“Fiz o que pude. Acho que não fiz mal” é a frase de Maradona que inspira o novo e muito esperado filme do realizador italiano, que concorre com outros 20 filmes no Festival de Veneza.
O consagrado cineasta, de 51 anos, considerado um dos autores mais relevantes do cinema europeu, herdeiro do estilo de Federico Fellini, regressa à sua cidade para contar a história da sua adolescência e da sua vocação de cineasta em circunstâncias trágicas.
Com um retrato alegre e doloroso das personagens que compõem a sua infância e adolescência em Nápoles dos anos 1980, Sorrentino consegue partilhar a sua dor pela morte trágica e inesperada dos pais e revelar o nascimento do seu universo, tão pessoal e único, com monges anões, tias sensuais, piadas, mergulhos no mar e passeios de barco.
“Fiquei emocionado ao fazer este filme. Já o vi 40 vezes e todas as vezes me emociono com algumas cenas específicas”, confessou o realizador em conversa com a imprensa, incluindo a AFP.
“O que mais me emociona são as cenas em que o menino parece indefeso”, enfatiza, provavelmente referindo-se a uma das sequências mais dramáticas, de raiva irreprimível, quando é impedido de ver os corpos do seu pai e da sua mãe no hospital.
“Na vida, despedir-se, dizer adeus às pessoas é muito importante. Se elas simplesmente desaparecerem, é como se nunca tivessem partido”, confessa.
Maradona, um ídolo e um salvador
Embora a personagem central se chame Fabietto Schisa, é um eco direto de um jovem Paolo Sorrentino, que adora futebol, não tem amigos e cujo mundo gira em torno da família, dos vizinhos e da paixão pela equipa de futebol de Nápoles.
“Para mim, quando criança, o mais importante que aconteceu naquele momento foi que o Maradona foi contratado pelo Nápoles. (...) Com ele aprendi o que é arte, porque o Maradona não era apenas jogador de futebol, mas sabia como transcender a realidade; Foi minha primeira oportunidade de me aproximar da arte”, explica.
O realizador refere-se aos anos em que a estrela argentina jogou em Nápoles e ao famoso e mítico golo de mão que Maradona marcou com a seleção argentina nas quartas de final contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986, no México, e que atribuiu à mão de Deus, frase que dá origem ao título do filme.
Ovacionada nas suas primeiras passagens pela imprensa, o filme de Sorrentino transmite a ideia de que de alguma forma Maradona salvou a sua vida, pois por não viajar com os pais para a casa na montanha e preferir ver o jogo de futebol do Nápoles, evitou morrer com eles na sequência de uma fuga de gás enquanto dormiam.
“A mensagem do filme é que há um futuro para todos, independentemente do sofrimento e da dor que experimentaram na vida. Espero que os jovens possam entender isso porque eles estão mais preocupados do que nós com o futuro”, resumiu.
Com o ator Toni Servillo, no papel do pai de um banqueiro, o filme de Sorrentino, produzido pela Netflix, entra na disputa pelo Leão de Ouro.
A gigante da indústria audiovisual, que saiu fortalecida pela pandemia, é favorita na corrida pelo prémio máximo, depois do obtido com "Roma" em 2018, do mexicano Alfonso Cuarón.
Ao contrário do festival francês de Cannes, Veneza também convidou o filme produzido pela Netflix "The Power of the Dog", que marca o regresso ao cinema da neozelandesa Jane Campion ("O Piano"), após mais de 20 anos.
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