Nenhum filme lançado pela Disney em 2023 vai chegar aos mil milhões de dólares nas bilheteiras a nível mundial.
Segundo a revista Variety, é a primeira vez desde 2014 que isso acontece ao estúdio, excluindo 2020-2021, os dois anos da pandemia. Por comparação, o zénite foi alcançado em 2019, quando sete filmes superaram esse valor mítico, com destaque para "Vingadores: Endgame" e a versão híbrida de "O Rei Leão".
O seu último grande lançamento deste ano, "Wish: O Poder dos Desejos" é a mais recente desilusão nas bilheteiras, depois de estrear em terceiro lugar nos EUA, com 31,7 milhões de dólares de receitas durante os cinco dias da temporada festiva de Ação de Graças, cerca de metade do que filmes semelhantes do estúdio ganharam no passado: "Encanto" abriu com 40,3 milhões em 2021, "Frozen II" arrancou com 123.7 em 2019, "Ralph vs Internet” com 84.6 em 2018 e "Coco" com 71 em 2017.
A animação junta-se a uma lista de desilusões do ano que inclui "As Marvels", "Indiana Jones e o Marcador do Destino", "Mansão Assombrada" e "Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania".
Duas consolações, mas distante dos valores de títulos semelhantes no passado, foram a versão em imagem real de "A Pequena Sereia" (569 milhões de dólares a nível mundial) e "Elemental", da Pixar (485 milhões).
O único verdadeiro sucesso foi "Guardiões da Galáxia, Vol. 3", com 845 milhões... e mesmo os analistas esperavam que a despedida da saga de James Gunn fosse capaz de se aproximar muito mais dos mil milhões ou, pelo menos, ser o mais rentável da trilogia (o "Vol. 2", de 2017, mantém a posição, com 863 milhões, um valor que seria superior se atualizado pela inflação).
Para colocar em perspetiva, "Avatar: O Caminho da Água", lançado pela Disney no final de 2022, arrecadou grande parte das receitas este ano e num valor superior ao que conseguiram nos EUA muitos dos filmes atrás referidos.
Em muitos destes títulos estão valores de bilheteira que encantariam os estúdios rivais de Hollywood, mas o problema é que as grandes produções da Disney são incrivelmente caras, com orçamentos bem acima dos 200 milhões de dólares ("Mansão Assombrada" 'só' custou 150), sem incluir o investimento em marketing de pelo menos outros 100 milhões. E, em média, os estúdios só ficam com cerca de metade das receitas de bilheteira.
"A Disney criou uma expectativa impossivelmente alta para si mesma nos anos 2010, disparando todas as balas no seu arsenal. O lado negativo do sucesso é que ele é esperado sempre. O estúdio sempre estaria numa posição complicada quando o poço começasse a secar", afirmou o analista do Boxoffice Pro Shawn Robbins à revista especializada Variety.
"Não é só a Disney, outros estúdios também sofreram retração no mundo pós-pandémico", destacou ainda à Variety o analista Jeff Bock, da Exhibitor Relations.
"Dito isso, os erros da Disney certamente são os mais abundantes, considerando onde estavam e onde estão agora. Eles eram os reis das bilheteiras, quase intocáveis. Agora? Meros mortais", completou.
Outro grande problema que contribuiu para a atual crise: durante a pandemia, a Disney habituou o público a esperar pela chegada dos seus filmes à sua plataforma de streaming, uma estratégia de curto prazo que está agora a custar muitos milhões.
"Num cenário de saturação no streaming, os espectadores comprometem-se menos se tiverem dúvidas" sobre os lançamentos, notou David A. Gross, analista da Franchise Entertainment Research.
Para alterar o rumo e depois de adiar "Branca de Neve" com Rachel Zegler e próximo filme da Pixar para 2025, a Disney confia nas estreias no ano que vem de "Inside Out 2", "Mufasa" ('spin-off' de '"O Rei Leão"), "Deadpool 3" e um novo capítulo da saga "Planeta dos Macacos".
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