Michael Lonsdale morreu esta segunda-feira (21) em sua casa aos 89 anos, avançou a BBC.
Com uma carreira de seis décadas e mais de 200 filmes, o ator franco-britânico (filho da relação ilegítima entre um oficial inglês e uma francesa de origem irlandesa) era uma das lendas do cinema francês, mas também teve uma relevante carreira internacional graças à proficiência linguística.
De facto, como a sua primeira paixão era o teatro, após dois filmes de François Truffaut em que se começou a destacar no cinema, "A Noiva Estava de Luto" (1968) e "Beijos Roubados" (1968), foi com uma co-produção franco-britânica que lançou definitivamente a carreira: "Chacal" (1973), onde a sua personagem, o comissário Lebel, se lançava numa perseguição paciente e implacável ao assassino profissional.
Outro momento importante na carreira foi como o principal vilão de "007 - Aventura no Espaço" (1979) e um dos melhores de toda a saga: Hugo Drax, um industrial que planeava envenenar todos os humanos na Terra para o repovoar com os habitantes da sua estação especial.
Para o melhor e o pior, o filme é um dos mais delirantes da saga, com o Bond mais descontrolado, mais desvairado e mais louco de todos. Excessivo e impossível levar o que quer que seja a sério no filme: a loucura era tanta que até existia uma gôndola transformada em hovercraft a cruzar a Praça de São Marcos ao som de Strauss…
A conta oficial de Roger Moore (falecido em 2017) recordou como o ator foi marcante como um "adversário culto e de língua suave".
Outros momentos importantes no ecrã a nível internacional foram "O Fantasma da Liberdade" (1974, de Luis Buñuel), "Os Despojos do Dia" (1993), "Ronin" (1998), "Munique" (2005) e "Ágora" (2009).
Em 2012, entrou também em "O Gebo e a Sombra", que viria a ser a última longa-metragem de Manoel de Oliveira.
Nascido em Paris a 24 de maio de 1931, Michael Lonsdale cresceu em Londres e Marrocos, onde, em 1942, soldados americanos lhe mostraram os filmes de John Ford, Cukir George Cukor e Howard Hawks.
Ao regressar a Paris em 1947, este aluno preguiçoso, sem sequer um certificado de estudos, conviveu com o seu tio Marcel Arland, diretor da revista literária NRF, o que lhe permitiu adquirir uma cultura que até então não lhe interessava.
A estreia de Michael Lonsdale aconteceu no teatro após ser orientado por uma famosa professora, Tania Balachova, que o ajudou a livrar-se de sua grande timidez.
Rapidamente, mostrou interesse por experiências radicais, com obras como "Amédée ou como se desembaraçar dele", de Eugène Ionesco, ao mesmo tempo que se tornava ator fetiche e cúmplice de Marguerite Duras, com quem partilhava muitos momentos de bom humor.
Nomeado para os César (os Óscares franceses) já numa fase avançada na carreira por "Nelly & Monsieur Arnaud" (1995) e "La Question Humaine" (2007), acabaria por ganhar o prémio como secundário pelo papel de um sacerdote livre e heroico em "Dos Homens e dos Deuses" (2012).
Este foi um dos momentos em que este católico batizado aos 22 anos transmitiu a sua própria fé à frente das câmaras, como também aconteceu em "O Processo" (1962), de Orson Welles, "O Nome da Rosa" (1986), de Jean-Jacques Annaud, e "Ma vie est un enfer" (1991), de Josiane Balasko, em que interpretou o arcanjo Gabriel.
A conversão à fé cristã aconteceu pela influência de uma madrinha cega. Em 1987, ingressou na Renovação Carismática Católica antes de fundar o "Magnificat", um grupo de oração para artistas.
Solteiro e sem filhos, Lonsdale também foi um artista, escritor pintor e emprestou a sua voz inconfundível a inúmeros documentários e audiolivros, seja de Montaigne, Nietzsche, Proust ou São Francisco de Assis.
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