Jason Isaacs, o ator que interpretou o vilão Lucius Malfoy nos filmes "Harry Potter", não está disponível para "apunhalar" J.K. Rowling "pela frente ou por trás", pelo menos sem falar primeiro diretamente com a escritora.
Por causa dos comentários sobre a comunidade transgénero que mereceram as críticas de outros atores dos filmes, ativistas e organizações, além de dividirem a comunidade dos livros, Rowling foi acusada de crueldade e "transfobia".
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"Há uma série de coisas sobre a Jo... não me quero envolver nas questões trans, falar sobre elas, porque é um campo extraordinariamente minado", disse Jason Isaacs numa longa entrevista sobre vários temas ao jornal britânico The Telegraphy [acesso pago].
“[J.K.] tem as opiniões dela e eu tenho as minhas. Elas diferem em muitas áreas. Mas uma das coisas que as pessoas também deveriam saber sobre ela – não como um contra-argumento – é que investiu uma enorme quantidade da sua fortuna para tornar o mundo um lugar muito melhor, para centenas de milhares de crianças vulneráveis, através da sua instituição de caridade Lumos. E isso é inequivocamente bom. Muitos de nós, atores de 'Harry Potter', trabalhámos para isso e vimos no terreno o trabalho que fazem", destacou.
"Portanto, por tudo o que ela disse, algumas coisas muito controversas, não vou estar a saltar para a esfaquear pela frente – ou pelas costas – sem uma conversa com ela, o que ainda não consegui”, esclareceu.
Em junho de 2020, Rowling foi acusada de fazer comentários considerados cruéis transfóbicos num tweet em que partilhava um artigo que usava a expressão "pessoas que têm menstruação" e acrescentou a nota irónica: "'Pessoas que têm menstruação'. Tenho a certeza que existe uma palavra para essas pessoas. Alguém que me ajude".
De seguida, a escritora fez questão de reforçar que não via as mulheres trans como verdadeiras mulheres: "Se o sexo não é real, a realidade vivida pelas mulheres em todo o mundo é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos discutirem significativamente as suas vidas". Completou ainda o seu ponto de vista dizendo sentir empatia pelas pessoas trans e que até marcharia com elas se fossem discriminadas, mas que nenhuma delas poderia compreender o que é "ser mulher".
Vários atores dos filmes criticaram estes pontos de vista ou fizeram declarações de apoio aos direitos das pessoas trans, nomeadamente Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint e Bonnie Wright.
Em resposta às críticas, a escritora publicou um longo ensaio em que, "por solidariedade com o grande número de mulheres que têm histórias como a minha, que foram criticadas por serem fanáticas ao preocuparem-se com a existência de espaços de sexo único", falou pela primeira vez da sua experiência como vítima de violência doméstica e de abusos sexuais.
Rowling acusou os seus críticos de "pensamento de grupo" e de "ataques implacáveis", reforçando que ainda que acredite que a maioria das pessoas trans estejam vulneráveis e merecessem ser protegidas, não concordava que as mulheres trans que não foram submetidas a terapia hormonal ou cirurgia devessem ter acesso a espaços de sexo único: "Pessoas trans precisam e merecem proteção. [...] Como qualquer sobrevivente de violência doméstica e sexual que conheço, não sinto nada que não seja empatia e solidariedade com as mulheres trans que foram abusadas por homens. Portanto, quero que as mulheres trans estejam seguras. Ao mesmo tempo, não quero tornar menos seguras as meninas e mulheres de nascença. Quando se abre as portas das casas de banho e dos balneários a qualquer homem que acredite ou se sinta mulher [...], então abre-se a porta a todo e qualquer homem que deseje entrar. Essa é a verdade simples".
Seguiram-se mais reações muito críticas de ativistas e organizações e ao devolver um prémio da organização Robert F. Kennedy Human Rights após ser criticada pela filha do político, a escritora voltou a defender-se: "Como doadora de longa data a grupos LGBT e defensora do direito das pessoas trans de viverem livres de perseguição, rejeito categoricamente a acusação de que odeio as pessoas trans ou lhes desejo mal", acrescentando que nenhum prémio faria com que "abdicasse do direito de seguir os ditames" da sua consciência.
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