
Dois filmes portugueses, de João Rosas e António-Pedro, e uma adaptação literária pelo realizador moçambicano Sol de Carvalho estreiam-se hoje nos cinemas portugueses.
“O Ancoradouro do Tempo”, de Sol de Carvalho, é uma adaptação do livro "A Varanda de Frangipani", de Mia Couto, e a estreia acontece na semana em que se assinalam os 50 anos da independência de Moçambique.
Em declarações à Lusa, o cineasta disse que pretende passar uma mensagem de integridade, coerência e resiliência, uma vez que a narrativa se refere à investigação de um crime relacionado com o tráfico de órgãos de pessoas albinas.
"Um rim de um albino pode custar 50 mil dólares [cerca de 43 mil euros]. Ou seja, os albinos nesta região oriental de África são vítimas de duas situações criminosas: por um lado, de curandeiros e feiticeiros, que usam órgãos para cerimónias, e por outro são vítimas de tráfico internacional e o tráfico de seres humanos em África é um problema sério", lamentou.
O filme, que é uma produção entre Portugal, Moçambique, Alemanha, Angola e Maurícias, foi rodado na Fortaleza da Ilha de Moçambique e contou com um elenco exclusivamente de atores moçambicanos profissionais.

Hoje chega também aos cinemas “A Vida Luminosa”, primeira longa-metragem de ficção de João Rosas e que segue a mesma personagem, Nicolau, da trilogia de curtas-metragens feita entre 2012 e 2020 (“Entrecampos”, “Maria do Mar” e “Catavento”).
Nicolau, interpretado pelo ator Francisco Melo, é um jovem de Lisboa a dar os primeiros passos na vida adulta, dividido entre trabalhos temporários, o desejo de ser músico e a ressaca de um desgosto de amor.
“O que me interessava neste filme era a formação da identidade, quando começamos a seguir o nosso próprio caminho, saímos de casa dos pais, começamos a trabalhar, deixamos de ser apenas filhos. O filme está construído em torno desse dilema”, explicou João Rosas à Lusa.
As curtas-metragens e este filme formam uma tetralogia sobre crescimento e formação de identidade e registam, de forma cronológica, várias etapas de crescimento da personagem Nicolau, da infância à idade adulta.
“A Vida Luminosa”, com produção da Midas Filmes, vai estar em competição em julho no festival de Karlovy Vary, na República Checa.

“Mississipis”, o documentário de António-Pedro que se estreia hoje, acompanha o trabalho criativo da coreógrafa Filipa Francisco no espetáculo “A Viagem”, estreado em 2011 e que envolveu bailarinos de dança contemporânea e elementos de ranchos folclóricos.
Artista multidisciplinar, António-Pedro seguiu os passos da coreógrafa Filipa Francisco durante uma década na criação deste projeto comunitário à medida que ia sendo trabalhado e apresentado em vários locais do país.
António-Pedro, cocriador e autor da banda sonora de “A Viagem”, diz que o filme é o registo de um encontro.
“Dá-se um encontro que é intensificado pela necessidade de se criar um espetáculo profissional num curto espaço de tempo. Um objeto que passa a ser de ambos os grupos, que criam, num raro momento de suspensão, um novo ‘nós’”, afirmou o realizador em nota de intenções.
No filme participam, entre outros, o Grupo Folclórico da Região de Arganil, o Grupo Etnográfico do Orfeão do Porto, o Grupo Folclórico e Etnográfico de Recardães (Águeda) e o Rancho Folclórico da Torredeita (Viseu).
“Mississipis” é uma produção entre a Terratreme Filmes e a Companhia Caótica, cofundada por António-Pedro.
De acordo com os dados mais recentes do Instituto do Cinema e Audiovisual, de maio, este ano estrearam-se 23 filmes de produção ou coprodução portuguesa, que somaram 48.449 espectadores e cerca de 228 mil euros de receita de bilheteira, valores que representam uma quota de 1,1% e 0,8% do mercado, respetivamente.
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