
Os procuradores do Ministério Público de Nova Iorque que abriram na quarta-feira o novo julgamento do antigo magnata de Hollywood Harvey Weinstein por violação e agressão sexual descreveram como ele ignorou os apelos das suas vítimas para que parasse e abusou da sua posição para fazê-las "sentirem-se pequenas".
O julgamento, que começou com a seleção do júri na semana passada, apresentará as sobreviventes que ajudaram a desencadear o movimento #MeToo a testemunhar contra Weinstein mais uma vez.
O ex-líder do estúdio Miramax foi acusado de agressão sexual à ex-assistente de produção Mimi Haleyi em 2006, de violação da aspirante a atriz Jessica Mann em 2013. Enfrenta ainda uma nova acusação por alegada agressão sexual a uma jovem de 19 anos em 2006.
A procuradora assistente Shannon Lucey relatou as alegadas agressões de Weinstein em detalhes gráficos, dizendo que as três mulheres imploraram para que parasse, mas ele tinha "todo o poder... ele fez todas estas mulheres sentirem-se pequenas".
A procuradora descreveu como Weinstein importunou Haleyi com vários pedidos de massagens e favores sexuais antes que ela se encontrasse sozinha um dia com ele num apartamento em 2006.
"O réu, três vezes maior do que ela, beijou-a, apalpou-a e ela disse novamente que não estava interessada", disse Shannon Lucey.
"Ele puxou Mimi para perto de si... Ela rapidamente percebeu que ele não aceitaria um não como resposta", acrescentou a procuradora.
Foi a seguir descrito como Weinstein forçou então Haleyi a fazer sexo oral, apesar dos apelos para que parasse.
O premiado produtor de cinema, que foi levado ao tribunal de Manhattan numa cadeira de rodas e vestindo um fato escuro, olhava ocasionalmente para o júri enquanto começava o julgamento.
Lucey descreveu o réu como "um dos homens mais poderosos da... indústria", dizendo ao júri, composto maioritariamente por mulheres, que "quando ele queria alguma coisa, agarrava-a".
"Novo olhar"
Kaja Sokola, que não participou no julgamento anterior, era aspirante a modelo e tinha 19 anos na época em que alega ter sido abusada sexualmente por Weinstein num hotel em Manhattan.
Os acusadores descrevem o antigo produtor como um predador que usava a sua posição no topo da indústria cinematográfica para pressionar atrizes e assistentes por favores sexuais, muitas vezes em quartos de hotel.
Mas Arthur Aidala, advogado de defesa de Weinstein, enfatizou que a declaração inicial da acusação não era "todo o filme", argumentando que o júri não ouviria nenhuma evidência de uso de força ou falta de consentimento.
O advogado disse que Mann apresentou Weinstein à sua mãe após a alegada violação e que Haleyi teve "sexo consensual" com Weinstein após o alegado ataque.
"Inocente, inocente, inocente", disse ao júri.
Após a conclusão das declarações iniciais, os depoimentos das testemunhas começaram e continuarão esta quinta-feira.
A apresentação das provas no novo julgamento deve durar de cinco a seis semanas.
As condenações de Weinstein em 2020 contra Haleyi e Mann foram anuladas no ano passado por um tribunal de recurso de Nova York, que decidiu que a forma como as testemunhas foram tratadas no julgamento original fora ilegal.
O representante do produtor, de 73 anos, disse esperar que o seu caso seja julgado com "um novo olhar", mais de sete anos após a queda espetacular e a reação global contra abusadores predatórios.
Weinstein já está a cumprir uma pena de 16 anos de prisão após ser condenado por violar e agredir uma atriz europeia há mais de uma década.
Mais de 80 acusadoras

Produtor de sucessos de bilheteira como "Sexo, Mentiras e Vídeo", "Pulp Fiction" e "A Paixão de Shakespeare", Weinstein tem lutado contra problemas de saúde.
Ele nunca reconheceu qualquer irregularidade e sempre afirmou que os encontros foram consensuais.
Desde a sua queda, Weinstein foi acusado de assédio, agressão sexual ou violação por mais de 80 mulheres, incluindo Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow, Lupita Nyong'o e Ashley Judd.
Em 2020, um júri de nova-iorquinos considerou Weinstein culpado de duas das cinco acusações — a agressão sexual de Haleyi e a violação de Mann, mas a condenação e a pena de 23 anos foram anuladas em abril de 2024.
Numa decisão disputada, de quatro votos a três, um tribunal de recurso de Nova Iorque decidiu que os jurados não deveriam ter ouvido depoimentos de vítimas sobre agressões sexuais pelas quais Weinstein não foi indiciado.
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