Com a inundação de novas redes sociais, serviços de streaming e torrents, o risco de ser hackeado aumenta a cada hora. Quando muita gente já tinha esquecido desse perigo, chega a nova série "Mr. Robot", uma fusão mais realista de "24", "The Matrix" e "Person of Interest", para nos relembrar que existem hackers capazes de tudo e mais um pouco!
A série segue a vida de Elliot (interpretado por Rami Malek), um génio da informática que trabalha numa empresa de segurança cibernética em Nova Iorque, cujo cliente majoritário é a E Corporation, da qual Elliot chama de Evil Corporation, uma empresa semelhante à Apple, que parece ter praticamente monopolizado a indústria de computadores (e toda a parafernália tecnológica imaginável). Depois de ser testado por um homem misterioso que se intitula “Mr. Robot” (Christian Slater), é convidado para juntar-se ao seu grupo de “hacktivistas”. Elliot sente-se então dividido entre o seu lado que reclama sempre sobre o “top one percent of the top one percent of the guys that play God without permission”, uma grande maioria da humanidade, o materialismo e idolatria, e o lado que desconfia das verdadeiras intenções de Mr. Robot (que na minha opinião, parece ter mais a ideologia de um terrorista cibernético do que a de um vigilante da Internet).
A USA Network, que irá estrear a série no pequeno ecrã em 24 de junho, decidiu lançar o piloto na Internet quase um mês antes. Se a estratégia era deixar-nos a querer mais, o canal triunfou.
Este poderá ser um dos melhores pilotos deste ano, e uma ótima aposta para o verão de 2015, e baseio este argumento somente pelo piloto. Para além do enredo cativante e que faz um evidente comentário à sociedade de hoje, que não se descola das redes sociais e ignora o facto de que há que proteger a sua privacidade, as interpretações em Mr. Robot surpreenderam-me, especialmente a de Rami Malek, que até agora não tinha mostrado uma personagem interpretada tão subtilmente, cuja complexidade e idiossincrasia incita empatia do público. Elliot é a minha personagem favorita numa série de drama, simplesmente pelo facto de que não tenta seguir ao estereotípico hacker: cabelo por cortar, anda regularmente em estabelecimentos Starbucks para usar a wi-fi pública, usa óculos e T-shirts de marca, sempre sabe dizer uma piada inteligente quando é necessário e quando quer infiltrar no FBI ou a NSA, basta clicar no grande botão vermelho “hackear”.
Elliot é um jovem calado, que sofre ansiedade social, depressão, tem ataques de choro por sentir-se constantemente sozinho, não gosta de contato pessoal (à exceção de amigos muito próximos) e sente afeição por (muito poucas) pessoas de uma maneira bizarra, mas doce, considerando-as toleráveis, e infiltrando nas contas pessoais delas. A maneira como o episódio é narrado por Elliot dá-nos muito mais informação sobre a personalidade da personagem principal do que eu poderia imaginar. Apesar de estar sempre a ponderar nos eventos que ocorrem à sua volta, afetando não só a si mas também a empresa onde mora, quem vê a série pergunta a si mesmo se o que está a acontecer é mesmo real, ou se é o fruto da mente imaginativa de Elliot (o ar perpétuamente assustado e o vício em morfina não ajuda a acreditar que Elliot está a ser seguido por homens de negro!). Algo que devo salientar é o facto de que Elliot narra o episódio inteiro como se estivesse a falar com um amigo imaginário, questionando vária vezes se o que está a acontecer é mesmo real, como o facto de que foi abordado por um grupo de hackers, seguido por agentes privados e nos últimos minutos do episódio, levado à força pelos mesmos agentes ao escritório dos CEO’s da Evil Corporation. A última fala da personagem é exatamente “Tell me you’re seeing this too”, enquanto olha intensamente para a câmara. Deu-me arrepios!
À primeira vista, "Mr. Robot" aparenta ser uma mini-série publicada na Netflix que dura apenas 10 episódios, mas ao ver mais de perto, consegue-se ver uma série com grande potencial. Mal posso esperar pelos próximos episódios...
Nota: 10/10
Cátia Neto
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