Nicolas Bedos foi condenado esta terça-feira a um ano de prisão, incluindo seis meses de suspensão em liberdade condicional, e a obrigação de seguir um tratamento por agredir sexualmente duas mulheres em incidentes separados em 2023.
O popular ator e realizador francês de 44 anos, que esteve ausente durante as deliberações, foi absolvido “com o benefício da dúvida” de uma terceira acusação de assédio sexual que remontava a 2018.
A sua advogada anunciou que iria "apelar imediatamente contra este julgamento injusto".
O tribunal determinou que a pena de seis meses a que foi condenado fosse cumprida no domicílio, sob vigilância eletrónica. Também foi condenado a seis meses de prisão com pena suspensa condicional durante dois anos.
Os juízes impuseram ainda a obrigação de procurar tratamento psicológico e adictologia, a proibição de contacto com as duas vítimas e a sua inclusão num registo de autores de crimes sexuais ou violentos.
"Estou ao mesmo tempo atordoada e chocada com as deliberações que acabei de ouvir”, reagiu Julia Minkowski, a advogada do ator e realizador.
E acrescentou: “Esta condenação, esta severidade é completamente sem precedentes, injusta, totalmente inaceitável. Estamos numa sociedade onde somos condenados a usar uma pulseira eletrónica durante seis meses por um beijo no pescoço ou uma mão colocada numas calças jeans no meio de uma discoteca. Não há questões a colocar: apelaremos imediatamente contra este julgamento injusto sobre o qual apelo a todos que reflitam”.
Já o advogado das queixosas declarou que estar “satisfeito com uma decisão que, em princípio, faz avançar a luta contra a violência sexista e sexual” e que classificou ter "valor pedagógico".
No final das alegações a 26 de setembro, o Ministério Público solicitara uma pena de prisão suspensa de um ano, bem como a obrigação de procurar tratamento.
Artista provocador e comediante, Nicolas Bedos é autor de quatro filmes, três dos quais apresentados no Festival de Cannes.
Filmou a elite do cinema francês, de Jean Dujardin ("OSS117: Alerta Vermelho na África Negra", 2021) a Isabelle Adjani ("Mascarade", 2022), incluindo Daniel Auteuil, Guillaume Canet e Fanny Ardant, ainda em "Monsieur & Madame Adelman" (2017) e "A Belle Époque" (2019).
Durante o julgamento, negou ser “agressor sexual”, mas admitiu ter problemas com álcool e tornar-se "muito extrovertido" quando estava bêbado.
“Não me lembro de nada, é um apagão”, declarou o arguido em diversas ocasiões, ao mesmo tempo que negava veementemente ter-se envolvido em comportamentos inadequados.
Três casos
Um dos três casos data da noite de 1 para 2 de junho de 2023, durante uma noite numa discoteca em Paris. A queixosa acusa o realizador de ter caminhado na sua direção, de cabeça baixa, antes de estender a mão direita aos seus órgãos genitais, por cima das calças de ganga.
Durante a audiência, a queixosa muito emocionada descreveu a noite, com soluços na voz. “Vi quem era esse homem, os seus olhos assustaram-me”, explicou.
Duas outras mulheres testemunharam em tribunal sobre o comportamento do realizaram e apresentaram ações civis.
Uma delas, empregada num bar parisiense, disse ao tribunal que Nicolas Bedos a agarrou pela cintura e beijou o seu pescoço na noite de 11 para 12 de maio de 2023, enquanto estava alcoolizado.
O outro alegado ato, qualificado como assédio sexual, remonta a junho de 2018. O realizador era suspeito de ter tocado na barriga de uma jovem e de lhe ter pedido que o beijasse antes de a seguir enquanto ia à casa de banho, novamente em estado avançado de embriaguez.
Referindo-se a estes factos, a advogado de defesa pediu ao tribunal que não reconhecesse a agressão e o assédio. “Um beijo no pescoço é desagradável, mas não é agressão sexual”, declarou Julia Minkowski.
“Podemos estar enganados? Não, não há ambigüidade”, denunciou por sua vez o procurador, referindo-se ao “preocupante comportamento repetitivo”.
Os três casos encorajaram encorajou outras mulheres a apresentarem em 2023 acusações contra Bedos, que remontam à década de 1990.
A Procuradoria de Paris abriu uma investigação preliminar, arquivado-as posteriormente por prescrição.
Várias figuras do cinema francês foram alvo de acusações de violência sexual nos últimos meses.
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