O grupo News Corp Australia, detido por Rupert Murdoch e a sua família, vai ter de pagar a Geoffrey Rush pelo menos 850 mil dólares australianos [cerca de 549 mil euros] no âmbito de um processo de difamação contra o jornal australiano Sydney Daily Telegraph.
A sentença do caso lida esta quinta-feira em Sydney considerou que o ator de 67 anos foi retratado como um "pervertido" e "predador sexual" que "fez um ataque sexual no teatro" em vários artigos de Jonathon Moran publicados em novembro de dezembro de 2017, onde era acusado de comportamentos inapropriados durante a produção da peça "Rei Lear" em 2015, na Companhia de Teatro de Sydney.
Os argumentos de "defesa da verdade" do Telegraph não convenceram o juiz Michael Wigney, que agravou o valor da indemnização por causa da má conduta jornalística, descrita como "uma peça irresponsável de jornalismo sensacionalista do pior tipo".
Eryn Jean Norvill, que interpretou a filha de Lear, Cordelia, na produção, não falou com o The Daily Telegraph antes de os artigos serem publicados, mas concordou em testemunhar a favor do jornal no julgamento.
A atriz de 34 anos testemunhou que, enquanto fingia estar morta durante a peça, Rush acariciou a parte lateral do seu peito direito e a anca com a mão.
Rush negou as alegações de que tocou deliberadamente no peito de Norvill, nas suas costas ou debaixo da camisa enquanto ambos estavam nos bastidores e que lhe fez gestos ou comentários obscenos.
O juiz colocou em causa a sua credibilidade, descrevendo-a como "propensa a exagerar e embelezar" e que tinha sido desmentida pelo encenador e dois atores da peça.
Avisou ainda que Rush poderá ter direito a uma indemnização maior pelas oportunidades de trabalho perdidas e custos económicos, que será determinada a 10 de maio.
Os seus advogados estimam que em cinco milhões de dólares os prejuízos entre a publicação dos artigos e o início do julgamento em outubro de 2018.
A sentença refere que é improvável que Rush receba ofertas substanciais nos primeiros 12 meses após a sua reputação ter sido restaurada pelo veredito e que até aos 18 o salário provavelmente será metade do que era. A seguir, até aos 24 meses, o juiz espera que possa ganhar 75% do que recebia antes.
Isto significa que a indemnização pode chegar aos milhões por causa da carreira internacional, onde, além de um Óscar por "Shine" (1996), estão filmes como "O Discurso do Rei" e a saga "Piratas das Caraíbas".
Após as acusações divulgadas nos artigos, o ator pediu a demissão da presidência da Academia de Cinema australiana (AACTA) e não trabalha desde a rodagem de "Storm Boy" em agosto de 2017.
Durante o julgamento, a sua esposa revelou que não queria voltar a representar e veio abaixo quando viu o título do primeiro artigo, "King Leer" [um trocadilho que alude a um comportamento lascivo], em novembro de 2017.
O seu advogado disse que sofria de "falta de sono e ansiedade que requer medicação" e acreditava que o seu valor para a indústria do entretenimento estava "irremediavelmente prejudicado".
O Sydney Daily Telegraph pode apelar do valor agora estipulado e da sentença, mas isso não afeta a decisão marcada para 10 de maio.
Fora do tribunal, a atriz Erin-Jean Norvill disse que mantinha o seu depoimento e que nunca teve a intenção de seguir a via judicial, considerando que o caso "causou dor a todos".
Fora do tribunal, Rush agradeceu à família pelo apoio, dizendo aos jornalistas presentes que “tem sido extremamente angustiante para todos os envolvidos".
Já em dezembro de 2018, a atriz da série “Orange Is the New Black” Yael Stone acusou Rush, em declarações ao The New York Times, de comportamentos sexualmente inapropriados, durante a peça “The Diary of a Madman".
Em declarações sobre o caso, Geoffrey Rush disse que as alegações estavam "incorretas e, em alguns casos, foram retiradas completamente fora do contexto".
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