
O Festival de Avignon terá o coreano como língua convidada em 2026, anunciou na segunda-feira o diretor artístico, Tiago Rodrigues, sublinhando o sucesso de público desta edição, com uma taxa de ocupação de 96,5%, a maior em 10 anos.
Depois da língua árabe, a convidada deste ano, o festival internacional de teatro vai focar-se na península coreana e numa língua que se tornou "muito global, embora pouco conhecida", disse Tiago Rodrigues à Agência France Presse (AFP).
"É muito interessante ver que esta língua, que se poderia chamar de 'pequena', originária de um país pequeno e distante, se espalhou completamente por todo o planeta através da cultura, do cinema, das séries de televisão, da música e da literatura", explicou o encenador e dramaturgo português, citando em particular a escritora sul-coreana Han Kang, vencedora do Prémio Nobel da Literatura de 2024.
Em 2026, o Festival de Avignon, que não recebe artistas dessa península asiática há 25 anos, tentará também destacar as artes performativas coreanas "menos conhecidas" e ir "além de noções preconcebidas uma sociedade com as suas complexidades", explicou o diretor artístico.
A cinco dias do final da edição de 2025, Tiago Rodrigues celebrou também a taxa de assistência de 96,5% nos 42 espetáculos do festival, no local, citando "números não vistos desde 2016", que acredita ainda poder superar.
O festival deste ano está a ser marcado por produções dos principais criadores das artes performativas, como o encenador alemão Thomas Ostermeier, a coreógrafa belga Anne Teresa de Keersmaeker, e pela reconstituição teatral de "Le procès Pelicot", pelo encenador e dramaturgo Milo Rau, que também foi anunciado para Portugal no próximo outono, no âmbito da BoCA - Biennial of Contemporary Arts.
"Numa altura em que questionamos a forte relação que temos com o serviço público cultural em França, esta é uma prova da sua vitalidade e do interesse das pessoas em participar na vida cultural", sublinho Tiago Rodrigues à AFP, manifestando preocupação com as artes performativas numa altura de cortes orçamentais.
Embora o próprio festival tenha mantido o financiamento público, o diretor artístico observa uma "deterioração em todo o panorama das artes performativas em França".
"Não estamos apenas solidários, estamos preocupados", disse.
A 79.ª edição do Festival d'Avignon abriu no dia 5, com a estreia do novo espetáculo da coreógrafa cabo-verdiana Marlene Monteiro Freitas, “Nôt”, inspirado em as "Mil e Uma Noites", obra-prima da literatura árabe, língua convidada desta edição.
O ator, encenador e dramaturgo português Tiago Rodrigues, diretor artístico do festival, por seu lado, estreou a sua nova peça, “La distance”, no dia 7, no L'Autre Scène du Grand Avignon, onde continuará em cena até ao encerramento do festival, no próximo sábado.
A ação de "La distance" passa-se em 2077, quando "a humanidade luta para sobreviver, atormentada pela precariedade económica e pelas consequências das mudanças climáticas", com "parte da população exilada em Marte”. De regresso à Terra, segundo a sinopse, e mantendo as preocupações universais, “um pai esforça-se para manter um relacionamento com a sua filha que foi para o Planeta Vermelho.”
A escolha da língua árabe, como convidada deste ano – a quinta mais falada no mundo e a segunda em França – prendeu-se com a vontade de mostrar “toda a diversidade” da cultura, recusando “visões estreitas, racistas e xenófobas” que marcam a sociedade atual, como Tiago Rodrigues disse em entrevista à agência Lusa, na abertura do festival.
A língua árabe, afirmou, “é uma fonte de riqueza que tem de ser descoberta, mesmo quando consideramos que estamos [perante] qualquer coisa longe de nós”, defendeu Tiago Rodrigues.
O Brasil é também país em destaque em Avignon, este ano, em particular através da mostra paralela ao festival (Festival OFF), no contexto da Temporada França-Brasil, em curso.
Onze companhias brasileiras fazem parte desta mostra, com espetáculos como "Selvageria", de Felipe Hirsch, "História do Olho", de Janaina Leite, e "Azira’I", de Zahy Tentehar.
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