O 77º Festival de Cinema de Cannes vai revelar esta quinta-feira a sua tão esperada seleção oficial de filmes, com a dúvida sobre a participação de grandes produções de Hollywood, interrompidas pelas greves do ano passado.
"Os filmes chegam cada vez mais tarde e as últimas decisões são as mais importantes. Temos que evitar ser excessivamente impacientes", disse o diretor do festival, Thierry Frémaux, à revista Variety na semana passada.
Os vencedores de Cannes em 2023 foram elogiados pela crítica de cinema e vários dos seus filmes, como o vencedor da Palma de Ouro “Anatomia de uma Queda” ou “Zona de Interesse”, Grande Prémio do Júri, conquistaram posteriormente numerosos prémios internacionais, incluindo Óscares.
O Festival de Cannes conseguiu escapar da longa greve de atores e argumentistas de Hollywood no ano passado, mas paradoxalmente as consequências poderão ser sentidas nesta edição, reconheceu Frémaux.
"Estamos a ver menos filmes americanos do que nos anos anteriores. E isso sem dúvida se refletirá na seleção oficial. Todos sabemos que 2024 será uma espécie de 'ano de transição' (...) pelo menos no primeiro semestre", explicou.
Uma comédia para começar
O maior festival do mundo, que se realizará de 14 a 25 de maio na famosa cidade da Côte d'Azur, terá início com a comédia francesa "Le deuxième acte", de Quentin Dupieux, com Léa Seydoux.
Atualmente está confirmado um 'blockbuster' para 15 de maio, fora de competição: “Furiosa: Uma Saga Mad Max”, de George Miller, com a estrela anglo-americana Anya Taylor-Joy e o australiano Chris Hemsworth.
Num registo diferente, o norte-americano Oliver Stone (“Platoon”) explicou no mês passado à AFP que preparou um documentário centrado no presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e na sua odisseia judicial entre 2018 e 2019.
Stone é presença assídua em Cannes, onde presidiu ao júri da Palma de Ouro e apresentou filmes dentro e fora de competição.
A seleção para a Palma costuma incluir cerca de 20 filmes, aos quais podemos acrescentar aqueles que participam em competições paralelas, como a Semana da Crítica ou a Quinzena dos Cineastas.
Cannes costuma ser uma caixa de ressonância para conflitos internacionais e há expectativa sobre como o evento refletirá a guerra em Gaza.
A realizadora de “Barbie”, Greta Gerwig, preside ao júri da competição oficial da mostra, onde a presença de mulheres cineastas é sempre escrutinada de perto.
O júri da Semana da Crítica será liderado pelo espanhol Rodrigo Sorogoyen (“As Bestas”), e a secção Un Certain Regard será dirigida pelo canadiano Xavier Dolan.
A organização informou esta terça-feira que entregará a Palma de Ouro honorária ao cineasta norte-americano George Lucas, criador da saga "Star Wars".
Cerca de duas mil obras
O comité de seleção do festival já viu cerca de dois mil filmes até agora, explicou Frémaux, que confessou à Variety que gostaria de apresentar o último filme de Francis Ford Coppola, “Megalopolis”, com Adam Driver como protagonista.
O grego Yorgos Lanthimos e sua estrela favorita do momento, Emma Stone, vencedora do Óscar de Melhor Atriz por "La la Land" e "Pobres Criaturas", também poderão aparecer na Croisette. Os dois acabaram de filmar “Kind of Kindness”.
E do lado europeu há alguma emoção em Cannes com a nova versão do mito erótico dos anos 1970 “Emmanuelle”, dirigida por uma mulher, Audrey Diwan, que ganhou o Leão de Ouro em Veneza em 2021 com “O Acontecimento”.
A participação ibero-americana no festival também gera muitas expectativas.
O mexicano Michel Franco recebeu boas críticas em Veneza no ano passado com um drama sobre demência, "Memory", e também acaba de repeti-lo com a sua atriz do momento, Jessica Chastain. Juntos, filmaram "Dreams", que poderá concorrer à Palma, segundo rumores.
O brasileiro Walter Salles ("Diários de Che Guevara"), ausente de Cannes há mais de uma década, poderá regressar com "Ainda estou aqui", drama ambientado na ditadura militar dos anos 1970. E o colombiano César Augusto Acevedo, que em 2015 ganhou o prémio de melhor primeiro filme no concurso “A Terra e a Sombra”, tem um novo filme, “Horizonte”.
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