A caminho dos
Óscares 2016
Criada em 2015 para assinalar que ninguém da raça negra estava entre os principais nomeados aos Óscares, lançando um manto de suspeição sobre os votantes da Academia ao mesmo tempo que esquecia que um filme chamado "12 Anos Escravo" fora o grande vencedor apenas em 2014, não deixa de ser irónico que a cerimónia dos Óscares desta noite em Los Angeles e o regresso de Chris Rock se façam sob a ameaça da 'hashtag' #OscarsSoWhite.
Foi em 2005 que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e os produtores do espetáculo televisivo deram os primeiros passos a sério para atrair o público mais jovem, tão crucial para as receitas publicitárias, escolhendo como anfitrião... Chris Rock.
Na altura, a prestação dividiu as opiniões e nos anos seguintes fizeram-se novas experiências com Jon Stewart (2006 e 2008) e Ellen DeGeneres (2007), Hugh Jackman (2009), Alec Baldwin e Steve Martin (2010), James Franco e Anne Hathaway (2011), Billy Crystal (2012) e Seth MacFarlane (2013).
Foi só com o regresso de Ellen DeGeneres em 2014 e a 'foto que deitou abaixo o Twitter" que os Óscares entraram a sério no século XXI, abraçando com sucesso o fenómeno das redes sociais e todas as suas potencialidades. E ainda que logo a seguir Neil Patrick Harris não tenha correspondido às gigantescas expetativas que nele se depositaram, a mudança veio para ficar.
Por isso e uma vez que nenhuma estrela de raça negra foi nomeada para as principais categorias pelo segundo ano consecutivo, os vestidos das estrelas e quem ganhou ou perdeu não vão ser os únicos assuntos da cerimónia esta noite a merecer a atenção das redes sociais e é inevitável que Chris Rock tente esvaziar a polémica logo no início com várias piadas certeiras.
Ao mesmo tempo, os produtores não se pouparam a esforços para a tornar o mais diversificada de sempre: dos 42 apresentadores já anunciados, 15 são de cor.
Mas nem isso evita contradições: Whoopi Goldberg e Louis Gossett Jr., que ganharam Óscares com "Ghost" e "Oficial e Cavalheiro" mas que não fazem filmes de qualidade há mais de 15 anos (no caso dele, há mais de 30) são convidados como exemplo da diversidade ao mesmo tempo que são desprezados os méritos de duas das canções nomeadas, cortadas da cerimónia por razões de "tempo", uma delas, "Manta Ray", da primeira nomeada transgénero da história da Academia.
Mesmo com toda a polémica, este pode ser o terceiro ano em que um mexicano ganha o Óscar de Melhor Realização. E Alejandro González Iñárritu pode não só tornar-se, com "The Revenant: O Renascido", o terceiro cineasta da história a conseguir o Óscar de Melhor Realização em dois anos seguidos, mas também o primeiro a dirigir dois vencedores consecutivos do Óscar de Melhor Filme.
Valerá também a pena recordar que provavelmente esta será a noite em que Leonardo DiCaprio, uma quase desconhecida Brie Larson, Sylvester Stallone, a dinamarquesa Alicia Vikander, o lendário Ennio Morricone e até o improvável "Mad Max: Estrada da Fúria" vão ganhar Óscares?
Serão estas razões suficientes para esquecer as polémicas e festejar a grande noite de Hollywood?
Percorrendo a lista de nomeações, "The Revenant: O Renascido" leva Alejandro González Iñárritu aos Óscares apenas um ano após a consagração com "Birdman": o épico de sobrevivência lidera com 12 nomeações, destacando-se as de Melhor Filme, Realização e Leonardo DiCaprio e Tom Hardy, este como ator secundário, o que não era consensual e apenas reforça o estatuto do filme como favorito.
Outra história de sobrevivência está também em grande destaque: "Mad Max: Estrada da Fúria" teve 10 nomeações, incluindo as de Melhor Filme e Realização para George Miller, mas sobretudo nas categorias técnicas.
Os outros filmes nomeados para o Óscar principal são "Brooklyn" (3 categorias), "O Caso Spotlight" (6), "Perdido em Marte" (7), "A Ponte dos Espiões" (6), "Quarto" (4) e "A Queda de Wall Street" (5).
Sylvester Stallone é o favorito sentimental nos atores secundários e o mais provável vencedor. A proeza é gigantesca: está nomeado pela segunda vez na sua carreira, pela mesma personagem, e 39 anos separam "Rocky" e "Creed: O Legado de Rocky".
A estrela compete com Hardy, Christian Bale ("A Queda de Wall Street"), Mark Ruffalo ("O Caso Spotlight") e Mark Rylance ("A Ponte dos Espiões").
Na categoria de ator principal, DiCaprio tem a companhia de Bryan Cranston ("Trumbo"), Matt Damon ("Perdido em Marte"), Michael Fassbender ("Steve Jobs") e Eddie Redmayne ("A Rapariga Dinamarquesa").
Nas atrizes encontramos Cate Blanchett ("Carol"), Brie Larson ("Quarto"), Jennifer Lawrence ("Joy"), Charlotte Rampling ("45 Anos") e Saoirse Ronan ("Brooklyn").
Nas secundárias foram nomeadas Jennifer Jason Leigh ("Os Oito Odiados", que de resto está muito discreto nas nomeações), Rooney Mara ("Carol"), Rachel McAdams ("O Caso Spotlight"), Alicia Vikander ("A Rapariga Dinamarquesa") e Kate Winslet ("Steve Jobs").
Apesar de serem antecedidos por outros prémios, as nomeações da Academia reservaram algumas surpresas.
Entre as mais importantes estão a ausência de "Carol", "Joy" e "Os Oito Odiados" nas corridas a Melhor Filme e Realização, de Jane Fonda e Helen Mirren nas secundárias e Aaron Sorkin pelo argumento de "Steve Jobs". E o maior sucesso da temporada,"Star Wars: O Despertar da Força", ficou relegado às categorias técnicas.
Nas longas-metragens de animação, o brasileiro "O Menino e o Mundo" e o japonês dos estúdios Ghibli "Memórias de Marnie" empurraram para fora produções de grandes estúdios de Hollywood como "A Viagem de Arlo", "Snoopy e Charlie Brown: Peanuts - O Filme" e "Mínimos".
Um dos maiores choques nas nomeações foi o da ausência de Ridley Scott, que ficou de fora na corrida para melhor realização por "Perdido em Marte", tanto mais que era considerado um favorito sentimental à vitória. No seu lugar está Lenny Abrahamson pelo "indie" Quarto".
A este juntaram-se Iñárritu, Miller, Tom McCarthy por "O Caso Spotlight" e Adam McKay por "A Queda de Wall Street". De fora também ficou Steven Spielberg por "A Ponte dos Espiões".
Entre as maiories curiosidades na lista estão a nomeação de Lady Gaga com Diane Warren pela canção de "The Hunting Ground", a 13ª pela fotografia de "Sicario - Infiltrado" de Roger Deakins, que ainda nunca ganhou, a quarta nomeação aos 25 anos de Jennifer Lawrence, que Meryl Streep só atingiu aos 35, bem como a presença de duas lendas na banda sonora: John Williams , que atingiu as 50 nomeações com "O Despertar da Força", um recorde entre as personalidades vivas, e Ennio Morricone, que pode ganhar o seu primeiro Óscar competitivo graças a "Os Oito Odiados" depois de ter um honorário.
A cerimónia dos Óscares acontece esta madrugada, pela 1h30, hora de Portugal, e tem transmissão em direto na televisão pela SIC e pela SIC Caras. O SAPO e o SAPO MAG vão também acompanhar a cerimónia com comentários ao minuto.
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