
Em declarações à agência Lusa, Nancy Vieira disse que essa fusão “acontece naturalmente”, como este seu encontro musical com o músico brasileiro Fred Martins.
“Vou encontrando as pessoas, vou gostando das pessoas, como foi o caso do Fred. Fomos apresentados pelo músico açoriano Paulo Borges, em 2013”, disse Nancy Vieira, referindo que o músico açoriano “é um grande conhecedor” da sua “alma musical” e sempre lhe referiu o cantor e violonista brasileiro, e vice-versa, até que se encontraram.
Na altura, Fred Martins estava a gravar um álbum e a cantora cabo-verdiana foi convidada para um tema, intitulado “O Samba Me Diz” (Marcelo Diniz/Fred Martins). “E cresceu uma amizade e, naturalmente, vontade de fazer música juntos”.
O álbum é constituído por 11 temas, abrindo com “Não Sou Daqui” e fechando com “Trago Risos”.
O alinhamento inclui o bolero “Tú me Acostumbraste” (Frank Domínguez), uma criação de Chavela Vargas (1919-2012), enquanto outra recriação é “Saiko Dayo” (Gregório Gonçalves), de Bana (1932-2013), que mistura os ritmos cabo-verdianos da morna e coladeira, com influências do jazz e blues, e conta com a participação de Jorge Cervantes.
Nancy Vieira afirmou que a recriação do bolero “Tú me Acostumbraste” “tem jeitos de bossa nova, como acontece com as mornas que estão no disco, esses ritmos latino-americanos são, aliás, uma paixão [sua] de há muitos anos”.
Neste álbum, giza-se musicalmente um triângulo musical – Cabo Verde, Brasil, Cuba -, realçando a cantora “a grande irmandade, afinidade e familiaridade entre Cabo Verde e o Brasil”.
Nancy Vieira referiu os vários intérpretes cabo-verdianos que têm cantado temas cubanos, como Cesária Évora (1941-2011), que gravou com o compositor e cantor cubano Compay Segundo (1907-2003) e o “mítico grupo Voz de Cabo Verde”, que cantava e gravou cúmbias e boleros.
“Eu, de pequenina, estou a falar dos anos 1970/1980, ouvia aquelas músicas daquela mítica banda Voz de Cabo Verde, como se fossem nossas também, e eles tocavam-nas e cantavam como se fosse deles”, disse a artista, salientando: “Essas músicas misturam-se com o nosso património musical e de facto há uma grande irmandade”.
O tema de abertura, “Não Sou Daqui”, é uma canção que Amélia Muge compôs, durante uma estada em Cabo Verde, e que fala da realidade atual, nomeadamente os problemas dos migrantes: “No fundo o que ela nos diz é que não é de Cabo Verde, mas gostou muito de lá estar, de perceber como os outros vivem e de encontrar o seu lugar em Cabo Verde”.
Um tema que diz muito a Nancy Vieira e Fred Martins, “estrangeiros que vivem em Portugal, e que de certa forma são bem recebidos e encontram o seu lugar, mas isso não tem acontecido com muitos estrangeiros”, pelo que a dupla quis “deixar esta mensagem, [de que é possível] encontrar o lugar, mesmo onde não é o lugar de nascimento ou de família e que família pode ser quem não é do [mesmo] sangue, é essa a mensagem”.
“Esperança” é editado por uma etiqueta japonesa, a Respect Records, e foi já apresentado no Japão, sucedendo ao álbum "Gente" (2024).
Nancy Vieira emigrou para Lisboa aos 14 anos e estreou-se, em 1995, com o álbum “Nós Raça”.
Ao longo da sua carreira tem somado colaborações com diversos músicos, como Rui Veloso, Ildo Lobo, Titina Rodrigues, a Ala dos Namorados, Rão Kyao e Dani Silva. Em 2008 participou no álbum "Mulher Passa a Palavra", ao lado de cantoras como Ana Moura, Teresa Salgueiro e Dulce Pontes, entre outras.
Nascido em 1970, o premiado Fred Martins começou a compor na década de 1980, em parceria com Marcelo Diniz e Manoel Gomes. Os seus trabalhos já foram interpretados por artistas como Ney Matogrosso, Adriana Calcanhotto, Zélia Duncan, entre outros, tendo também tido temas em bandas sonoras de telenovelas.
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