O ponto de partida era despertar uma reação do espectador. Se isso implicasse provocá-lo, inquietá-lo, desorientá-lo, então ainda melhor. E como em equipa em que ganha não se mexe, "Black Mirror" continua a ter doses generosas de miséria para desconcertar quem a vê, avançou Charlie Brooker, com algum sarcasmo, na defesa de uma série que não faz questão de agradar.

Mas na entrevista ao SAPO Mag durante um encontro com a imprensa em Londres, o criador da produção britânica admitiu também que este olhar sobre um futuro não muito distante - ou quem em alguns aspectos talvez até já tenha chegado - não quer ser um jogo onde vale tudo. E prova disso é o tom mais variável dos seis novos capítulos centrados na relação do Homem com a tecnologia, nem sempre tão pessimistas como os das duas temporadas anteriores - estreadas no Channel 4, a partir de 2011, antes de a série ser adquirida pela Netflix, o que explicará o orçamento mais avultado dos episódios acabados de estrear e a renovação já anunciada para uma quarta época.

O modelo narrativo que gerou culto e aplauso crítico mantém-se: cada capítulo, com cerca de uma hora de duração, tem o seu próprio mundo e personagens, não havendo continuidade entre as várias histórias. "Todos os episódios têm uma identidade mais forte e demarcada sem deixarem de fazer sentido no universo de 'Black Mirror'", explicou Brooker, que os comparou a pequenos filmes. E o paralelismo faz mais sentido quando não faltam nomes habitualmente associados ao cinema na nova temporada, sobretudo atrás das câmaras: Joe Wright ("Expiação", "Hanna"), Dan Trachtenberg ("10 Cloverfield Lane"), James Watkins ("Eden Lake", "A Mulher de Negro") e Owen Harris ("Kill Your Friends") estão entre os realizadores convocados.

O criador da série destaca "Nosedive", dirigido por Wright e protagonizado por Bryce Dallas Howard, como um dos sinais mais claros desta mudança na continuidade. "Não se parece com nada que tenhamos feito mas só podia ser uma história de 'Black Mirror'", realça ao apresentar um episódio onde o real e o virtual se cruzam de forma assustadora e algo inédita. E dos que sugerem que o salto do agora para o amanhã ali apresentado pode não se limitar ao de umas horas em regime binge-watching.

O SAPO Mag viajou a convite da Netflix.

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