NOTA DE REDAÇÃO: devido a outros compromissos no âmbito do Festival, não foi possível estar presente nas primeiras exibições de "The French Dispatch", de Wes Anderson, e "Petrov's Flu", de Kirill Serebrennikov.
12 de julho
Três anos depois de "Asako I & II", romance juvenil com sósias que não caiu no gosto do público de Cannes, o japonês Ryusuke Hamaguchi regressou à Riviera Francesa com a crítica aos seus pais em "Drive My Car", onde se apresenta como cineasta maduro e em busca de uma voz definida, adaptando uma pequena história de Haruki Murakami num filme de três horas.
Com um Prémio de Realização no último Festival de Berlim com "Wheel of Fortune and Fantasy" na sua sala de troféus [ler a entrevista dada na altura], Hamaguchi revela-se meticuloso, sensível como poucos e lírico. No seu cinema, a palavra tem provado ser aço.
A solidão de um dramaturgo que procura conforto depois da trágica morte da sua mulher, e cujo carro se torna uma espécie de altar memorial, é um dos favoritos para a Palma, mas aqui entre nós, não será fácil a conquista pois o prémio máximo de Cannes foi "abocanhado" por dois asiáticos nos dois últimos anos, incluindo um nipónico [Hirokazu Koreeda com "Shoplifters: Uma Família de Pequenos Ladrões"].
Por outro lado, nem tudo o que brilha é ouro. Quem o diz é Mia Hansen-Love, que surge com uma obra de latão que é literalmente uma nova aventura.
Em "Bergman's Island", seguimos um casal de cineastas (Tim Roth & Vicky Krieps) que partem para a ilha Faroo, local onde Ingmar Bergman residiu por vários anos e cujas paisagens originaram diversos filmes, para encontrar a inspiração necessária para futuros projetos cinematográficos. Só que nada de realmente entusiasmante parece ter saído de lá para Hansen-Love, apenas turismo e rápidas trivialidades sobre o lendário cineasta sueco. E o vazio reina num filme sem eira nem beira, apenas vista.
Não esperávamos um “Persona”, mas é triste que a mesma realizadora de "Eden" e "O que Está por Vir” tenha a musa de férias.
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