E à sexta temporada, "Segurança Nacional" falhou a pontaria. Esta observação não é, entenda-se, uma crítica aos novos episódios da produção da Showtime (transmitida em Portugal pela FOX), antes sintoma de um caso em que a realidade se mostrou mais delirante do que a ficção, contra boa parte das expectativas.
Até há poucos meses, meio mundo dava como certa a vitória de Hillary Clinton nas eleições presidenciais dos EUA, e entre os que acreditavam na vitória da candidata democrata contava-se Alex Gansa, showrunner e produtor executivo da série protagonizada por Claire Danes. E acreditava tanto que uma das novas personagens da sexta temporada é Elizabeth Keane, a primeira Presidente dos EUA... mas só mesmo na série, já que fora dela, no mundo real, Donald Trump fintou as previsões de muitos ao assegurar o cargo.
"A incerteza de uma presidência a cargo de Donald Trump ultrapassa os limites da imaginação", admitiu Gansa numa entrevista recente à Variety. "Tivemos receio de que o que se está a passar no mundo real seja muito mais incerto do que o que estamos a dramatizar na televisão", assumiu ainda.
Do mundo para o bairro
Se em relação ao desfecho das eleições "Segurança Nacional" deu um dos poucos tiros ao lado (embora o engano seja mais do que compreensível) depois de ter acompanhado de forma invulgarmente próxima e credível o contexto político norte-americano (e não só), noutras abordagens promete continuar a ser certeira - até porque a equipa não dispensou a habitual visita anual a Washington, elemento-chave da vasta pesquisa feita antes de cada época.
O facto de a estreia da temporada ter sido adiada para o início de 2017, quando as anteriores estrearam nos últimos trimestres do ano, foi um esforço de fazer corresponder a ação dos novos episódios com período entre a eleição do novo presidente norte-dos EUA e a sua tomada de posse. Trump terá o seu momento de glória já no próximo dia 20, a personagem interpretada por Elizabeth Marvel na série (atriz que curiosamente também foi candidata presidencial em "House of Cards") prepara-se para fazer o mesmo no arranque da nova época.
Além desta sintonia temporal, a trama vai mergulhar nos atritos entre Elizabeth Keane e a CIA ou outras organizações de serviços secretos, o que não será um episódio inédito para quem tem acompanhado os últimos passos do presidente eleito. Entre outros temas centrais está o acolhimento de muçulmanos nos EUA, missão à qual Carrie Mathison se entrega ao mudar-se de Berlim, cenário da quinta temporada, para Nova Iorque, ambiente dominante dos próximos capítulos. O bairro de Brooklyn vai ter especial atenção, sendo aí que a protagonista tenta ser uma mãe dedicada, longe do álcool e com a medicação para a bipolaridade em dia, afastando-se ainda mais da espionagem para integrar uma nova fundação.
Mas "Segurança Nacional", já se sabe, nunca dá muito tempo de descanso à personagem de Claire Danes. A nova fase volta a colocá-la no rumo de um jovem muçulmano acusado de ligações ao terrorismo depois de uma relação comparável ter sido o rastilho da quarta temporada, a tal que deu novo fôlego à série depois do adeus definitivo a Nicholas Brody (uma prova de integridade narrativa que outras séries muito populares, como "Prison Break" ou "A Guerra dos Tronos", não tiveram coragem de dar ao trazerem personagens de volta após a suposta última despedida). Só que se então a trama foi quase sempre ambientada no Médio Oriente, agora o adolescente em causa, Sekou Bah, é um imigrante norte-americano que tem a internet como palco e um temperamento que não facilita a empatia do espectador, garante o showrunner.
Os suspeitos do costume (mas um está bem diferente)
O regresso inevitável de Carrie Mathison é acompanhado pelos de Saul Berenson (Mandy Patinkin) e Dar Adal (F. Murray Abraham), pontes entre o arco narrativo da protagonista e o da nova presidente, mas o mais aguardado pela maioria dos fãs será o de Peter Quinn (Rupert Friend), tido como incerto depois da exposição do agente a armas químicas na reta final da quinta temporada. Nesta altura, a confirmação de que o acidente não foi trágico dificilmente poderá ser considerado um spoiler. Àinda assim, Alex Gansa tem garantido que as reviravoltas em torno da personagem não terminaram, uma vez que o vamos encontrar "profundamente alterado". "Tem sido uma experiência interessante explorar este novo conceito de Peter Quinn", sublinhou o showrunner à Variety.
Embora a sexta temporada tenha acabado de estrear no outro lado do Atlântico, estão confirmadas mais duas, mas a oitava deverá ser mesmo a última. Ou pelo menos é essa a vontade de Gansa, que só vai trabalhar na série até 2019, segundo avançou em setembro do ano passado ao NME. Depois de Nova Iorque, a ação vai passar pelos Emirados Árabes Unidos e Israel, apesar de as gravações da sétima temporada terem decorrido em cidades marroquinas. Até lá, teremos de ver se o elenco consegue manter-se ileso face à tomada de posse da nova presidente e a mais ameaças de terrorismo nos EUA.
A sexta temporada de "Segurança Nacional" estreia esta quarta-feira, às 23h10, na FOX.
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