A 67.ª cerimónia dos Grammys no domingo foi uma noite histórica que serviu como um caloroso tributo à Los Angeles devastada pelos incêndios e celebrou o que há de melhor na música com atuações deslumbrantes.
Também incluiu ataques não tão subtis à nova administração do presidente dos EUA Donald Trump.
Eis um olhar aos momentos inesquecíveis da maior noite da música em Los Angeles:
As mulheres negras brilham
Foi uma noite histórica para as mulheres negras, incluindo Beyoncé, que finalmente conquistou o prémio de Álbum do Ano pelo seu profundamente pesquisado e abrangente "Cowboy Carter".
A vitória vem depois de anos de desprezo que, de alguma forma, fizeram com que a artista de 43 anos se tornasse a artista com mais Grammys de todos os tempos... que nunca levara para casa os principais prémios de melhor álbum ou melhor disco.
A sua vitória no domingo faz dela a primeira mulher negra a ganhar o melhor álbum este século e apenas a quarta de todos os tempos.
Enquanto isso, a rapper da Flórida Doechii ganhou o prémio de melhor álbum de rap com "Alligator Bites Never Heal", tornando-se apenas a terceira mulher a fazê-lo.
“Tantas mulheres negras por aí que me estão a ver neste momento e quero dizer-vos que vocês conseguem”, disse.
"Não permitam que ninguém projete quaisquer estereótipos em vocês, que vos digam que vocês não podem estar aqui, que são demasiado negras, ou que não são inteligentes o suficiente, ou que são demasiado dramáticas, ou que falam demasiado alto."
Ataques a Trump
Imigração, diversidade, cuidados de saúde, direitos dos transgéneros: a noite de celebração do melhor da música foi pontuada por declarações políticas.
Shakira dedicou o seu Grammy de melhor álbum pop latino a “todos os meus irmãos e irmãs imigrantes”.
“Neste país vocês são amados, vocês têm valor e sempre lutarei com vocês”, disse a cantora colombiana.
Recorde-se que Trump prometeu deportações em massa de migrantes ilegais nos EUA.
Alicia Keys, que recebeu um prémio especial de “impacto global”, disse que os programas de diversidade, equidade e inclusão – que a administração Trump começou a desmantelar – “não são uma ameaça”, mas “uma dádiva”.
“Quando forças destrutivas tentam deitar-nos abaixo, ressurgimos das cinzas como uma fénix”, disse a artista, sob aplausos.
Chappell Roan, vencedora de Melhor Artista Revelação, exigiu que a indústria musical apoiasse os artistas numa indústria precária com pouca rede de segurança.
E Lady Gaga aproveitou o momento em que recebeu um Grammy para dizer que “as pessoas trans não são invisíveis. As pessoas trans merecem amor, a comunidade queer merece ser erguida”.
União por LA
Os organizadores dos Grammys decidiram que a gala deveria prosseguir apesar dos grandes incêndios que atingiram o condado de Los Angeles e tornou-se uma comovente homenagem à resiliência da cidade, aos socorristas e aos artistas que chamam à Cidade dos Anjos a sua casa.
Anthony Kiedis, vocalista dos Red Hot Chili Peppers, e o baterista Chad Smith subiram ao palco para entregar um prémio e ofereceram alguns compassos a cappella de "Under the Bridge", um grande sucesso da banda de Los Angeles.
Lady Gaga e Bruno Mars cantaram uma versão de “California Dreamin’”, um clássico dos Mamas and the Papas, enquanto Billie Eilish usou um boné da equipa dos Dodgers para a sua apresentação.
Durante a cerimónia televisiva, um código QR foi exibido no ecrã, incentivando os espectadores a doarem para vários esforços de combate aos incêndios. O apresentador Trevor Noah disse que foram arrecadados pelo menos 7 milhões de dólares (6,83 milhões de euros).
E quando um grupo de bombeiros de Los Angeles subiu ao palco para entregar o prémio do Álbum do Ano a Beyoncé, foi aplaudido de pé durante bastante tempo.
Uma nova guarda da pop
Foi uma grande noite para um animado grupo de estrelas pop que voltaram para casa com troféus: Roan, Sabrina Carpenter e Charli XCX arrecadaram respetivamente um, dois e três prémios.
E o trio proporcionou atuações que combinavam com o sucesso que todos desfrutaram: Charli, por exemplo, transformou o salão numa rave com o seu medley de "Von Dutch" e "Guess".
Carpenter manteve o seu ato comicamente coquete da velha Hollywood mas com 'slapstick', saltitando pelo palco enquanto cantava "Espresso" e "Please Please Please".
Roan transformou o local num circo alucinante com um enorme pónei rosa para cantar - adivinhou - "Pink Pony Club", agitando a sua cabeleira ruiva enquanto dominava o palco.
E um medley com os nomeados para Melhor Artista Revelação Doechii, Benson Boone, Teddy Swims, Shaboozey e Raye ofereceu uma atuação eletrizante de diferentes e diversos talentos.
Um 'moonwalk' de Janelle Monáe para Quincy Jones
A noite repleta de atuações também incluiu uma comovente homenagem a Quincy Jones, o falecido ícone da indústria musical que ligou a constelação de estrelas do século XX, trabalhando com todos, de Frank Sinatra a Michael Jackson.
“Nos seus 91 anos, Q tocou inúmeras vidas, mas devo dizer que mudou a minha para sempre. Vocês provavelmente nem saberiam quem seria o Will Smith se não fosse o Quincy Jones”, disse o ator que Jones escolheu para ser o protagonista no trabalho que o revelaria, "O Príncipe de Bel-Air".
Cynthia Erivo fez uma interpretação impressionante de “Fly Me To The Moon”, de Sinatra, enquanto Stevie Wonder e Herbie Hancock lideraram uma apresentação de “We Are the World”.
Janelle Monáe encerrou a homenagem com uma performance convincente de "Don't Stop 'Til You Get Enough", de Jackson, completa com um 'moonwalk'.
Comentários