A peça “Corre, bebé!”, de Ary Zara e Gaya de Medeiros, estreou-se na quinta-feira, em Guimarães, como uma reflexão sobre o que é uma família e como cada pessoa se relaciona dentro dela.

Vencedora da 7.ª edição da Bolsa Amélia Rey Colaço (que junta Teatro Nacional D. Maria II, A Oficina, O Espaço do Tempo e Teatro Viriato), a peça foi apresentada no pequeno auditório do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, tendo já agendadas outras apresentações nos demais parceiros do projeto.

De acordo com a sinopse, “Corre, bebé!” é sobre um “um casal de pessoas trans, situadas num cenário pós-apocalíptico (e quem não está?) [que] pensa sobre o que pode ser gerar bebés nesse contexto”.

“Expectativas, problemas conjunturais e inseguranças são abordados de forma poética, desenhando os receios e sonhos que podem surgir ao acompanhar o desenvolvimento de uma nova pessoa num futuro incerto. Quantas pessoas cabem nesse futuro?”, acrescenta o texto.

Segundo Gaya de Medeiros, que também dirige e interpreta, “a peça são duas pessoas trans que estão nessa expectativa dessa terceira pessoa que vai chegar e a dramaturgia da peça tenta ser uma narrativa que já começa dizendo que vai ser a história de um berço que está a ser montado para ser desmontado”.

Desenrolando-se ao longo de 10 dias, há desde logo “um certo fim que está anunciado”, que também é o fim da relação entre as duas personagens que protagonizam o espetáculo, mas não da sua ligação.

Ao longo da peça há um terceiro elemento em palco, que vai filmando com um telemóvel, culminando o espetáculo com a exibição das imagens criadas por essa pessoa na caixa do berço.

Os dois protagonistas, entretanto, seguem as suas vidas e ligam-se a outros parceiros, mostrando assim que há “quatro pessoas no mundo para cuidar desse bebé”.

No fundo, como explicou Gaya de Medeiros, há no espetáculo uma “tentativa de ampliar a ideia de família”, uma vez que a noção de que é precisa uma comunidade para educar uma criança por vezes se torna “muito utópica”.

Assim, os criadores da peça quiseram “ressignificar uma ideia de divórcio que pode ser não só de fim ou de fracasso”.

Entre 20 e 29 de junho, “Corre, bebé!” vai estar em cena na sala estúdio Valentim de Barros, nos Jardins do Bombarda, em Lisboa, e em 4 de julho chega ao Teatro Viriato, em Viseu.

De acordo com Gaya de Medeiros, que já tinha partilhado criação e atuação de um espetáculo com Ary Zara em “Atlas da Boca”, está prevista a apresentação da peça em Genebra, em janeiro, com a intenção de circular a nível internacional.