Duas veneráveis anciãs que vivem no campo e partilham amizade, um passado desonroso e relações difíceis com os filhos, protagonizam o novo filme do realizador francês François Ozon, "Quand vient l'automne" ("Quando o Outono Cai", em tradução literal), apresentado no domingo no Festival de San Sebastian.
Aos 56 anos, Ozon é um dos realizadores mais apreciados da grande competição do festival espanhol, onde concorreu cinco vezes e em 2012 ganhou a Concha de Ouro e o prémio de melhor argumento com “Dentro da Casa".
Em "Quand vient l'automne", as atrizes Hélène Vincent e Josiane Balasko interpretam Michelle e Marie-Claude, duas grandes amigas reformadas numa vila rural da Borgonha que dedicam as suas vidas a prazeres pacíficos como visitar-se, tomar café e ir à procura de cogumelos .
Porém, a aparência idílica das suas vidas está a sucumbir ao peso de um passado vergonhoso que marca as suas relações com os filhos - Ludivine Sagnier e Pierre Lotin-, e várias reviravoltas inesperadas que mantêm a história viva.
“É um filme que fala sobre a família, sobre as relações tóxicas que podem existir entre mães e filhos”, explicou Ozon na conferência de imprensa após a exibição do filme.
“Mais tarde, o que me interessou foi mostrar que, o que talvez seja importante na família, é a que criamos para além dos laços de sangue”, acrescentou.
A atuação de Hélène Vincent, à volta da qual orbitam todas as personagens, poderá render-lhe, aos 81 anos, um dos prémios de representação do festival.
Cenas de um matrimónio
Também apresentado na secção competitiva no domingo, "Los destellos" é a terceira longa-metragem da realizadora espanhola Pilar Palomero, que fez muito sucesso com a sua estreia em “As Raparigas”, digno do Goya (os "Óscares de Espanha") de Melhor Filme de 2020,
Aqui, regressa com um drama intimista, protagonizado por Patricia López Arnaiz e Antonio de la Torre.
Isabel (López Arnaiz), que durante anos viveu longe do ex-marido Ramón (De la Torre), se aproxima dele novamente a pedido da filha, num momento em que se encontra no estado terminal de uma doença.
É “um filme sobre boas pessoas, que podem ter tido conflitos, mas no final o amor, em letras maiúsculas, é o que (...) prevalece”, explicou Palomero em conferência de imprensa.
Pioneira do feminismo
O outro filme espanhol que o festival apresentou este domingo, na secção oficial mas fora de competição, é “La virgen roja”, de Paula Ortiz, também de Saragoça, que recria a história verídica de Hildegart Rodríguez, pioneira do feminismo nos anos 1930 que confronta a sua mãe com consequências fatais.
Abordar acontecimentos históricos foi “um desafio”, admitiu Ortiz, mais habituada a fazer filmes “com lugares de contemplação”, em conferência de imprensa.
“E este filme não permitiu a contemplação” ao centrar-se na tumultuada relação de Rodríguez com a sua mãe, disse a realizadora, para quem foi, no entanto, “um privilégio” lidar com este material porque lhe permitiu “caminhar pela Segunda República do década de 1930" em Espanha.
O Festival de San Sebastián decorre na cidade do norte de Espanha entre os dias 20 e 28 de setembro, e esta edição teve como destaque os prémios honorários Donostia, atribuídos aos atores Javier Bardem e Cate Blanchett. O cineasta Pedro Almodóvar receberá o seu na quinta-feira.
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