![Festival de Cinema de Berlim começa no auge da extrema direita. Tilda Swinton é uma das resistentes](/assets/img/blank.png)
"O desumano está a ser perpetuado perante os nossos próprios olhos", declarou a atriz escocesa Tilda Swinton na abertura da 75.ª Berlinale, marcando um tom de resistência perante o extremismo, a dez dias das eleições legislativas alemãs.
A atriz de 64 anos, que recebeu em Berlim o Urso de Ouro honorário pela sua carreira, denunciou os "assassinatos em massa organizados por Estados e permitidos em escala internacional".
Swinton, protagonista do último filme do espanhol Pedro Almodóvar, "O Quarto ao Lado", fez alusão, entre outros, à ideia do presidente dos eua, Donald Trump, de transformar Gaza na "Riviera do Médio Oriente".
A Berlinale, o primeiro grande evento da indústria cinematográfica do ano, é geralmente vista como um festival progressista e político, e normalmente atrai menos atenção do que as competições de Veneza ou Cannes.
A noite de abertura também viu vários atores alemães acompanhados por Tricia Tuttle, diretora do festival, a segurar uma fotografia do ator israelit David Cunio, que está entre os reféns detidos pelo Hamas. Entre os atores que seguravam a foto estavam Christian Berkel, Andrea Sawatzki e Ulrich Matthes.
Cunio é o tema de um filme de Tom Shoval que vai ser apresentado, "A Letter to David".
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"Um festival como este é uma rejeição [...] de todas as ideias difundidas por muitos partidos de extrema direita", disse Tricia Tuttle, na conferência de imprensa do júri.
"Estamos atualmente a passar por uma crise particular nos EUA, mas também em todo o mundo", declarou o realizador Todd Haynes, presidente do júri, ao lado de Tuttle, observando a "preocupação e o choque" gerados nas três primeiras semanas do governo Trump.
A Alemanha está no meio de uma campanha eleitoral, com eleições parlamentares marcadas para 23 de fevereiro, um dia após a cerimónia de prémios.
As sondagens preveem que o partido de extrema direita AfD ficará em segundo lugar, atrás apenas dos conservadores, em eleições dominadas pela questão da imigração.
Nesta quinta-feira, um atropelamento em massa realizado por um homem afegão que pediu asilo em Munique, no sul do país, deixou 30 pessoas feridas. A Berlinale prestou-lhes homenagem.
Dezanove obras em competição
O filme de abertura "Das Licht", dirigido por Tom Tykwer, aborda a chegada de uma imigrante síria contratada como empregada doméstica de uma família berlinense, o que a leva a "uma jornada rumo ao desconhecido".
O cineasta de 59 anos, mais conhecido pelo filme "Corre, Lola, Corre", disse que o seu novo trabalho se passa numa era contemporânea em que "a democracia está novamente a ser questionada" por forças políticas que visam "excluir e marginalizar".
Os membros do júri começarão a trabalhar na sexta-feira com a exibição dos primeiros filmes em competição.
Presidido por Haynes ("Velvet Goldmine", "Longe do Paraíso, "I'm Not There - Não Estou Aí", "Carol"), o júri terá que escolher o vencedor do Urso de Ouro entre 19 longas-metragens.
Na competição estão o mexicano Michel Franco com "Dreams", o brasileiro Gabriel Mascaro com "O Último Azul" e o argentino Iván Fund com "El mensaje".
A produção de Franco é um drama protagonizado por Jessica Chastain e Isaac Hernandez sobre uma jovem dançarina de ballet mexicana que atravessa a fronteira para fazer sucesso nos EUA.
Também disputarão o prémio principal o norte-americano Richard Linklater e o sul-coreano Hong Sang-Soo.
A Berlinale, que tende a receber menos estrelas do que outros festivais europeus, está a procurar dar um pouco mais de brilho à sua passadeira vermelha, e é por isso que Tuttle, recém-chegada ao comando do festival, escalou várias estrelas: Timothée Chalamet, Jessica Chastain, Marion Cotillard, Ethan Hawke e Robert Pattinson.
Pattinson protagoniza, fora de competição, "Mickey 17", que marca o regresso do cineasta sul-coreano Bong Joon-Ho desde do seu triunfante "Parasitas".
A sua nova obra é uma comédia de ficção científica que ressoa com os tempos atuais, ao gozar com um multimilionário que faz recordar Elon Musk, líder da Tesla e SpaceX, próximo de Trump e simpatizante do AfD alemão.
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