"Os Segredos de Chinatown" acompanha a história de um secundário asiático preso numa série policial chamada "Black and White" que se torna o herói improvável de uma conspiração criminosa.

Ao mesmo tempo, a série verdadeira satiriza o tratamento estereotipado das minorias por Hollywood, mostrando também o progresso que indiscutivelmente já fez.

A nova série da Disney+ com os dez episódios já todos disponíveis baseia-se num aclamado romance de Charles Yu, um autor norte-americano de ascendência taiwanesa.

O best-seller de 2020 trouxe uma perspetiva humorística sobre o racismo na sociedade americana através das aventuras de Willis Wu, figurante de Hollywood que só conseguia papéis como asiático em segundo plano, mas que sonhava em tornar-se um dia algo como o herói de "Kung Fu", a séria clássica da década de 1970 protagonizada por David Carradine.

Yu está listado como diretor criativo de "Os Segredos de Chinatown".

“Cresci com a televisão nas décadas de 1980 e 1990 e nunca vi asiáticos. Era como se não existissem”, disse numa conferência de imprensa em julho.

“Existiam na vida real, quando saía à rua, mas não no meu ecrã. E isso levou-me a querer contar essa história.”

Há apenas uma década, a criação literária de Yu teria sido ignorada em Hollywood.

Mas recentemente, produções ásio-americanas de sucesso como “Asiáticos Doidos e Ricos” (2018) e do vencedor dos Óscares “Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" (2022), já para não falar do também premiado com as estatuetas douradas "Parasitas" (2019) e o fenómeno “Squid Game”, testaram o apetite comercial por narrativas diversas.

Jimmy O. Yang, ator norte-americano originário de Hong Kong, que trabalhou em “Asiáticos Doidos e Ricos”, interpreta Wu em "Os Segredos de Chinatown".

E o cineasta vencedor do Óscar Taika Waititi (“Jojo Rabbit”) dirigiu o episódio piloto.

"Metáfora"

Wu é apresentado como um empregado normal num restaurante na Chinatown de Los Angeles, mas é rapidamente mostrado como parte de uma operação policial. Nessas cenas, "Os Segredos de Chinatown" adota os códigos visuais de um drama policial televisivo.

Wu permanece relegado para segundo plano, enquanto a dupla da polícia – um branco e um negro – resolve os crimes. E câmaras ainda mais estranhas e inexplicáveis ​​aparecem a filmar Wu e os seus colegas, uma reminiscência de "The Truman Show - A Vida em Direto" (1998), com Jim Carrey.

A distorção da realidade ecoa a premissa do romance original, ele próprio escrito na forma de um argumento de televisão.

“É uma ótima metáfora para o que significa ser asiático-americano neste país”, diz o ator Jimmy O. Yang. “Mas, ao mesmo tempo, é uma história universal, de alguém que deseja ser mais, de alguém que se encontra a si mesmo na sua carreira.”

Quando Wu testemunha um sequestro, as reviravoltas na história levam este ator secundário a assumir papéis cada vez mais importantes na intriga criminosa.

"Passa a ser como uma estrela convidada. E a seguir o tipo da equipa técnica, que claro, já interpretei antes. A verdade é que existem muitos paralelos com a minha própria carreira", diz Yang.

Sonho tornado realidade

A série tem diálogos em inglês, mandarim e cantonês.

Entre as suas personagens está Lana Lee, uma polícia novata asiático-americana, que é designada para um caso em Chinatown pelos seus chefes após se presumir erradamente que deve conhecer conhecer Chinatown.

A ironia não passou despercebida à atriz Chloe Bennet, nascida Chloe Wang, filha de pai chinês e mãe americana branca, que teve que mudar o apelido para conseguir papéis em Hollywood.

“A minha trajetória na indústria é tão intrínseca com a de Lana”, disse na conferência de imprensa.

E recordou: “No início da minha carreira, dissera-me literalmente ‘Não és branca o suficiente para ser a protagonista, mas não és suficientemente asiática para ser a asiática’”.

Ronny Chien e Jimmy O. Yan em "Os Segredos de Chinatown"

Fatty Choi, o melhor amigo de Willis Wu, interpretado pelo comediante Ronny Chieng ("The Daily Show"), oferece um contraponto hilariante às noções preconcebidas do público sobre os asiáticos como uma "minoria modelo".

Viciado em videojogos e marijuana, Choi repreende agressivamente os clientes brancos do restaurante, dizendo-lhes que "não são o centro do universo".

“Fazer algo com um comentário social, tão engraçado, tão meta, tão alucinante e tão inteligente, mas sem martelar as pessoas com a mensagem, é um sonho que se torna realidade”, destacou o comediante.

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