anunciar a partida de Max von Sydow a 8 de março de 2020”, anunciou Catherine von Sydow, documentarista e produtora francesa.
Nascido a 10 de abril de 1929 como Carl Adolf von Sydow, no seio de uma família de classe média-alta, estudou na Escola Real de Drama, em Estocolmo (onde encontrou nomes como Lars Ekborg, Margaretha Krook e Ingrid Thulin) e trabalhou nos primeiros anos em teatro, apesar de ter obtido o primeiro papel no cinema, ainda durante o curso, no filme "Bara en mor", de Alf Sjöberg.
A seguir tornou-se um dos atores de eleição de Ingmar Bergman: apesar da participação em mais de uma centena de filmes europeus e americanos, onde chegou a ser Jesus Cristo ("A Maior História de Todos os Tempos") e um delirante Imperador Ming ("Flash Gordon"), o ponto alto da carreira é a colaboração em 11 películas do cineasta, o seu mentor e com o qual já tinha trabalhado nos palcos.
Nesse lote incluem-se títulos míticos como “O Sétimo Selo” e “Morangos Selvagens” (ambos de 1957) e “A Fonte da Virgem” (1960), com o primeiro a garantir-lhe presença cativa no imaginário coletivo com as cenas em que o ator interpreta o cavaleiro de regresso das Cruzadas que joga xadrez com a morte numa longa partida em que abordam questões sobre a fé e a dúvida, que permanecem sem resposta.
Foi também o filme o lançou numa fulgurante e excecional carreira internacional que o tornou o maior nome entre os atores suecos a seguir a Ingrid Bergman.
Com uma voz de barítono que impunha respeito e deu classe à maioria dos filmes que fez em sueco, inglês, francês e noutras línguas em que era fluente, destacam-se por exemplo "A Maior História de Todos os Tempos", "Os Emigrantes", "O Exorcista" (era o Padre Lankester Merrin e é provavelmente o mais mítico entre os seus trabalhos americanos), "Os Três Dias do Condor" (como um assassino profissional), "Fuga Para a Vitória", "Flash Gordon", "Conan e os Bárbaros", "Nunca Mais Digas Nunca" (como Blofeld, no regresso não oficial de Sean Connery como 007), "Duna", "Ana e as Suas Irmãs", "Pelle, o Conquistador", "Despertares", "Relatório Minoritário", "O Escafandro e a Borboleta", "Shutter Island" e "Extremamente Alto, Incrivelmente Perto".
Nos últimos anos, vimo-lo como Lor San Tekka no “blockbuster” “Star Wars: O Despertar da Força”, (2015), que acabou por ser o seu último filme americano, Vladimir Petrenko na versão cinematográfica da tragédia do submarino “Kursk” e como o Corvo de Três Olhos na série televisiva “Guerra dos Tronos”.
Foi apenas nomeado para os Óscares como protagonista em "Pelle, o Conquistador" (1987) e secundário em "Extremamente Alto, Incrivelmente Perto" (2011), mas nunca conquistou a estatueta.
Como explicava a falta de reconhecimento?
"Aos atores que tiveram algum sucesso sempre são oferecidos o mesmo tipo de papéis e sofri com isso", declarou ao jornal sueco Aftonbladet na época do lançamento do segundo filme que o colocou na corrida aos maiores prémios de Hollywood.
Em 2008, Max von Sydow esteve em Portugal, a convite do festival Fantasporto.
Pai de dois filhos da relação com a atriz sueca Christina Olin, mudou-se para França após o segundo casamento com Catherine Brelet.
"Quero morar na França. E quero morrer na França", afirmou quando o casal se estabeleceu no país, onde foi elevado ao posto de Comandante das Artes e Letras em 2005 e feito Cavaleiro da Legião de Honra em 2011.
Para o ex-presidente do Festival de Cinema de Cannes Gilles Jacob, "ele era um dos maiores atores do mundo. Era capaz de interpretar papéis espectrais ou perturbadores, mas Max era de uma delicadeza e humanidade comoventes".
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