O Museu de Serralves inaugura na quinta-feira uma exposição de Avery Singer, artista reconhecida como uma das vozes mais marcantes da pintura contemporânea mundial, que expõe pela primeira vez em Portugal.

Em declarações hoje aos jornalistas, no decorrer de uma visita guiada, Avery Singer afirmou que, como artista, está “muito interessada em utilizar ferramentas digitais, bem como técnicas manuais”.

“Nos últimos anos, tenho-me interessado em combinar diferentes formas de aplicar tintas com recurso à aerografia. E também me interessou ver a relação entre isso e as diferentes gerações de imagens digitais”, disse.

A mostra “run_it_back.exeˇ”, que combina arte, arquitetura e tecnologia, é o resultado de “uma pesquisa que tem vindo a fazer sobre a economia digital, em particular sobre a criptomoeda e a sua relação com o mercado tradicional”.

“Esta exposição começou a ser preparada há mais de um ano”, disse a curadora de Serralves Inês Grosso, referindo que “a maioria das obras da Avery radica no universo digital e, a partir daí, passam por vários processos de composição das imagens, sempre também no universo digital”.

Segundo Inês Grosso, trata-se de “uma jovem artista que tem vindo, de certa forma, a expandir aquilo que nós entendemos como uma prática pictórica e tentando novas formas, incluindo novas tecnologias e novas técnicas, algumas tecnológicas na pintura, mantendo outras tradicionais, mas foi uma artista que ganhou algum reconhecimento internacional, precisamente também pela ousadia de combinar meios tão opostos e tão distintos”.

'The Great Muses', de Avery Singer

“run_it_back.exeˇ” é a primeira exposição individual da artista em Portugal e resulta de mais de um ano de trabalho conjunto com Serralves e com a DepA architects, do Porto.

“Foi concebida especificamente para o Museu de Serralves, cujos átrio e sala central são ocupados e totalmente transformados pela exposição, que é também uma intervenção arquitetónica”, disse.

A abordagem da artista inicia-se com ‘software’ de modelação, através do qual cria figuras tridimensionais inspiradas em pessoas reais — amigos, conhecidos ou personagens ligadas às narrativas que deseja construir.

Sobre essas formas, acrescenta elementos gráficos que, posteriormente, são transferidos para a tela preparada, recorrendo a um aerógrafo industrial.

“Numa etapa seguinte, intervém manualmente, aplicando uma goma especial para apagar certas áreas da pintura, um gesto que intensifica sombras e expressões. Este momento reintroduz a fisicalidade do toque humano, equilibrando a precisão tecnológica do processo inicial com a sensibilidade e a expressividade do trabalho manual”, explicou Inês Grosso.

O seu método, “demorado e meticuloso, alia técnicas tradicionais à inovação digital, dando forma a uma realidade reinventada e visualmente intrincada, onde se cruzam referências à história da arte, à sociedade contemporânea e à cultura popular”, sublinhou.

Através de uma abordagem que coloca em diálogo dois mundos aparentemente inconciliáveis — o sistema financeiro tradicional e o crescente mercado dos criptoativos e das economias descentralizadas —, a artista destaca “os mecanismos que os sustentam e a forma como se influenciam mutuamente, moldando a nossa realidade económica e social”.

“run_it_back.exeˇ” não se limita a ser uma exposição, “é um apelo urgente à reflexão sobre o impacto da tecnologia na nossa existência e sobre os desafios e paradoxos de uma sociedade cada vez mais digital e desumanizada”, realçou a curadora da mostra.

Com a exposição da jovem artista nova-iorquina, nascida em 1987, Serralves assinala o início da programação deste ano do museu de arte contemporânea.

As obras da artista têm sido objeto de uma forte procura no mercado ao longo dos últimos anos.

O seu trabalho já faz parte das coleções de instituições como a Tate Modern de Londres, o Museu Yuz de Xangai, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e o Whitney Museum of American Art, entre outros.

A exposição, que é inaugurada na quinta-feira, é organizada pela Fundação de Serralves – Museu de Arte Contemporânea, com curadoria de Inês Grosso, curadora chefe do Museu de Serralves, e coordenação da curadora Filipa Loureiro, com projeto de arquitetura a cargo de DepA architects, Porto.

A exposição ficará patente até 7 de setembro.