
O argumentista e realizador norte-americano James Toback foi condenado na quarta-feira por um júri do estado de Nova Iorque a pagar 1,68 mil milhões de dólares (1,52 mil milhões de euros) a 40 mulheres que o acusaram de agressão sexual, sequestro, coerção e abuso psicológico: 1,4 mil milhões de dólares em danos punitivos e 280 milhões em indemnização compensatória.
O veredito resulta de uma ação civil e não penal: todos as acusações já tinham prescrito.
Agora com 80 anos, o nomeado para os Óscares com o argumento de “Bugsy” (1991) e com trabalhos importantes pelos argumentos de "O Vício do Jogo" (1974) e "O Ás do Engate" (1987), dirigindo neste último Molly Ringwald e Robert Downey Jr., foi julgado após uma queixa movida em dezembro de 2022, no âmbito de um enquadramento legislativo especial em Nova Iorque intitulado ‘The Adult Survivors Act’ (Lei dos Sobreviventes Adultos, em tradução livre), que entre novembro de 2022 e novembro de 2023 permitiu a sobreviventes de abuso sexual apresentarem queixa independentemente de há quanto tempo o abuso ocorreu.
“Este veredito é sobre justiça. Mas, mais importante, trata-se de reconquistar o poder dos abusadores — e dos seus facilitadores — e devolvê-lo àqueles que ele tentou controlar e silenciar”, disse Brad Beckworth, advogado principal das queixosas.
E acrescentou: "Um júri da comunidade metropolitana de Nova Iorque falou com muita clareza e enviou uma mensagem que repercute muito além deste tribunal: ninguém está isento de responsabilidade. O movimento não acabou. Há mais trabalho a ser feito".
O escândalo começou em outubro de 2017, quando 38 mulheres acusaram o realizador e argumentista de encontros sexuais não consensuais, ocorridos ao longo de várias décadas, numa investigação do jornal Los Angeles Times.
Motivadas pelas denúncias contra o influente produtor de cinema Harvey Weinstein, acusado no início do mês noutras duas reportagens, muitas vítimas decidiram revelar as suas histórias, ignoradas pela indústria cinematográfica, incluindo recentes acusações de pedofilia.
Após a públicação da reportagem, o jornal informou que 395 mulheres entraram em contacto para revelar as suas experiências com Toback ao longo de 40 anos.
Segundo a publicação, Toback estava acostumado a "vaguear pelas ruas de Manhattan à procura de raparigas atraentes", a quem oferecia uma carreira no mundo do cinema, aproveitando-se das suas ligações.
Entre as 31 mulheres ouvidas pelo jornal que se identificaram estavam a guitarrista e vocalista da banda Veruca Salt, Louise Post, e a atriz Terri Conn, da telenovela “As the world turns”. Após a reportagem, a vencedora do Óscar Julianne Moore e a apresentadora do programa "Today Show" Natalie Morales revelaram nas redes sociais terem sido abordadas na década de 1980.
As reuniões, acordadas como entrevistas ou audições, levavam a conversa para temas desagradavelmente pessoais, com perguntas que iam desde masturbação até pelos púbicos, que terminavam com o cineasta a masturbar-se e ejaculando à frente de muitas delas.
Alegadamente, o realizador também pedia que as raparigas ficassem nuas para testar a sua espontaneidade diante das câmaras. Nenhuma denunciou os encontros à Polícia.
Em 2017, Toback negou as acusações, assegurando ao Times que nunca conheceu as mulheres e que, se isto ocorreu, "foi por cinco minutos e não se lembrava".
Acrescentou ainda que seria "biologicamente impossível" portar-se da forma que é descrito nos últimos 22 anos por causa de problemas de coração e diabetes que o obrigavam a tomar medicamentos.
O último filme de Toback foi "The Private Life of a Modern Woman", com Sienna Miller e Alec Baldwin, apresentado fora da competição no Festival de Veneza em setembro de 2017, semanas antes da reportagem que, na prática, colocou um ponto final na sua carreira.
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