O rapper Sean "Diddy" Combs recorreu ao "poder, à violência e ao medo" como líder de uma organização criminosa com décadas de existência, disse na quinta-feira a procuradora durante os argumentos finais do julgamento mediático do artista por associação criminosa e tráfico sexual.

"Ele contava com o silêncio e a vergonha para esconder os seus crimes", denunciou Christy Slavik, que procura deixar claro aos 12 jurados que decidirão o destino do magnata da música os motivos pelos quais ele foi acusado e julgado durante quase dois meses.

Sentado atrás da procuradora, Combs, de 55 anos, ouvia impassível, embora ocasionalmente escrevesse bilhetes para os seus advogados.

Se for considerado culpado das acusações que incluem associação criminosa e tráfico sexual, poderá passar o resto da vida na prisão.

Slavik começou a resumir o que o Ministério Público apresentou ao longo de horas de depoimentos de 34 testemunhas, milhares de páginas de mensagens de texto, gravações telefónicas e vídeos de sexo explícito exibidos durante mais de sete semanas de julgamento.

"Ele usou o poder, a violência e o medo para conseguir o que queria", acrescentou.

Para isso, disse, contava com "leais tenentes" — nenhum dos quais foi chamado para depor no julgamento — para encobrir os seus crimes, entre eles trabalho forçado, prostituição, suborno e manipulação de testemunhas.

"Não aceitava um 'não' como resposta", completou a promotora, antes de lembrar que o fundador da editora Bad Boy Records "se tornou mais poderoso e mais perigoso graças ao apoio do seu círculo íntimo e dos seus negócios".

"Drogadas", "com dor"

Slavik deixou claro ao júri que este caso não se trata de criminalizar práticas sexuais não convencionais. "Não se trata, de forma alguma, de livre escolha", afirmou.

As mulheres envolvidas nas suas orgias sexuais selvagens estavam "drogadas, cobertas de óleo, com dor e exaustas", enquanto Combs obrigava-as a manter relações sexuais com trabalhadores de sexo durante horas e, às vezes, dias, declarou.

Segundo a procuradora, o músico que colocou o hip hop no cenário mundial obrigou duas mulheres — a cantora Casandra "Cassie" Ventura e, mais tarde, outra mulher que depôs sob pseudónimo — a manterem relações sexuais sob efeito de drogas com acompanhantes pagos.

Ambas mantiveram relacionamentos com Diddy, que está detido desde setembro, após Cassie apresentar uma queixa contra ele em 2023 por agressão sexual e violação, posteriormente retirada após um acordo financeiro com o rapper.

Após Cassie, outras vítimas apresentaram também queixas, o que o levou ao banco dos réus.

Ao longo dos seus argumentos finais, a procuradora Slavik também fez referência ao testemunho de um psicólogo forense que explicou ao júri como as vítimas ficam presas aos seus abusadores.

Num momento impactante, pediu ao painel que se colocasse no lugar de Ventura: "Imaginem o terror de nunca saber quando chegará o próximo golpe". "Agora imaginem tentar dizer não a essa pessoa", clamou.

A acusação mais grave, a de associação criminosa, pode levar Diddy à prisão perpétua, caso seja considerado culpado. O rapper também enfrenta acusações de agressão, tráfico sexual e duas de transporte com fins de prostituição.

Combs, que se recusou a depor em sua defesa, nega tudo. Os seus advogados apresentarão os seus argumentos finais na sexta-feira e é esperado que insistam em que as alegadas vítimas eram mulheres adultas que tomavam as suas próprias decisões.

Eles afirmam que os relacionamentos do artista foram consensuais e já tentam convencer o júri de que muitas testemunhas o acusaram por interesse financeiro ou vingança.

Muitas das gravações apresentadas no julgamento mostram sofrimento por parte das alegadas vítimas. Mas várias mensagens também revelam afeto e desejo, o que a defesa enfatizou repetidamente.

Assim que os argumentos finais sejam concluídos, provavelmente na sexta-feira, o júri vai retirar-se para deliberar.