O actor e realizador
Dennis Hopper morreu hoje de manhã, 29 de Maio, na sua casa de Los Angeles, rodeado pela família e amigos, segundo declarações à Agência Reuters de Alex Hitz, um amigo próximo. O artista faleceu vítima de cancro da próstata, uma doença que já há algum tempo combatia e de cuja existência o público tomou conhecimento em Outubro de 2009, quando o «manager» do actor divulgou oficialmente a notícia. Nos últimos meses, o actor ocupou os noticiários essencialmente devido ao divórcio litigioso e muito publicitado da sua quinta mulher.
Hopper foi um dos chamados «rebeldes» de Hollywood, um actor cheio de talento que sempre se revelou insatisfeito com o sistema que, também enquanto realizador, tentou dinamitar por dentro, vivendo uma vida cheia de excessos e com fases de grande dependência das drogas.
O actor estudou no mítico Actor's Studio de Nova Iorque, onde foi aluno de Lee Strasberg, e estreou-se em beleza no cinema, com papéis secundários nos dois últimos filmes de
James Dean:
«Fúria de Viver» (1955) e
«O Gigante» (1956). A morte de Dean, de quem era amigo, terá abalado profundamente Hopper, que confessaria mais tarde que teria sido o talento do rebelde sem causa que o incentivaria a levar a profissão de actor a sério.
Nos 15 anos anos seguintes, apareceu nos mais diversos papéis em séries televisivas como
«O Homem da Carabina» ou
«A Quinta Dimensão», e fitas de cinema, destacando-se em papéis menores em películas tão célebres como
«Duelo de Fogo» (1957),
«O Presidiário» (1967),
«À Sombra da Forca» (1968) e
«A Velha Raposa» (1969).
Foi precisamente em 1969 que se estreou na realização, e logo com um filme que mudaria a história do cinema:
«Easy Rider», uma verdadeiro símbolo da contra-cultura cujo sucesso colossal foi uma peça essencial na derrocada do velho sistema de produção de Hollywood, provando em definitivo como os idosos directores dos grandes estúdios tinham perdido completamente o pulso à audiência. Este filme sobre três homens (
Peter Fonda, Dennis Hopper e
Jack Nicholson) à deriva em potentes motos por uma América em crise de identidade, com uma narrativa solta e uma abordagem livre ao uso das drogas, foi um sucesso inesperado e motivou os grandes estúdios a dar carta branca aos novos realizadores que faziam filmes exigentes mas a que o público aderia em massa, como
Francis Ford Coppola,
Martin Scorsese,
Robert Altman,
Steven Spielberg e
George Lucas. Foi o início da chamada Nova Hollywood, hoje tão elogiada.
Só que o sucesso de «Easy Rider» não se repercutiu nos seus trabalhos seguintes. Se o lado conflituoso e egocêntrico de Hopper, acentuado pelo álcool e as drogas, ainda deu bons resultados nesse filme, acabou por explodir completamente na sua película seguinte,
«The Last Movie» (1971), com uma rodagem caótica no Peru e que se revelou um verdadeiro desastre em termos de crítica e bilheteiras.
Ao longo da década de 70, o seu comportamento errático prosseguiu mas a sua imagem de rebelde meio lunático serviu-o bem em vários papéis de prestígio em filmes europeus, de que sobressai principalmente a sua personagem protagonista de
«O Amigo Americano» (1977), de
Wim Wenders. Em 1979, regressa às luzes da ribalta com o papel de foto-jornalista meio ensandecido de
«Apocalypse Now», de
Francis Ford Coppola.
Em 1980, voltou à realização com o pequeno drama
«Angústia de Viver», muito elogiado pela crítica, que precedeu o seu processo de reabilitação do consumo intensivo de drogas, em 1983. Nesse mesmo período, teve pequenos papéis muito elogiados em
«Rumble Fish - Juventude Inquieta», novamente de Coppola, e
«Fim-de-Semana de Osterman», de
Sam Peckinpah.
A sua carreira seria relançada em definitivo em 1986, com o inesquecível papel do assassino maníaco de
«Veludo Azul», de
David Lynch, que lhe marcaria a carreira daí para a frente, com vários convites para interpretar vilões tresloucados. Nesse mesmo ano seria nomeado ao Óscar de Melhor Actor Secundário pelo papel de alcoólico no drama desportivo
«Raiva de Vencer».
Ainda voltou à realização, com bons resultados, no policial polémico
«Los Angeles a Ferro e Fogo» (1988) e no «thriller» escaldante
«Ardente Sedução» (1990), ambos muito bem acolhidos pela crítica, bem como na anódina comédia
«Guardas Prisionais» (1994).
Mas foi como actor que Hopper, ao longo dos últimos vinte anos, continuou a ser um rosto familiar numa sucessão de filmes muito desiguais, de que se destaca o papel de vilão no grande êxito que foi
«Speed - Perigo a Alta Velocidade» (1994), além de prestações memoráveis em
«Delito em Red Rock West» (1992),
«Waterworld» (1995) e, principalmente,
«Amor à Queima Roupa», de
Tony Scott e com argumento de
Quentin Tarantino, com uma cena de diálogo com
Christopher Walken que ficou para a história.
A última vez que vimos Dennis Hopper nos cinemas foi em
«Imagens de Palermo» (2008), mas ainda lhe voltaremos a ouvir a voz no filme animado
«Alpha and Omega», que estreará em Novembro.
Nos últimos anos, os seus entusiasmos afastaram-se do cinema e viraram-se para a pintura, a fotografia e arte moderna, de que se tornara coleccionador.
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