A liderança da Disney prevaleceu na quarta-feira numa dispendiosa 'guerra por procuração' e de elevada visibilidade entre acionistas contra investidores ativistas que procuravam abalar a composição do conselho de administração.
Em causa estavam temas como o corte de despesas, a renovação das operações de streaming e o planeamento de sucessão do presidente executivo Bob Iger.
A gigante do entretenimento disse que toda a sua lista de 12 candidatos foi eleita por uma “margem substancial”, revertendo os esforços dos fundos Trian Fund Management e da Blackwells Capital para eleger representantes.
“Quero agradecer aos nossos acionistas pela confiança depositada no nosso Conselho e na nossa gestão”, disse Bob Iger, num comunicado de imprensa.
"Com o distrativo processo da 'guerra por procuração' já ultrapassado, estamos ansiosos para concentrar 100% da nossa atenção nas nossas prioridades mais importantes: crescimento e criação de valor para os nossos acionistas e excelência criativa para os nossos consumidores", acrescentou.
A Trian Capital criticara o conselho da Disney por um planeamento de liderança fracassado após a empresa reintegrar Bob Iger, que deixara o seu cargo em 2020, destituindo o seu sucessor em novembro de 2022, num movimento que chocou Hollywood.
Os esforços eram liderados investidor multimilionário Nelson Peltz, que causou sensação nas últimas semanas antes da votação ao dizer que os filmes da Disney passaram a estar demasiado focados em apresentar uma 'mensagem' e menos na qualidade das suas histórias, criticando especificamente os filmes da Marvel 'só com mulheres e negros'.
Peltz nomeou-se a si mesmo e ao ex-diretor financeiro da Disney Jay Rasulo para o conselho – provocando um grande conflito com Iger e outros executivos da Disney.
A Trian, que instara os acionistas a reter os votos de outros dois membros do conselho – Michael Froman e Maria Elena Lagomasino – reagiu com graciosidade quando foram reeleitos com os que foram escolhidos a dedo pela Disney.
Embora “desiludida” com a votação dos acionistas, a Trian disse estar “orgulhosa” do seu impacto.
“Desde que voltámos a trabalhar com a empresa no final de 2023, a Disney anunciou uma série de novas iniciativas operacionais e planos de melhoria de capital. O conselho foi renovado com dois novos diretores”, destaca o fundo.
“Iremos acompanhar o desempenho da empresa e focarmo-nos no seu sucesso contínuo”, acrescenta o comunicado.
Segundo algumas estatísticas fornecidas pela Disney e citadas pelo Deadline, esta foi a maior derrota de Peltz numa 'guerra por procuração', notando que o multimilionário de 81 anos já esteve envolvido em várias: recebeu menos de 31% dos votos dos acionistas, enquanto a candidatura de Bob Iger teve o apoio de 94%.
Peltz perdeu para a gestora Maria Elena Lagomasino numa diferença de dois a um, enquanto Rasulo perdeu para ela por 5 a 1.
No que é descrito como uma importante demonstração de apoio, cerca de 75% da grande base de pequenos acionistas da Disney apoiou a proposta da empresa: existem alguns grandes investidores institucionais, mas cerca de 40% das ações pertencem a pessoas individuais, o que terá sido um importante fator na guerra.
Peltz lançou a campanha no final do ano passado, apontando para as margens de lucro abaixo da média da Disney nos seus negócios de streaming e media em geral e para a má gestão.
"A raiz do mau desempenho da Disney (...) é um conselho que está intimamente ligado a um CEO de longa data e muito desligado dos interesses dos acionistas", disse o fundo Trian em dezembro.
Em comunicações mais recentes, a Trian, que detém 32,4 milhões de ações, ou quase 2% da Disney, suavizou as suas críticas pessoais a Iger, ao mesmo tempo que destacou os esforços desajeitados da Disney para encontrar um novo líder.
Em julho do ano passado, a empresa estendeu o contrato de Iger até o final de 2026, dando-lhe mais dois anos para uma missão que fora originalmente concebida como um trabalho de dois anos.
“O conselho estragou o seu trabalho mais importante – a sucessão do CEO. Esta campanha não é sobre o senhor Iger nem é um referendo sobre a sua liderança", dizia a Trian em comunicado de 25 de março.
Existia outro elemento a aumentar a intriga: 79% das ações da Trian pertencem a Ike Perlmutter, ex-presidente da Marvel Entertainment.
Isto levou a Disney a destacar que a campanha era alimentada por uma “agenda pessoal de longa data” contra Iger, que afastou Perlmutter da liderança da Marvel Studios em 2015 após uma disputa sobre orçamentos entre ele e Kevin Feige, e o despediu formalmente em março de 2023.
Num esforço separado mas paralelo, outro fundo de investimento, o Blackwells Capital, propôs três membros para o conselho, dizendo que o atual era demasiado próximo de Iger, mas a sua campanha nunca ganhou grande impacto
Nos dias que antecederam a reunião de quarta-feira, a Disney enviou cartas aos acionistas ampliando os comentários do ex-CEO Michael Eisner, alertando que instalar um estranho como Peltz “para perturbar Bob e o seu eventual sucessor é brincar não apenas com fogo, mas também com terramotos e furacões".
A empresa também destacou a adição de novos membros ao conselho, incluindo o ex-CEO do Morgan Stanley James Gorman, que foi elogiado por uma transição tranquila no banco de investimento.
O Wall Street Journal estimou que a guerra poderia custar ao todo mais de 70 milhões de dólares, o que a tornaria a guerra entre acionistas mais dispendiosa de todos os tempos.
Nos últimos dias, a imprensa dos EUA, citando fontes não identificadas, dava conta que a expectativa era que a Disney prevalecesse nesta "guerra por procuração".
A posição de Iger foi reforçada pelos fortes lucros trimestrais em fevereiro e o anúncio de um forte aumento de dividendos e de grandes recompras de ações.
Charles Elson, diretor fundador do Centro Weinberg de Gestão Corporativa da Universidade de Delaware, notou que a Disney tem lutado com a questão da sucessão “há anos”, apontando para uma transição acidentada que acabou por levar Iger a assumir o lugar de Eisner.
“O conselho fez um péssimo trabalho na sucessão”, disse Eisner, que notou antes da votação que, mesmo com uma vitória, a Disney estaria “sob um microscópio” para mostrar melhorias.
As ações da Disney caíram 1,8% nas transições durante a tarde.
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