O Festival Internacional de Cinema do Saara apelou ao cineasta vencedor dos Óscares Christopher Nolan para que não volte a filmar no Saara Ocidental, que é em grande parte controlado por Marrocos, onde esteve recentemente para cenas de "A Odisseia", a sua próxima longa-metragem, disse na quarta-feira à agência France-Presse (AFP) a sua diretora executiva.

"Pedimos a Nolan que se solidarize com o povo sarauí", disse Maria Carrion.

O Festival Internacional de Cinema do Saara (FiSahara) realiza-se anualmente nos campos de refugiados sarauís na Argélia.

O cineasta americano-britânico, que triunfou nos Óscares com "Oppenheimer", esteve recentemente na cidade de Dakhla, no Saara Ocidental, segundo relatos da comunicação social marroquina, para o seu novo filme, que tem estreia prevista para 2026 e conta com um elenco de estrelas: Matt Damon, Zendaya, Tom Holland, Robert Pattinson, Zendaya, Lupita Nyong’o e Charlize Theron, entre outros.

Mehdi Bensaid, ministro da cultura marroquino, expressou a sua satisfação com o impacto futuro desta rodagem ao 'site' Médias 24.

"É evidente que este filme dará a Dakhla maior visibilidade cinematográfica como um destino de rodagem, não apenas como turístico", garantiu.

O Saara Ocidental, ex-colónia espanhola até 1975, é em grande parte controlado por Marrocos, mas considerado um território não autónomo pelas Nações Unidas. Um conflito no local coloca Marrocos contra os separatistas da Frente Polisário, apoiados pela Argélia, há 50 anos.

"Sentimos que ter Nolan lá, a filmar numa duna de areia — quando há tantas outras dunas à vola do mundo que poderia ter escolhido, que não estão em território ocupado — equivaleu a legitimar a ocupação e reforçar o colonialismo no Saara Ocidental", disse Maria Carrion.

Agora que Christopher Nolan parece ter terminado a rodagem em Dakhla, o festival insta-o a não utilizar as imagens já filmadas.

"Ele não obteve a autorização dos sarauís para filmar ou usar essas imagens. Obteve a autorização de uma potência ocupante, o que não constitui um acordo genuíno", insistiu a diretora executiva do FiSahara, que afirma acreditar que o cineasta e a sua equipa não foram "corretamente informados" sobre o contexto.

Rabat propõe um plano de autonomia sob a sua soberania para este vasto território desértico, que considera parte integrante do reino de Marrocos. Os separatistas da Frente Polisário, por sua vez, continuam a exigir um referendo sobre a autodeterminação.