Ascension, a mini série de seis episódios da Syfy, segue a história da nave com o mesmo nome, que partiu da Terra, em 1963, rumo a um novo mundo, numa viagem que demorará cem anos.
Nos EUA, durante a governação de Kennedy, o sonho de procurar locais onde fosse possível a sobrevivência humana era impulsionado pelo presidente. Inspirada no Project Orion, Ascension segue a viagem da nave até ao novo mundo, o Planeta Proxima Centauri, onde a noite nunca existirá, já que o planeta orbita num complexo sistema solar de três estrelas.
Muito sinteticamente, há que referir que a micro-sociedade da nave divide-se em dois escalões: o superior, onde pertencem todas as pessoas consideradas importantes; e o inferior, onde predomina a classe trabalhadora. O enredo situa-nos a 51 anos após a partida, a nave encontra-se então no ponto em que terá de decidir se prossegue a viagem até Proxima, ou se regressa à Terra. O combustível e os mantimentos não permitem que Ascension sobreviva mais que 101 anos, para uma viagem de 100 anos, até que não estão mal. A viagem será feita em três gerações e a população, a determinada altura, sofre uma perturbação psicológica resultante do isolamento e à predestinação das suas vidas.
Tudo correria com normalidade, até que Lorelei foi encontrada morta, o primeiro homicídio deste a partida da nave. Completamente incapacitados, já que não têm experiência ou formação para lidar com este tipo de situação, Gault, o XO da nave, começa a investigar o caso. Tudo indicaria que seria Stokes, uma espécie de mafioso do escalão inferior, já que havia sido ele a fornecer a arma a Lorelei. James, o namorado de Lorelei, também foi um dos suspeitos, mas Gault depressa o libertou. Graças à misteriosa Christa, Gault, já no fim do episódio, encontra um novo suspeito, Denninger, o capitão da nave tinha todos os motivos para assassinar a jovem, já que, alegadamente, teriam um caso e ela ameaçava-o de tornar pública a relação.
Mas a situação vai mudando de figura no decorrer do episódio, pois pequenas pistas vão-nos sendo apresentadas. Harris Enzmann segue as pisadas do pai no projeto secreto Ascension. A nave nunca partiu da Terra e, possivelmente, nem terá capacidade de voo. Trata-te apenas de uma experiência iniciada em 1963 de observação de como a população humana sobreviveria numa longa viagem, ou mesmo em isolamento total durante longos períodos. Esta revelação, sendo dada logo no episódio piloto, acaba por eliminar toda a magia proporcionada pela ficção-científica, transformando Ascension num drama de teor existencialista com uma pitada de suspense e mistério.
Parti para a visualização da série com alguma expetativa, mas consciente de que se trata de uma série da Syfy, canal que, apesar de vocacionado para a ficção-científica, não tem conseguido desenvolver grandes títulos no género em questão. O enredo tem bastante potencial, no entanto, foi mal desenvolvido neste piloto, arrastando-se demasiado e tendo alguns erros grosseiros de casting. Mesmo assim, as caras mais conhecidas, tais como Tricia Helfer, vão salvando a situação.
À primeira vista, Ascension não é uma série de topo, mas tem algo agradável e merece uma hipótese. O suspense, as traições, a luta pelo poder, as mentiras e as manipulações, fazem desta série um drama moderadamente aprazível. No entanto, se a vossa aventura em Ascension se deve apenas pela parte de ficção-científica, esqueçam, ou terão uma valente desilusão.
Por fim, resta-me mencionar que a banda sonora é fabulosa, consegue utilizar alguns dos êxitos da 1ª metade do século XX e lançá-los na cena correta… foi, de facto, muito bem escolhida.
Nota: 6.5/10
Rui André Pereira
Comentários